Pulso #11: o último pulso

Camila Farias
Oniversidade
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6 min readOct 17, 2017

Chegamos com muitas expectativas para o terceiro pulso do segundo ciclo, e também último encontro nesse formato para a turma dos Inversos. E o que tem sido essa jornada! Chegamos animados mesmo com a perspectiva de um sábado chuvoso, para o que seria um dia tão simbólico da nossa experiência na Multiversidade.

O dia começou com o nosso usual checkin, quando compartilhamos em roda como estamos chegando naquele dia. Essa atividade é importante para que possamos estar cientes do que cada um está trazendo para aquele dia. Ainda mais importante, é deixar claro que esse é um espaço em que tudo o que se carrega das outras dimensões da sua vida é levado em consideração para o aprendizado que está ocorrendo. Para isso, criamos um ambiente que seja seguro e onde não se tenha problema em ficar vulnerável. Por isso, na minha vez, decidi que o melhor seria falar a verdade sobre como eu chegava naquele dia: eu estava feliz, mas lá fora no resto da vida não estava sendo um período muito fácil e eu vinha fazendo meus malabarismos para não deixar a peteca cair.

Em seguida, tivemos a participação de uma das nossas mentoras, Gabi Picholari, que veio apresentar uma atividade de autocompaixão. A Gabi recentemente publicou um ebook sobre o tema, e é a segunda profissional a se especializar nesse tópico no Brasil.

Depois de uma massagem em dupla, listamos individualmente todas as autocríticas que fazemos a nós mesmos. Que difícil admitir todas essa coisas para o papel! Em seguida, devíamos visualizar a nós mesmos quando éramos crianças, e nos imaginar dizendo todas essas coisas para o pequenino na nossa frente. Difícil, hein? Mas bastante elucidativo para levantar a questão: por que fazemos isso conosco mesmos?

Depois de mais uma meditação, fizemos uma atividade de compartilhamento reflexivo. Esse é um fechamento que fazemos em muitas das nossas atividades, com a intenção de provocar uma reflexão que ajude a potencializar o aprendizado. Para a minha surpresa, veio um impulso de chorar quando comecei a falar na minha vez. A minha primeira reação foi tentar me acalmar, respirar fundo e ver se passava, mas as lágrimas já estavam lá. A Kat, com muito mais experiência nessa coisa de chorar em público, me avisou: “sério Cá, não segura que vai ser pior”.

Seguimos em frente, mas um pequeno conflito emergiu nesse momento: eu realmente não queria chorar na frente da turma, principalmente porque não queria que alguém achasse que eu não estava bem ou algo do tipo. E, como facilitadora, o que significava eu exibir essa vulnerabilidade na frente das pessoas que eu me propus a ajudar a guiar?

Eu nunca vou saber o que passou pela cabeça de cada um deles depois disso. Na Multiversidade, propomos um relacionamento livre de hierarquias entre aprendizes e facilitadores. Nós participamos das atividades junto com eles, e em geral aprendemos tanto quanto. Muitas vezes, eles ocupam o papel de ensinadores. Mas e o quanto é fácil realmente abrir mão desse papel de pessoa mais madura e confiante que está ali para mostrar o caminho e responder perguntas? Nas horas seguintes, enquanto fomos para o almoço, meu pensamento estava em Paulo Freire: o papel do professor não deve ser o de detentor do conhecimento, e no ambiente de aprendizado ambos, aluno e professor, aprenderão um com o outro. A jornada de cada um na busca do seu propósito e de uma vida mais feliz fazem parte intrinsecamente do que se aprende na Multiversidade; e eu posso dizer que continuo aprendendo intensamente nessa jornada, dos e com os aprendizes.

No almoço, alguns grupos se separaram, mas em grande parte fomos para a Galeria do Rock. O caminho até lá, passando por algumas ruas bastante marginalizadas do centro, também compõe a experiência que tem sido essa jornada: o olhar e o contato com um mundo diferente, porém sempre reconhecendo-o como humano.

Na volta, e com o tempo apertado por a atividade da manhã ter se alongado um pouco além do previsto, tínhamos um problema delicioso: muitas opções de atividades maravilhosas e pouco tempo para fazer tudo! A Kat tinha preparado um compartilhamento de várias coisas que ela vinha aprendendo, e tínhamos 2 convidados: a Eva, convidada da Dri Julião, que faz atividades com danças circulares; e o Ricardo, convidado da Sophi, que faz um trabalho com Yoga do Riso (!). Um detalhe é que nós tínhamos conhecido ele na semana anterior, em uma atividade de Eye Contact Experiment no Ibirapuera, que ele por acaso resolveu parar para ver: aproveitar qualquer oportunidade para aprender e ter novas experiências é outra característica importantíssima da nossa proposta na MV!

Decidir como usar seu tempo, individualmente ou coletivamente, também faz parte das habilidades de um aprendiz autodirigido! Depois de ouvirmos o que pensavam, e de a Eva nos oferecer uma dança circular mágica para nos trazer para um estados de mais paz e alegria, decidimos fazer a atividade da Kat e ver o que fazer com o tempo que restasse.

Que apresentação maravilhosa!!! Kat nos ajudou a viajar pela história do pensamento, nos levando a refletir sobre o que é o mundo visto pela física, pelo budismo e pela filosofia, com o objetivo de responder (?) uma pergunta singela: o que é consciência? Depois de nos explicar apaixonadamente as ideias das 3 linhas que tinha pesquisado, ela jogou a bola para a plateia e iniciou o debate sobre essa pergunta com uma dinâmica do tipo aquário. A galera, que no começo estava um pouco tímida de responder uma questão tão profunda, logo estava on fire e brigando por um espaço na discussão. O mais legal de tudo, foi ver a Kat divando nesse posto de articuladora da discussão!

Por fim, com um tempinho de sobra, perguntamos à Eva se ela toparia estar no nosso próximo pulso (e último transbordamento de 2017), para fechar nosso ciclo com um ritual de dança circular. Ela, que é fantástica e já estava envolvida na brincadeira, topou e continuou com a gente até o final.

O Ricardo então assumiu o comando com sua Yoga do Riso. Como explicar o que é isso? Acho que você devia certamente experimentar, hehehe. O princípio é que qualquer riso, mesmo que forçado, manda mensagens para o seu cérebro de que você está feliz, e então você começa a ficar feliz de verdade hahaha. Hahahahahha. Hahahahhahahahahahahaah…

Então, terminamos o dia rindo muito, muito mesmo. Felizes de estar vivendo isso tudo juntos. E de estar construindo o primeiro pilar de uma proposta de aprendizado que todo ser humano deveria ter a oportunidade de conhecer.

E, como esse é meu registro, quero complementar com algo que me marcou quando estávamos na saída, vendo se a chuva dava uma trégua para a gente ter coragem de ir embora: a Kat comentou que na hora da apresentação ficou nervosa de falar de física porque eu tinha ido para Stanford e estava ali na plateia. Mas ela foi em frente e dividiu o que tinha aprendido. Assim como eu fui em frente e chorei depois da sugestão dela. Terminei meu dia refletindo em como todas essas estruturas, diplomas, instituições, papel de aluno, papel de professor, só servem para nos distanciar e travar nosso crescimento. Da minha parte, posso dizer que tem sido um aprendizado maravilhoso o que essa turma me proporcionou ❤

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Camila Farias
Oniversidade

Engenheira da Computação, Mestre em educação por Stanford e sempre atrás de mais conhecimento. Atualmente curiosa sobre IA, Educação e o sentido da vida