O que eu aprendi liderando times de banco de dados.

Edilson Albuquerque
OPANehtech
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5 min readOct 27, 2021

Quem nunca ouviu a frase: “chama o DBA porque o banco está lento”, e de verdade, ela deve ser proferida milhares de vezes por dia em todo o mundo, nos war-rooms e análises de incidentes por aí… Mas será que o problema é no banco mesmo?

O que aprendi ao longo do tempo nessa carreira, é que independentemente de onde seja a origem, os sistemas invariavelmente passarão por um banco de dados, independente da tecnologia adotada (SQL, NoSql… e toda a infinidade de sabores que a evolução tem nos proporcionado). Mas o que é comum em todos os cenários, é que nesse mundo nada é constante, o dado muda, a aplicação muda, o perfil do usuário muda. Isso exige que cada vez mais sejamos capazes de fazer as perguntas corretas quando avaliamos um ambiente ou um problema especificamente, sem julgamentos, sem críticas, apenas análise fria dos dados, estatísticas e histórico para entender as mudanças de comportamento daquele caso.

Gerir equipes de banco de dados é sobretudo gerir pessoas, expectativas, e ser meio facilitador para que o conhecimento técnico especializado foque 100% na solução e 0% no julgamento. É ser realmente parceiro das áreas de desenvolvimento, e funcionar como um motor para disseminar conhecimento, e escalar soluções de qualidade. Nenhum time de banco de dados de alta performance, conseguiu revolucionar nenhuma solução sem uma parceria verdadeira e duradoura com as áreas de desenvolvimento, porque via de regra, até podemos fazer algumas mudanças estruturais em SGBD, escalar recurso, indexar… mas senão trabalhamos juntos (modelo, infra SGBD e código) dificilmente conseguiremos resultados escaláveis e duradouros.

Sabendo que isso é uma jornada de time, ao chegar em um novo ambiente, um novo desafio, existem alguns passos que invariavelmente todos teremos que passar:

1. Saia das crises intermináveis

Escolha suas batalhas. Ninguém consegue montar (ou manter) um time de alta performance que só vive imerso em crises infindáveis, mesmo os profissionais mais resilientes, uma hora se cansam de só “quebrar pedra”. Priorize sob a ótica de negócio, destaque verdadeiramente as melhores pessoas para atuar, busque as causas raízes e tenha coragem de ter as conversas difíceis, porque normalmente se a crise dura muito tempo, provavelmente não é simples ou com pouco esforço que você sairá dela.

Crie um plano de ação tangível, exequível, com entregas curtas e com resultados mensuráveis (nessas horas o ágil nunca foi tão bem-vindo), não dá para sair executando ações sem expectativa e medição de resultado capturado, a captura dos resultados dessas pequenas entregas ajudará a mostrar se estamos ou não no caminho certo, e consequentemente possibilitando ajustes de curso.

Admita que durante esse período alguns “pratinhos” menos importantes cairão, ou minimamente deixarão de ser atendidos no tempo costumeiro (cada escolha uma renúncia). Aqui é muito importante o alinhamento com stakeholders, pares e parceiros. Lembra aquela parte que ninguém muda nada sozinho?

A saída da crise é diferente de reformatar toda a solução, mudar arquitetura, recriar tudo, etc. Sair da crise é estabilizar o ambiente, acabar com as indisponibilidades e ter o mínimo de capacidade para absorver a sazonalidade do negócio.

2. Atue na fundação da sua disciplina

Conheça todas as entregas da sua área, trabalho rotineiro, tipo de serviço que presta para áreas pares e parceiras, faça um assessment do seu ambiente.

É muito comum encontrar em ambientes problemas com rotinas administrativas de banco de dados, desde falta de padrão com modalidades de backup, avaliação de capacidade e até mesmo ausência ou insuficiência de planos de manutenção (índices, estatísticas…etc). Pense de maneira sistêmica, e comece a inventariar as diferentes necessidades que seu ambiente possa ter, e quais rotinas e inteligências precisam ser desenvolvidas para que essas necessidades sejam atendidas, e como essas rotinas poderiam se moldar automaticamente a necessidades futuras.

Muitos problemas de performance comum em ambiente de banco de dados ocorrem ou se agravam, por falta ou ineficiência dos planos de manutenção, assertividade nessa tarefa, pode aliviar bem a pressão do dia a dia.

3. Conheça, ouça e ajude seu time

Escute seu time! Esse pessoal é quem de verdade conhece os problemas do dia a dia. Escutar e apoiar não é dar parabéns, tapinha nas costas ou ser gente boa, é de verdade entender quais são as carências, quais skills precisam ser desenvolvidos, criar meios na área ou fora dela para que as pessoas possam se desenvolver, desafiar as pessoas a fazer o que eventualmente nunca fizeram, criar um ambiente seguro para que todos possam compartilhar as dificuldades, acolher quando algo der errado, pois o erro é parte do processo, e junto com o time planejar os próximos passos sob todos aspectos, inclusive e principalmente o desenvolvimento do próprio time.

4. Invista fortemente em automação e autosserviço

Ninguém merece fazer um trabalho que poderia ser automatizado, e mais ainda, ninguém merece ficar aguardando o SLA de um serviço seu que poderia estar disponível prontamente o tempo todo. No SRE a turma chama isso de ToilFree, mas na prática é eliminar toda a energia que seu time emprega em uma atividade rotineira, que em sua execução não agrega valor ao produto ou ao negócio para o qual ela serve. Esse tipo de atividade além de não agregar valor ao produto ou ao negócio diretamente, ela ainda mina o seu time, pois acredite, seu time não gosta de “rodar esse pratinho”, também faz com que você desperdice um tempo precioso do seu time que poderia ser empregado no desenvolvimento dele, ou em alguma atividade que pudesse estar alavancando estabilidade, performance ou um produto novo da sua empresa.

5. Se abra para o novo, o mundo que o trouxe aqui não o levará ao futuro

A evolução da tecnologia é uma dádiva, aproveite esse momento, se abra as novas possibilidades, existe uma infinidade de produtos e serviços a nossa disposição que ainda nem fazemos ideia da existência, até porque enquanto você lia esse artigo, alguém em algum lugar do planeta está publicando a solução de um problema que você ainda nem pensou a respeito, portanto estude sempre, seja inquieto, questione sempre e tenha a coragem de abandonar as “verdades absolutas” que em algum momento foi tão vencedora na sua vida profissional, pois a verdade de ontem é o obsoleto de hoje quando o assunto é tecnologia.

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Edilson Albuquerque
OPANehtech

Mais de 20 anos dedicados a fazer da tecnologia uma alavanca para os negócios e satisfação dos clientes. Apenas mais um apaixonado por tecnologia.