Sou DEV e virei Tech Lead. E agora, o que devo fazer?

José Borges
OPANehtech
Published in
4 min readDec 1, 2022

Ser Tech Lead, ou líder técnico, na carreira de desenvolvimento de software é desempenhar um papel no qual você passa a ter algumas responsabilidades de liderança, mas precisa continuar sendo uma referência técnica para auxiliar os demais desenvolvedores da equipe e construir soluções técnicas eficazes.

Encontrar um ponto de equilíbrio entre estas responsabilidades inicialmente distintas é um grande desafio que se torna ainda maior no período de transição por um profissional que antes desempenhava o papel de Desenvolvedor Sênior e que tem a sua produtividade medida diretamente proporcional às suas habilidades técnicas e as tarefas de codificação em que atuou (ainda que já ocorra nesta fase uma grande colaboração com os demais DEVs).

Trazendo um pouco do meu histórico, acabei fazendo essa transição de maneira gradual e natural, mas não necessariamente da melhor forma. Como muitos, fui recebendo atribuições típicas de um Tech Lead enquanto ainda era cobrado ao mesmo tempo como DEV e mesmo depois não sendo mais exigido que realizasse codificação diretamente, me incomodava não estar concluindo estas tarefas na mesma proporção do restante da equipe. Tal situação não melhorou quando mudei de empresa e passei a ter oficialmente o cargo para este papel, mas em uma squad que trabalhava em uma arquitetura já pré-existente envolvendo tecnologias que eu não dominava: COBOL e Informatica Power Center.

Apesar de me questionar por muitas vezes se estava no cargo adequado, ao final da minha passagem nesta empresa, eu sabia como a aplicação no mainframe se comportava “por alto” e como ela se integrava com as aplicações em Java, ainda que não saiba programar uma linha nessa linguagem. Aprendi também entrar na interface do Power Center Designer e nela entender as transformações que os mapas estavam fazendo. Desta forma, consegui ajudar aquela equipe de desenvolvimento multidisciplinar em como as tecnologias poderiam se somar para um produto melhor.

Ao entrar no Banco PAN em abril de 2021, também precisei me reciclar com relação ao desenvolvimento na nuvem AWS, assim como em arquitetura de aplicações distribuídas. Desafios como estes serão constantes (assim como também é para todos os DEVs), pois a tecnologia evolui muito rapidamente, mas sou consciente do meu papel e mais “tranquilo” em aceitar que terão outros DEVs mais produtivos em termos de codificação propriamente dita na equipe. Meu desafio é aprender as mesmas tecnologias, mas com um viés mais estratégico, conhecendo-as com a intenção principalmente de aplicá-las em soluções arquiteturais ao invés de conhecê-las no “byte”.

Acredito que as seguintes soft skills são as principais (mas não únicas) para o desempenho de um bom papel de liderança técnica:

- Colaboração: estar disposto a disseminar conhecimento e dedicar tempo ajudando a equipe nos problemas que ela se depara, mesmo que isso possa trazer a sensação de atraso nas suas próprias tarefas;

- Organização: equilibrar várias atividades, desde a montagem de soluções técnicas, gestão de backlog de débitos técnicos, acompanhamento do andamento da sprint e alinhamentos com outros pares e áreas;

- Proatividade: se antecipar a problemas e saber priorizar as correções deles da forma mais adequada ao backlog da equipe;

- Comunicação: entender e se fazer entender principalmente quando envolver pessoas com outras expertises ou de outras áreas.

Uma questão crucial para um bom desempenho do papel de Tech Lead é a gestão do tempo. Não existe consenso sobre o Tech Lead participar ou não do capacity do time e “queimar” tasks de codificação, mas é de comum senso esperar que ele não comprometa a maior parte do seu tempo codificando, dado que a equipe precisará de alguém para tirar uma eventual dúvida mais complexa, para refinar tecnicamente as próximas atividades, para desenvolver POCs e para realizar alinhamento com os demais envolvidos no projeto, como, por exemplo, o PO e o agilista.

Ainda em linha com a gestão de tempo, torna-se imprescindível que o líder técnico desenvolva a capacidade de delegar as tarefas para os demais DEVs, assim como aprender a acompanhar as tarefas mais complexas sem de fato colocar a “mão na massa”. A maioria dos líderes técnicos estavam acostumado, enquanto DEV Sr, a pegar para si as atividades de codificação mais críticas e/ou difíceis da Sprint e resolvê-las. Já no papel de Tech Lead, há uma boa chance de virar o gargalo da equipe se não conseguir delegar essas tarefas, pois elas fatalmente concorrerão com as outras responsabilidades.

Por fim, não existe uma receita de bolo para divisão de tempo que o líder técnico deve se dedicar a cada tipo de atividade. Para auxiliar nos desafios desta transição, deve ser realizado constantes alinhamentos e troca de feedbacks com os gestores e a equipe para que as expectativas de todos sejam cumpridas.

--

--