OPEN SOURCE [na sala dos profes] #03

Cynthia Hansen
OPEN SOURCE [na sala dos profes]
4 min readApr 4, 2019

Que pena, mas que bom…

Quem dá disciplinas mais teóricas sabe: sem algumas leituras, não dá nem pra começar a conversa… E o dilema é sempre o mesmo, né? Como fazer os ser humaninhos lerem e discutirem estes assuntos? E a resposta básica costuma ser a mesma: ‘bora fazer seminários!

O raio é que eu andava MUITO insatisfeita MESMO vendo que o povo só fazia as coisas pra cumprir tabela, ‘porque vale nota’.

A proposta de lidar com determinados conceitos e teorias passa tão longe disso, não é mesmo? E é tão difícil fazer os alunos, especialmente no início do curso, perceberem o valor da reflexão, da argumentação consistente, da postura crítica diante da diversidade de perspectivas e abordagens, ainda mais na área da Comunicação, na qual tudo é tão subjetivo…

Também, convenhamos, passam a vida em bancos de escola aprendendo a responder provas, sendo tachados de chatos se fazem perguntas, ou de tagarelas, quando gostam de dar opinião sobre o assunto em pauta, e daí a gente entra com tudo querendo que eles exercitem o pensamento crítico, exponham ideias, argumentem.

No fim, o que tenho mesmo é muita tristeza em pensar que nossas crianças não são (de modo geral, claro, pois sempre há exceções) estimuladas a serem seres pensantes autônomos.

E se a gente olha para o nível das ‘argumentações’ de hoje em dia pelas redes sociais afora, tá lá o resultado: um monte de ‘eu acho que’, com zero consistência e zero vontade de ouvir o outro para entender os diferentes pontos de vista. Todos preocupados em simplesmente ter razão. Sem senso de coletividade, sem respeito pela diversidade, sem espírito cidadão. É um umbiguismo lamentável…

E lá vamos nós, então, na rabeira da vida escolar, no Ensino Superior, inserir uns hábitos mais saudáveis de convivência social a partir da discussão e troca de ideias, certo? Éééééé….mais ou menos… Ao menos a gente tenta!

E daí a gente solta aquele ‘maravilhoso’ (#sqn): “Olha que vale nota, heeeeein!?” E daí a gente está dizendo, por tabela: ‘A única razão da existência deste seminário é a nota, não serve pra mais nada, não, viu?”

As alternativas que eu encontrei para tentar melhorar esta situação (que não sei se já aconteceu com você, mas eu já me senti neste beco umas mil vezes), incentivando o engajamento dos alunos de uma forma menos cínica, foi trazer as discussões para o cotidiano deles, relacionando as teorias com situações passíveis de fazer parte do dia-a-dia de qualquer pessoa.

Usar notícias de mídia, TEDTalks (sou a louca dos TEDTalks! — são conteúdos consistentes, em linguagem geralmente acessível, quase sempre com legendas e de curta duração) e polêmicas da atualidade para discutir em sala com base nas propostas teóricas, deixá-los escolher assuntos do seu interesse para usar de objeto numa pesquisa cujos resultados são analisados à luz das teorias estudadas e por aí vai.

Pena que às vezes a gente não tem tempo o suficiente para esperar o aluno amadurecer no processo… Tenho gostado muito das discussões que são feitas em sala, pois nestas ocasiões trabalho com volumes de informação menores e consigo facilitar de forma mais eficaz o processo, mas o resultado das atividades de pesquisa têm ficado a desejar.

Como contraponto, tanto eu como os alunos aprendem muitas coisas novas por conta da originalidade dos objetos de pesquisa que alguns escolhem.

Outra coisa boa é que, de leve, eles são introduzidos no universo da investigação científica, pois precisam fazer pesquisa bibliográfica exploratória sobre o tema, definir problema de pesquisa, pensar em objetivos e desenvolver e aplicar instrumento de coleta de dados. E faço tudo isso sem a pressão da ABNT, falando apenas em ‘manter a cientificidade do processo’ para não virar um simples ‘eu acho que…’. E isso eles entendem e, de modo geral, parecem gostar muito de perceber que são capazes de desenvolver um processo de investigação para dirimir suas próprias dúvidas e inquietações.

O uso da teoria para a interpretação dos dados, infelizmente, costuma ficar bem aquém do esperado, mas são tantos outros ganhos no processo que fico chateada, pero no mucho. Mas também não deixo as questões da disciplina passarem batido, claro.

A consistência das análises é critério de avaliação e, logo após a apresentação de cada trabalho (tem que fechar o processo com a socialização dos resultados!), dou um feedback coletivo no qual o foco são as questões teóricas, seja porque foram bem trabalhadas, mal entendidas ou omitidas.

Se você achou legal, apesar dos pesares, a ideia de inserir a pesquisa de ‘fundo’ científico nas disciplinas teóricas e quiser saber mais detalhes, me avisa que faço uma publicação explicando o passo-a-passo, que é bem dinâmico e interativo (mas leva algumas boas aulas para desenvolver).

E me conta o que você achou das minhas ideias, seja você professor ou não. Também, caso tenha, me mande seu(s) causo(s) de docência e/ou sugestão(ões) de temas para discutir aqui no #OpenSource (que quer dizer código aberto, pois a ideia é que colegas possam usar os erros e acertos que virem por aqui para refletir sobre suas próprias práticas).
Escreve pra mim: komonolearning@gmail.com
Eu vou adorar poder conversar com você na #SaladosProfes :)

P.S.: se você gostou da minha ideia de falar sobre estes assuntos e ficou com vontade de acompanhar minha coluna, clica aqui, responde o form e eu vou te avisando na medida em que publicar novos textos ;)

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Cynthia Hansen
OPEN SOURCE [na sala dos profes]

Publicitária, professora, apaixonada por aprendizagem, eterna aprendiz, co-idealizadora do Heimo Learning Lab e ligada em 220V! about.me/cynthia.hansen