OPEN SOURCE [na sala dos ‘profes’] #02

Cynthia Hansen
OPEN SOURCE [na sala dos profes]
7 min readMar 22, 2019

Hmmm… será que a ‘coisa’ está funcionando?

Esta semana eu tive uma experiência maravilhosa… Depois de muito tempo pensando em o que e como fazer para trazer para meus colegas um pouco do que aprendi nas minhas certificações docentes com as professoras maravilhosas da Tampere University (Finlândia), mediei o primeiro encontro de um círculo de estudos sobre Alinhamento Construtivo (AC) com alguns colegas de curso da Faculdade SOCIESC de Blumenau.

A ideia é discutirmos todos os 14 capítulos do livro do John Biggs e da Catherine Tang que trata do AC — publicado pela primeira vez em 1991, e até hoje sem tradução no Brasil — cujo nome é ‘ Ensino para uma aprendizagem de qualidade da Universidade’ (tradução livre). Vamos discutir dois capítulos por vez, em um encontro presencial mensal de duas horas. Foi por conta deste círculo de estudos que decidi criar, aqui na OpenSource, a série especial sobre Alinhamento Construtivo (AC) :)

Da nossa discussão, que foi excelente (obrigada, Gisele, Marta e Samir, por tanta troca a cumplicidade!), um dos pontos que me chamou a atenção por conta de ser uma dor comum é a dúvida que todos nós identificamos em relação ao atingimento de resultados de aprendizagem. Planejamos as aulas, pensamos no que queremos que nossos pimpolhos aprendam, aplicamos, acompanhamos, avaliamos, mas, ainda assim, fica aquela pulguinha atrás da orelha: será que eles entenderam mesmo? Será que ‘incorporaram’ as noções, teorias, técnicas, fórmulas, procedimentos, lógicas ou seja lá o que for?

Essa avaliação formativa é sempre dureza, né? Como dar objetividade para questões subjetivas? Baita dilema… Mas sempre dá para a gente extrair alguns insights a respeito da repercussão do nosso trabalho pelo comportamento e até mesmo pelos comentários dos alunos. Além disso, também dá para aplicar umas ferramentas simples, mas que são bem legais para extrair este tipo de informação. Vou compartilhar duas que eu uso e gosto muito :)

1) Que bom / Que pena / Que tal — foco no processo

Tão simples e tão genial! Conheci esta técnica com a galera maravilhosa do TEDxBlumenau, grupo do qual eu tive o prazer de fazer parte como voluntária por dois anos, colaborando na organização dos eventos na minha (querida) cidade natal #TEDxerAndProud ❤

Costumo usar o ‘que bom / que pena / que tal’ quando faço alguma dinâmica mais complexa ou nova para mim (quem não arrisca, não petisca!), para levantar a percepção de uma turma nova (especialmente ingressantes) sobre as dinâmicas de aula que proponho ou para, ao final de uma disciplina, ter uma percepção geral da turma a respeito do processo desenvolvido no decorrer do semestre.

Simplesmente, peça para que cada pessoa, pensando a respeito da(s) atividade(s) realizada(s), complete as frases quantas vezes quiser:

Que bom que … (como você já pode imaginar, aqui descobrimos aspectos positivos)

Que pena que … (aqui descobrimos aspectos negativos sobre o processo)

Que tal se … (aqui recebemos ideias de melhorias)

Já fiz isso pedindo que anotassem as respostas numa folha, já fiz isso via formulário de pesquisa do Google, já fiz anonimamente e já fiz com identidades declaradas. Em todas elas, sempre recebi informações super úteis para refletir e aprimorar meus processos, além de insights a respeito da percepção dos alunos sobre seu próprio aprendizado.

2) KWL (Know / Want to know / Learned — sei / quero saber / aprendi) — foco no aprendizado

Este é mais complexo, precisa de um momento adequado para ser realizado e demora um pouco mais para finalizar, mas acho super legal.

Costumo fazer para alinhar as expectativas de todos a respeito das minhas disciplinas mais práticas, como Planejamento de Comunicação, no primeiro encontro, quando vou apresentar o Plano de Ensino e o Cronograma de Avaliações. Começo perguntando o que eles sabem a respeito do assunto de que trata a disciplina (o que é, que tipo de habilidades demanda etc.) e vou anotando as respostas resumidamente em uma parte do quadro.

Na sequência, pergunto o que eles gostariam de aprender na disciplina e faço o mesmo procedimento.

O próximo passo é apresentar o Plano de Ensino, aproveitando para mostrar o quanto eles já sabem sobre o assunto e o quanto estão equivocados sobre alguns aspectos (com base no que foi anotado na parte do ‘sei’) e que expectativas a disciplina será capaz de atender e que expectativas ela não será (com base no que foi anotado em ‘quero saber’).

Nesta hora é importante apontar outras disciplinas do curso capazes de suprir as expectativas que não serão atendidas ali ou, quando é uma expectativa bem fora da alçada mesmo, dar dicas de como a pessoa interessada pode obter conhecimento sobre aquele assunto.

E agora você deve estar se perguntando: tá, e o APRENDI ( Learned)?

Depois de dar um panorama geral de todas as atividades a serem realizadas no decorrer da disciplina, justificando a razão de ser de cada uma e explicando como serão avaliadas, peço que cada um tire uma folha e, olhando para as anotações no quadro (sei / quero saber) e pensando em toda a explicação que eu dei sobre a disciplina, sua finalidade, processos de ensino-aprendizagem e critérios de avaliação envolvidos, respondam: ‘O que eu aprendi sobre Planejamento de Comunicação hoje?’

Feita desta forma, esta dinâmica colabora para o alinhamento de expectativas a respeito da disciplina (do que ela trata realmente, o que se vai aprender por meio dela) e também para trazer insights sobre a percepção do aluno a respeito da disciplina antes e depois da apresentação do plano e sobre o que ele foi capaz de incorporar ao seu repertório a respeito da questão (pois a pergunta final obriga o aluno a analisar suas ‘impressões iniciais e/ou senso comum’, relacioná-los com a realidade da disciplina e gerar uma reflexão).

Ah! Lembre de tirar uma foto de tudo o que você anotou no quadro e de recolher as folhas com ‘o que eu aprendi’ para poder fazer a análise da repercussão depois! Mas também dá, se houver tempo, para pedir para as pessoas socializarem inclusive esta última parte. Se você fizer isso, terá a oportunidade de corrigir equívocos e tirar dúvidas residuais.

Outra ocasião em que eu gosto de usar o KWL é no início da primeira unidade de ensino da disciplina quando ela tem um caráter introdutório, conceituando um monte de termos que todo mundo fala, mas ninguém sabe explicar direito o que é, coisa que acontece especialmente nas minhas disciplinas mais teóricas, como Teorias da Comunicação.

Escolho alguns termos-chave relacionados à disciplina (por exemplo, mídia, comunicação social, massa) e que pretendo trabalhar de alguma forma na aula (nestes casos, geralmente num estudo dirigido de texto — roteiro de perguntas que ajuda a identificar os pontos mais relevantes do texto para a disciplina). Peço para eles escreverem, numa folha nominada, o que eles sabem a respeito de cada termo (se forem vários, uma folha para cada termo, senão poder ficar uma bagunça! — cuide para não exagerar!). Depois, o que eles gostariam de saber a respeito (lembre de instruir os alunos a separar a folha em três colunas para organizar melhor as informações).

Na sequência, faço o procedimento de socializar o que eles anotaram, registrando no quadro o que eles sabem e o que querem saber a respeito destes termos, e uso as informações para criar curiosidade a respeito da atividade que vamos realizar. O que o estudo do texto vai eliminar de equívocos (a respeito do que ‘sabem’) e o que vai trazer de conhecimentos (que ‘querem saber’) e o que mais for pertinente comentar. Só então apresento o texto e convido para a realização do estudo dirigido (uma forma de incentivar o interesse pela atividade).

Depois de um tempo para leitura individual e identificação dos itens apontados no roteiro (até o intervalo), faço a socialização das respostas (depois do intervalo), de modo que quem não soube responder ou respondeu de forma equivocada alguma questão possa completar a atividade de forma adequada e que eu tenha oportunidade de eliminar mal entendidos e dúvidas sobre a leitura.

Isto feito, é hora de eles voltarem às suas folhas de KWL e preencherem a última parte com o que aprenderam depois da realização da atividade.

Para fechar esta atividade num único encontro, não pode ser um texto muito extenso ou muito complexo, mas também dá para finalizar no encontro seguinte (trabalho individual num encontro / socialização e discussão no outro). Basta recolher as folhas e devolvê-las no momento de reflexão sobre o que aprenderam. Mais uma vez, é possível socializar também esta última parte e eliminar dúvidas e equívocos residuais.

Se você gostou destas ferramentas e pretende aplicá-las de alguma forma, em algum momento, por favor, depois compartilhe a sua experiência! Se você já conhece e usa, me conte como você aplica. É parecido com o que eu faço ou você usa de outras formas? Você usa outras ferramentas com estas finalidades? Quais? Como você as aplica?

Escreve pra mim: contato@komono.cc

Eu vou adorar poder contar sobre as suas experiências aqui na nossa #SaladosProfes :)

P.S.: se você gostou da minha ideia de falar sobre a docência no Ensino Superior e ficou com vontade de acompanhar minha coluna, CLICA AQUI, responde o form e eu vou te avisando na medida em que publicar novos textos ;)

Originally published at https://medium.com on March 22, 2019.

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Cynthia Hansen
OPEN SOURCE [na sala dos profes]

Publicitária, professora, apaixonada por aprendizagem, eterna aprendiz, co-idealizadora do Heimo Learning Lab e ligada em 220V! about.me/cynthia.hansen