Revelando o panorama global da Open GLAM
Quantas instituições de patrimônio cultural disponibilizam gratuitamente suas coleções para serem reutilizadas? Como fazem isso, e onde o acesso aberto é predominante? Há doze meses, eu e Andrea Wallace saímos em busca de algumas respostas.
No primeiro artigo de uma breve série, eu reconto as origens e motivações da pesquisa Open GLAM.
Por mais de uma década, o movimento Open GLAM (Galeria, Biblioteca, Arquivo e Museu) tem defendido a causa do acesso aberto ao patrimônio cultural salvaguardado em instituições de memória, para promover a troca de ideias e possibilitar a equidade do conhecimento.
O acesso aberto tem sido adotado por um número crescente de museus e bibliotecas ao redor do mundo, da Nova Zelândia à Noruega. Então, qual é o panorama global?
Uma lacuna de informação
No início de 2018, à despeito da abundante bibliografia científica sobre Open GLAM, não havia um recurso sequer que disponibilizasse um panorama atualizado das políticas e práticas de acesso aberto.
Impelido à ação por uma conversa no Twitter com Simon Tanner e outros, Andrea e eu começamos a imaginar como a lista se pareceria. Para nós, parecia óbvio que um recurso compartilhado para visualizar, adicionar e atualizar informações relevantes seria valioso para pesquisadores, formuladores de políticas públicas e profissionais de patrimônio cultural.
Assim como havia uma lacuna de informação, parecia haver também um viés implícito na Open GLAM em favor de grandes instituições europeias e norteamericanas: o Rijksmuseum, a National Gallery of Art, a British Library etc. Mesmo injusta, essa percepção aumenta o risco de que acesso aberto seja visto como algo “somente para os grandes museus dos países desenvolvidos” e considerado menos relevante ou acessível para pequenas instituições.
Motivado a revelar o real panorama global da Open GLAM, Andrea e eu decidimos elaborar uma pesquisa.
Tudo começou com uma planilha
Para começar, fizemos uma simples planilha Google listando informações básicas, como o nome da instituição, país e que tipo de licença aberta a instituição estava usando. Com o apoio de colegas como David Haskiya e Sarah Powell, em pouco tempo listamos mais ou menos 40 instituições.
Muitas vezes não há consenso quanto ao significado exato de “aberto”; frequentemente é auto-definido e bastante obscuro. A definição de “aberto” empregada na pesquisa segue a Definição de Aberto da Fundação Open Knowledge International e a gama de instrumentos jurídicos que o compõe. Também considera os dados publicados sob a declaração de Copyright Desconhecido, desenvolvido por https://rightsstatements.org, e o Flickr Commons “sem restrições conhecidas de copyright”, (apesar dos autores da pesquisa reconhecerem a obscuridade do último).
“Aberto significa que qualquer pessoa pode acessar, usar, modificar e compartilhar livremente para qualquer fim”. A Definição de Aberto
Licenças com restrições de uso não-comercial e/ou seus derivados não são elegíveis para inclusão nesta pesquisa. (Material com copyright está, naturalmente, fora do escopo)
O escopo da pesquisa
O foco principal da pesquisa é a reprodução digital de objetos de domínio público, onde as condições de copyright para o material já tenham expirado ou nunca tenham existido. A pesquisa cobre objetos e dados que os GLAM disponibilizam em seus próprios websites e plataformas externas, como Wikimedia Commons, Europeana, German Digital Library e Github.
Castanha → carvalho
De posse de uma estrutura clara, do escopo da pesquisa e da Definição de Aberto, Andrea e eu aceleramos nosso alcance na comunidade global de GLAM, predominantemente via Twitter (comprovadamente uma excelente ferramenta de crowdsourcing).
A resposta positiva à pesquisa nos encorajou a seguir em frente. Contribuições úteis via Twitter, emails e comentários diretos na planilha possibilitam que a pesquisa seja atualizada regularmente com novas instituições e informações.
Nós também aproveitamos os recursos e comunidades on-line como Flickr Commons e Coding Da Vinci. Consultas aos dados da Europeana usando seus APIs (obrigado, Jolan Wuyts) revelaram muitas ocorrências de acesso aberto em escalas menores, mas não menos valiosas.
Desde a fase de prototipação da pesquisa, nós aumentamos sua sofisticação, adicionando links diretos para fontes de dados, APIs e repositórios do Github. Listamos itens da Wikidata para cada instituição, quando disponível.
Um ano após iniciarmos a pesquisa, mais de 550 instituições em todo o mundo estão listadas, englobando vários continentes, muitos idiomas e uma ampla tipologia de instituições. O verdadeiro panorama global da Open GLAM começa a aparecer.
Explore a pesquisa da Open GLAM
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Esta é a próxima história desta breve série:
Se você tem alguma pergunta sobre a pesquisa, por favor comente aqui ou entre em contato comigo ou com Andrea no Twitter.
Publicado originalmente em inglês em https://medium.com em 4 de abril de 2019. Este artigo foi atualizado em 30 de maio de 2019 para esclarecer a definição de acesso aberto utilizada na pesquisa. Este artigo foi traduzido por Leticia Fernandes e está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0).