Imagem de pílulas de remédio
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“MVPismo” quando o remédio vira o veneno?

Rômulo Azevedo
OPANehtech
Published in
6 min readDec 22, 2021

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Antes de iniciarmos, gostaria de ressaltar que minha pretensão aqui é somente trazer uma reflexão, sendo que de forma alguma quero parecer mais conhecedor que qualquer um, dito isso, caso queira citar outros textos ou discordar de algo dito aqui por favor use os comentários, isso irá enriquecer este conteúdo inicial.

Com o disclaimer finalizado, vamos à nossa reflexão.

A doença

Houve um tempo em que grande parte das companhias no mercado tinham um olhar bastante interiorizado na busca de sua evolução, contando muitas vezes com o direcionamento de um grande líder visionário, guiando sua equipe de produtos para aonde focar seus esforços.

O plano tático e estratégias de evolução eram muito baseados em benchmarks, estudos acadêmicos e de mercado; exigindo que os profissionais de uma determinada área fossem especialistas em seus mercados e fizessem parte de um grupo de pessoas com network suficiente para poder trocar informações para seus benchmarks, daí associações, confederações, convenções e outros eventos tinham grande importância não só na construção de uma rede de contatos, mas também para se ter uma visão maior do mercado como um todo, criando uma elite entre os profissionais da área.

Nesta época o principal "stakeholder" na criação de um produto, o Cliente, não era incluído.

Pesquisas com clientes aconteciam somente na etapa de construção do plano de comunicação e lançamento dos produtos.

Isso fazia com que a inovação se desse muito de dentro para fora, fazendo com que o clientes precisassem se adequar a requisitos dos produtos desenvolvidos, criando barreiras sociais, de usabilidade, de acesso e outras mais.

Imagem de dois médicos analisando exames do cérebro de um paciente.
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O Diagnótico

Esse fato resultava em pouca inovação direcionada aos clientes e produtos caros para serem produzidos, muitas vezes sem ao menos saber exatamente o tamanho da aderência do público em relação ao produto.

Era preciso encontrar uma forma de construir produtos que suprissem as necessidades do cliente e ao mesmo tempo fosse possível validar as hipóteses criadas.

Criando um remédio

Para a solução desse problema uma gama de novos pensamentos vieram como resposta: o design centrado no usuário, a metodologia ágil, a implementação de entregáveis baseadas em entrega de valor para ficar somente nos que me vem a mente agora.

Todo esse arcabouço de novas ferramentas, muitas delas oriundas do vale do silício, ajudaram a acelerar a inovação de novos produtos, criando um novo status quo para a criação de produtos inovadores, desta vez orientados ao cliente. Claro que ainda há excessões onde o método cascata de desenvolvimento de produtos ainda se fazem presentes e necessários. Porém hoje em dia, cada vez mais, ouvimos falar de empresas centradas no usuário e não somente processos de criação de produtos centrados nos usuários.

Junto com visão de entrega de valor veio também o pensamento lean que adicionou outro tempero: o MVP (sigla em inglês para Mínimo Produto Viável), agora estávamos com todo pensamento orientado em nossos usuários, com visão de entrega de valor e respondendo cada vez mais rápido às necessidades dos clientes.

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O Veneno

Estava sendo construída uma nova era onde os MVPs geravam valor ao cliente no menor tempo e custo possível, e ainda por cima ajudava a equipes de estratégia a definir os próximos passos, mas aos poucos esses conceitos foram se misturando com a forma antiga de se evoluir produtos, afinal em parte do mercado ainda resiste o pensamento orientado às entregas de escopo definido.

Um termo muito comum de se ouvir hoje em dia é o "cascatágil" que significa continuar a fazer projetos com escopo definido dividido em sprints (períodos determinados para conclusão de uma tarefa), que serão desenvolvidos por equipes multidisciplinares (squads). Quem já viu algo assim acontecer ao seu redor levanta a mão.

Com isso squads acabam por perder sua autonomia (em alguns lugares nem chegaram a ter) e ficam buscando sempre prazos para entrega de um MPV já sabendo que depois dele virá outro MVP, acreditando que a entrega de valor seja simplesmente entregas de novas funcionalidades, sem saber ao certo se isto seria o melhor para evolução do produto no momento.

Podemos chamar isso de evolução ou inflação de um produto? Trazendo cada vez mais complexidade e perda de foco para os usuários que se perdem em suas tarefas.

Muitas vezes me pego a pensar se para algumas pessoas a metodologia ágil significa fazer entregas mais rapidamente possível, ao invés de responder rapidamente ao mercado.

Como dosar?

Acredito que parte da resposta se encontra no último parágrafo da sessão anterior. Responder rapidamente ao mercado exige um profundo conhecimento sobre o cliente e as consequências de como cada entrega afeta o cenário.

Pesquisas recorrentes com usuário são uma importante ferramenta de conhecimento do cenário. Levando em consideração o design centrado no usuário, onde o roadmap de entrega de valor é baseado nas dores atuais dos clientes, o ideal seria que a cada entrega fizéssemos um novo diagnóstico, para entender se a principal dor foi sanada dando lugar a outra ou não.

O correto é sempre buscar resolver (se possível) a dor número 1, maximizando a entrega de valor ao cliente.

Porém é preciso compreender que isso traz um cenário de incertezas, o que pode trazer bastante dor a alguns stakeholders de negócio, acostumados a terem controle de prazos e volume de entregas. Para isto é imprescindível que os OKRs (sigla em inglês para Objeto e Resultados Chaves) direcionem o time em suas decisões, permitindo que a escolha de histórias de cada sprint sejam baseadas nos resultados e não atrelando ao volume ou a entrega de uma funcionalidade específica.

Entender o contexto em que seu cliente e produto estão inseridos poderão te dar a medida certa do quanto caminhar em relação a entrega ideal de cada sprint, ao invés de simplesmente definir um prazo de 2 semanas para conclusão de um ciclo.

Esse tipo de pensamento pode abrir portas inclusive para outros conceitos, você já ouviu falar em MLP (sigla em inglês para Mínimo Produto Adorável)?

Mais recomendados para os casos onde já existem competidores no mercado, e já é possível entender através de pesquisa a propensão dos usuários para utilização daquele produto, inclusive quais são as principais dores dos produtos atuais, com um MLP podemos criar uma estratégia de entrega buscando ter vantagens competitivas em relação ao atuais competidores.

Por fim…

Imagino que essas são só algumas ferramentas que posso listar, mas a todas elas falam sobre sempre ter foco no cliente, olhar para ele de forma a entender suas motivações e forma de pensar, conecte isso a todos os envolvidos no projeto e ficará mais fácil de se decidir em relação a caminhar para frente em relação a desenvolver novas funcionalidades ou evoluir as features já existentes.

A ideia de escrever sobre isso veio depois de observar, em diversos times, esse comportamento de sempre buscar MVPs e nunca voltar para evoluí-los, mas este é somente o começo da discussão, deixe seu comentário e até a próxima postagem!

Imagem de destaque com pílulas caindo em uma superfície
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