O que se quer quando nada se quer?

A suposta liberdade de não querer nada

Jean Prestes
Onirika
4 min readOct 13, 2020

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Ondas oceânicas.

A Liberdade de não querer nada é o título de um vídeo de Mooji, um jamaicano que encontrou na Índia algum tipo de resposta definitiva para a pergunta “quem sou eu?”. A resposta é: consciência pura. Reconhecendo-se como isso, Mooji então está sempre completo e nunca precisa de nada, pois, repare, a consciência está em tudo, em todo lugar, sempre presente, e nenhum objeto pode ser percebido sem a consciência. Por mais que tudo em você esteja sempre mudando, as paisagens, o corpo, os pensamentos, a personalidade, tudo, a consciência está sempre presente sendo o palco e a matéria-prima de toda essa mudança. Talvez seja importante você parar um momento em silêncio para reconhecer o quê em você é responsável por perceber toda a experiência que existe, seja ela agradável ou não. Porque, quando a consciência se reconhece como consciência, não é mais necessária a identificação com um personagem que tem um nome e certas características de personalidade, uma história passada e projeções futuras. A Consciência é o palco do único mundo que existe, e o nome dele é: Agora.

Porém, várias perguntas surgem, porque a mente parece ser assim.

Labirintos ou Mandalas?

Sem pensar no futuro, como posso ter certeza que me alimentarei amanhã? Ou que trabalharei para o sistema capitalista hegemônico para ganhar dinheiro e poder comprar o ingresso para um cinema, ou uma passagem para a Índia ou o Marrocos. Se eu não me identifico mais com Jean e tudo o que ele representa, como responderei quando meu filho me chamar de pai? Se eu despenco no agora e me diluo na consciência que eu sou, será que não sendo mais Jean haverá alguém que cuidará das demandas do meu filho? Meu filho, meu filho, meu filho. Somos todos filhos de alguma obra misteriosa do cosmo, mesmo que seja o acaso. Somos todos supridos pela natureza em abundância, mesmo que seja através das mãos do avatar que está central na consciência, esse que cada um chama, erroneamente, de eu. Se tudo está certo e perfeito, quem resolverá os problemas do mundo? Há problemas no mundo? Sob a perspectiva de quem? Se o planeta nasceu para ser o que ele é, talvez não haja problema em ter tantos problemas, o universo é muito grande. Quem se questionará? Questionar é bom? Duvidar é bom? Para responder a isso parece ser necessário experimentar o modo de vida sem dúvidas e questionamentos. Experimentar viver como consciência pura. Mas e a coragem para isso?

Uma camiseta.

Parece ser a atitude mais simples possível, mas a mais difícil também, ao mesmo tempo. Porque, de repente, se a preocupação de ter que criar formas de ganhar dinheiro for completamente abandonada, sendo uma barreira a menos que me impeça de viver o agora — ou seja, simplesmente existir em paz — e se todas essas barreiras e preocupações forem abandonadas, eu posso perceber que não preciso de dinheiro para comer, que eu posso plantar. Ou eu posso simplesmente ter um insight que seria impossível de ter com tantas preocupações e esse insight guie minha vida de alguma forma, inclusive me trazendo retornos financeiros mais abundantes e harmônicos. O que pode acontecer? Isso só pode ser possível de saber fazendo. Mas a gente nunca abandona as preocupações por completo. A gente está demasiado apegado a elas. Mesmo quando a gente acha que larga as preocupações, numa sessão de Yoga ou sei lá eu, para se sentir “conectado ao agora” (como se alguma vez fosse possível não estar conectado ao único tempo que existe), a gente não larga elas para longe. Apenas bota no bolso. E assim que a sessão acaba a gente pega elas de volta, numa notificação do whatsapp ou algo assim. Às vezes tenho vontade de simplesmente desistir de tudo. Não um desistir de desespero ou depressão profunda. Não um desistir negativo. Um desistir construtivo. Um desistir de desapego. Um desistir de liberdade. A partir de agora não buscarei nada que não tenho e viverei em plenitude tudo o que eu tenho. E o que eu tenho? Um céu, uma terra, mar, montanhas, rios, ar, corpo, outros corpos que se tocam ao meu, sensações, estímulos, reflexões, aprendizados. Puta que o pariu, eu quero mais o quê? Que objeto pode valer mais que a consciência? Como o próprio Mooji já disse um dia: se você pudesse ter o tesouro mais valioso do planeta, aceitaria ele em troca da sua consciência? A consciência é o maior tesouro que existe. É o único tesouro que existe. Está sempre presente, é infinito, não tem tamanho, nem forma, nem cor. Não nasce, não morre. É a única presença imutável, palco de todas as manifestações mutáveis. Se eu sou algo, é isso que eu sou. Jean é só um nome. O resto são palavras. Que Deus me proporcione a riqueza de viver essa verdade e de largar de mim tudo o que me limita.

Amém.

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Jean Prestes
Onirika

Produzo conteúdo para humanos, não para algoritmos.