As curvas da mudança.

Emanuel Henrique Fonseca
OPANehtech
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5 min readApr 1, 2022

Nenhuma Transformação é linear! Muito menos uma Transformação Ágil.

Não demorei muito tempo para aprender isto. São mais de 10 anos trabalhando em ambientes imersos em transformação, sendo os últimos 6 anos, atuando diretamente com ela, promovendo-a.

Se você passa por Transformação Ágil em sua organização saiba, isso afetará suas emoções. Você se sentirá curioso, entediado, irritado, no controle, sobrecarregado, animado, aliviado, nervoso, etc. Tudo isto dependerá do quanto você pode controlar esta mudança.

Muitas pesquisas acadêmicas e psicológicas foram feitas sobre como as pessoas reagem às mudanças. Embora diferentes pesquisadores apresentem de maneiras diferentes, a maioria concorda que a mudança é uma curva!

Se fizermos um gráfico tendo o eixo vertical representando as emoções e o eixo horizontal representando o tempo, descobriremos que, à medida que qualquer mudança se desenrola, passamos por uma série de emoções positivas e negativas, que formam os altos e baixos na jornada da mudança.

Um modelo que ilustra isto muito bem é “O Processo de Transição de John Fisher”.

John Fisher, um conhecido psicólogo e especialista em liderança e processos de mudança nas organizações, desenvolveu em 2003 e atualizou em 2012, um diagrama que representa os vários estágios pelos quais cada um de nós transita motivado pela mudança.

Conheci este modelo em 2014 e desde então o utilizo para identificar aonde as pessoas impactadas pela transformação ágil estão. Inclusive, aonde eu estou!
E funciona porque transformação é transformação — e pessoas são pessoas — independente de qual segmento estejam.

No Processo de Transição de John Fisher, um bonequinho passa pelos altos e baixos da mudança, que podemos entender igualmente como os altos e baixos da Transformação Ágil. A curva o mostra aceitando o fato de que a transformação vai acontecer, lidando com o que essa transformação significa e gradualmente ganhando confiança no ‘novo mundo’.

Por que entender isto é relevante para quem lidera e vivencia uma Transformação Ágil?

Porque conhecendo e compreendendo os vários estágios, podemos ajudar uns aos outros a ultrapassa-los, para assim sairmos do processo bem alinhados com a nova visão da organização e confortáveis com as mudanças que foram postas em prática.

Vou descrever com um pouco mais de detalhes os principais estágios pelos quais passamos durante uma Transformação Ágil e as emoções que provavelmente sentiremos. Essas emoções entram em jogo e podem afetar a forma como indivíduos, equipes e toda a organização, lida com a transformação.

A velocidade com a qual transitamos de estado depende de cada pessoa e do seu processo mental de adaptação à mudança.

Mas então, quais são esses estágios ou fases de transição?

Ansiedade (anxiety) — aqui somos incapazes de visualizar o futuro com precisão, existe muita incerteza, não conseguimos antecipar o que é esperado de nós e como se devemos nos comportar na nova organização. A maneira como nos comportamos nesta fase dita a forma como iremos progredir no resto da curva de transição.

Felicidade (happiness) — No fundo acreditamos que algo irá mudar e ficamos animados com a possibilidade de nada ser como dantes. Independentemente da percepção do passado ser positiva ou negativa, existe um sentimento de expectativa de melhoramento. É importante gerirmos da melhor forma possível as expectativas, para que se mantenham reais. Aqui precisamos informar as pessoas, envolvê-las nas decisões e garantir comprometimento. Isto irá ajudá-las no processo de transição.

Medo (fear) — O simples fato de termos de começar a nos comportar de forma diferente perante as novas regras, causa um impacto na percepção que temos de nós mesmos e na forma como os outros nos observam. Medo e Ameaça são as 2 emoções que mais contribuem para o fator de Resistência à Mudança.

Raiva (anger) — Inicialmente a raiva é dirigida a quem força a transformação (sim agile coach, você é um dos alvos aqui), mas com o passar do tempo, a raiva é dirigida à própria pessoa por ter permitido que a transformação se instalasse.

Negação (denial) — Aqui começamos a agir como como se a mudança não tivesse ocorrido, ignoramos toda a evidência da mesma. Síndrome da Cabeça na Areia.

Ameaça (threat) — Nos sentimos inseguros e sem saber como agir/reagir. As regras antigas não se aplicam e as novas ainda não estão completamente estabelecidas.

Culpa (guilt) — As ações passadas são reconhecidas como inapropriadas causando a emoção de culpa à medida que vamos ganhando esta consciencialização. A Vergonha começa a tomar forma. O reconhecimento desta emoção é o primeiro passo para que se transite para o próximo estágio da curva.

Desilusão (disillusionment) — Percepção de que os nossos valores e objetivos pessoais são incompatíveis com os da organização. Ficamos desmotivados, perdemos o foco e gradualmente ficamos cada vez mais insatisfeitos. Mentalmente começamos a nos desligar da organização, trabalhando apenas em “serviços mínimos” e começamos a buscar novas oportunidades fora.

Depressão (depression) — O futuro é incerto e não sabemos como irmos nos encaixar no mesmo. Isto causa um sentimento de depressão e angústia.

Hostilidade (hostility) — Os novos processos são ignorados ou boicotados.

Aceitação Gradual (gradual acceptance) — A mudança começa a fazer sentido. Nos sentimos que estamos fazendo o que é certo. Sentimento da Luz no Fim do Túnel.

Seguir em frente (moving foward) — Inicio do sentimento de conforto e de que a mudança está em linha com as nossas convicções e crenças.

Complacência (complacency) — Sobrevivemos à mudança e nos adaptamos a uma nova realidade. Voltamos à nossa Zona de Conforto.

Como acontece com qualquer transformação, não há limites claros para qualquer um dessas estágios. Além disso, como cada pessoa experimentará a transição pela curva em velocidades diferentes, o objetivo aqui não é coloca-las no mesmo momento, mas mais saber como ajuda-las de forma mais efetiva considerando o momento que ela está.

Espero ter pelo menos despertado o interesse de vocês para pesquisarem mais sobre o tema.

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Emanuel Henrique Fonseca
OPANehtech

Dizem que sou especialista em Transformação Ágil, mas meu negócio mesmo é Educação! Embaixador do Lifelong Learning e do Learnability.