5 perguntas para: DJ Bola

Empreendedor que tirou o Jardim Ângela da lista dos bairros mais violentos do mundo, conta quais são seus próximos objetivos.

Carla Furtado
átomo
4 min readFeb 13, 2017

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O tema do PlusPlus! de dezembro (cada mês conta com um tema e um convidado diferente) foi "paz", nossa eterna busca. Quem chamamos para guiar o papo foi o DJ Bola, empreendedor que foi um dos responsáveis em tirar o Jardim Ângela, bairro do extremo Sul da capital paulista, da lista dos bairros mais violentos do mundo. Ele é um dos fundadores d’A Banca, uma produtora musical, cultural e social que ocupa o espaço público abandonado, pelo governo e pela população, com alternativas culturais que tragam conhecimento e opções de lazer para os moradores do bairro.

Em sua palestra no PlusPlus!, ele contou a trajetória e conquistas do projeto (já promoveram mais de 70 eventos e alcançaram mais de 20 mil jovens da periferia, o que rendeu ao DJ Bola o prêmio Trip Transformadores). A Banca continua crescendo e ampliando seus horizontes. Abaixo o DJ Bola fala sobre o atual momento do projeto. Na sequência, você pode assistir ao vídeo completo da participação do empreendedor no PlusPlus! São Paulo.

DJ Bola durante sua participação no PlusPlus! São Paulo

1.Na sua experiência, qual a melhor forma para diminuir as barreiras de relacionamento entre as pessoas de realidades sociais opostas?

O melhor caminho é primeiramente cada um se olhar como pessoa, estar ciente de que exatamente igual a si não existe ninguém no mundo e que você pode se conectar com quem quiser. Independente da origem social e geográfica, ou da classe econômica, as pessoas podem se conectar. A barreira que vem separando as pessoas é invisível, foi criada por nós e por isso nós mesmos podemos derrubá-la. Então a melhor maneira é querer se conectar. Depois que se quer, a pessoa pode usar o que preferir: música, teatro, tecnologia, e diversas outras formas pra se conectar e cruzar as pontes da cidade com a sua raiz interna fortalecida.

2. Muita gente critica que fazer festas e usar o hip hop para impacto social não é educação, e sim lazer. Qual sua opinião?

É uma crítica de quem não tem conhecimento sobre a cultura hip hop, porque ela é sim educação, inclusive com conexões com o ensino tradicional escolar. O hip hop nasceu por uma questão de sobrevivência, através de pessoas que viviam em situações totalmente duras, e elas tiveram que estudar pra conseguir viver do hip hop. É um misto de educação, diversão, protesto, reivindicação e liberdade de expressão. Para esse tipo de crítica vale muito a pena orientar, para que as pessoas vão mais a fundo e entendam que hip hop é uma cultura que revolucionou o jeito das pessoas lidarem umas com as outras. E virou uma tecnologia social que ganhou escalabilidade naturalmente. Os grafittis que vemos quando andamos pela cidade de São Paulo fazem parte da cultura hip hop, as empresas estão contratando artistas de rap para fazerem músicas pras suas campanhas publicitárias... O hip hop tem o poder de estar na quebrada pra causar uma transformação social positiva mas também tem o poder de empreender e fazer negócio.

3. Quais são as principais conquistas d'A Banca e onde vocês ainda querem chegar com o projeto?

Nós queremos ser uma incubadora de negócios de impacto periféricos de referência mundial. Esse é o próximo passo que queremos dar: fomentar, empoderar, pesquisar e colaborar com negócios de impacto que são criados e desenvolvidos na quebrada. Sempre trazendo todas essas conexões e networkings de aceleradoras e empresas do lado de cá da ponte pra provocar os negócios da quebrada.

A principal conquista é a felicidade, a gente vive do nosso sonho, está feliz fazendo nossas coisas, podendo criar nossos filhos. Conseguimos criar uma organização que nos permite viver, diferente de grandes empresas multinacionais, a gente consegue fazer diferente. Eu consigo participar de todas as reuniões das escolas dos meus filhos, levar e buscar cada um todos os dias das escolas (são 3 filhos e cada um está em uma escola diferente, em horários diferentes). A principal conquista não é material, é espiritual, emotiva.

4.E para a sociedade? Qual é o legado que A Banca já deixou?

A gente vem sempre batendo na mesma tecla de que a quebrada não pode viver isolada da galera que não vive na quebrada. Fortalecer quem é da quebrada, se empoderar, romper suas bolhas, buscar outros caminhos pra ser feliz e conseguir conquistar seus objetivos. Nós somos uma das poucas organizações de quebrada que consegue esse deslocamento dos lugares mais chiques aos mais pobres. Queremos deixar claro que somos seres humanos independente de nossas origens. Algo tão óbvio mas que consegue passar despercebido. Acho que o maior legado é ser esse catalizador tanto fora da quebrada como dentro dela.

5.Na sua palestra, você falou muito de auto estima da quebrada. Ultimamente tem se falado bastante de empoderamento dessa galera. Você tem visto melhoras?

Tá melhorando sim, as pessoas estão cada vez mais se assumindo. Quem é homossexual está conseguindo ser publicamente e se posicionar. Os negros também estão tendo mais espaço para lutar contra o racismo, entre outros exemplos, da cultura em geral.

As coisas ruins que acontecem na quebrada, do meu ponto de vista, é algo muito pequeno. As coisas boas são muito maiores, e a quebrada está numa crescente. Eu vejo que hoje até as pessoas que não são da quebrada querem participar desse movimento. Ainda tem muita barreira, tem gente que acha que não, mas eu acho que toda essa onda de inovação social, negócios sociais, finanças sociais, por mais que ainda esteja muito distante de nós, tem feito diferença. Sinto que tem uma galera que antes não queria falar com a gente e hoje quer ouvir, conversar, propor parcerias. Eu acredito que é uma tendência, e que a juventude quer muito buscar um caminho diferente dos pais.

Assista aqui à palestra inteira do DJ Bola no PlusPlus! São Paulo:

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Carla Furtado
átomo

Insta: @carla__furtado | Olhar para dentro é o início da maior revolução. | Jornalista | Festival Path | O Panda Criativo