OPEN SOURCE [na sala dos ‘profes’]:
Ensinando para uma aprendizagem de qualidade na Universidade (BIGGS; TANG, 2011) #05
Concordo muito com Biggs e Tang (2011) quando eles afirmam que ensinar é pessoal, assim como o contexto em que cada professor trabalha é diferente. Como consequência evidente, o que é eficaz para este professor, para este assunto, neste nível, para estes alunos, pode não se aplicar a outros professores, trabalhando sob suas próprias condições.
Tem-se, então, segundo os autores, que os indivíduos têm que elaborar suas próprias soluções, o que requer (1) reflexão transformadora, (2) uma teoria do ensino com a qual refletir e (3) um contexto de experiências como objeto de reflexão. Esse processo pode ser estruturado em (4) pesquisa-ação, na qual possíveis soluções são cuidadosamente monitoradas para avaliar seu sucesso. É sobre estas questões que este texto vai tratar.
Os autores destacam que professores experientes refletem continuamente sobre como podem ensinar ainda melhor. ‘Reflexão’ é, no entanto, uma palavra enganosa. Reflexão transformadora é melhor.
Quando você está na frente de um espelho, o que você vê é o seu reflexo, o que você é. A reflexão transformadora é semelhante ao espelho da Branca de Neve: ela diz o que você pode ser. Esse espelho usa a teoria para possibilitar a transformação do que é insatisfatório para o mais eficaz possível.
A teoria nos torna conscientes de que existe um problema e nos ajuda a gerar uma solução para este problema. Professores universitários têm a teoria relacionada à sua disciplina na ponta dos dedos, mas muitos não têm teorias explícitas e bem estruturadas relacionadas ao ensino de sua disciplina. Refletir sobre o seu ensino e ver o que está errado e como ele pode ser melhorado requer uma teoria explícita de ensino.
Este contexto exige que os professores mantenham-se atualizados em relação ao conhecimento sobre o ensino e a aprendizagem e apliquem esse conhecimento de forma reflexiva ao seu próprio ensino, segundo os autores.
Entretanto, ao menos na minha realidade, vejo pouquíssimas iniciativas realmente consistentes de trazer aos professores universitários, geralmente sem nenhuma formação relacionada ao processo de ensino e aprendizagem, conhecimento nesta área. O que anda super ‘na moda’ é falar de metodologias ativas e eis o que Biggs e Tang (2011) pensam sobre isso e eu assino embaixo:
Aprender novas técnicas de ensino é como o peixe que fornece uma refeição hoje; a prática reflexiva transformadora é a rede que fornece refeições para o resto de sua vida.
É por conta da necessidade de uma teoria que dê embasamento à reflexão transformadora, entre outras questões, que os autores defendem o alinhamento construtivo. Conforme eles mesmos explicam, o alinhamento construtivo não é apenas um método ou um modelo a ser implementado: ele fornece uma abordagem conceitual para refletir sobre as questões que precisam ser respondidas nas fases cruciais do ensino de modo geral. Essas perguntas são:
Esses componentes, de currículo, método de ensino e avaliação, estão presentes em qualquer ensino. O que a estrutura de alinhamento construtivo faz é nos convidar a questionar o que estamos fazendo como professores nesses pontos cruciais e a repensar outras formas de execução.
Muito pode ser alcançado pela reflexão transformadora. Podemos refletir sobre a adequação dos nossos resultados de aprendizagem pretendidos e sobre quais atividades alternativas de ensino / aprendizagem e tarefas de avaliação melhor podemos usar. A estrutura do alinhamento construtivo destina-se a encorajar exatamente esse tipo de reflexão.
Atuar como um professor reflexivo engloba três componentes importantes:
A reflexão transformadora se dá em quatro etapas: refletir, planejar, aplicar, avaliar.
De acordo com Bigs e Tang (2011), uma forma estabelecida e sistemática de fazer isso é a pesquisa-ação ou o aprendizado pela ação, como às vezes é chamado.
A pesquisa-ação envolve mudar os aspectos do seu ensino sistematicamente, usando qualquer evidência concreta que você possa obter que lhe permita julgar se as mudanças estão indo na direção certa. Seus alunos estão aprendendo agora melhor do que costumavam? Se assim for, bom. Se não, ajuste seu ensino da próxima vez à luz de sua teoria de ensino. Assim, retornamos de maneira mais sistemática ao ciclo contínuo de refletir, planejar, aplicar, avaliar.
Este ciclo pode ser repetido continuamente porque as coisas nunca estão exatamente certas. A pesquisa-ação sistematiza o que os profissionais reflexivos fazem o tempo todo: eles auto-monitoram suas decisões, decidem se podem fazer melhor e verificam se realmente geraram uma melhoria. Em caso negativo, eles repetem o ciclo.
Existem vários resultados possíveis para este processo:
É assim, então, que a reflexão transformadora aumenta a qualidade do que estamos fazendo.
E aí, de 0 a 10, o quanto você se considera um professor reflexivo, ou professora reflexiva? Que aspectos você já domina e que aspectos precisam de melhorias? Quais as suas principais dificuldades? Conta pra mim! É só escrever aqui. Não precisa nem me dizer o seu nome…
Eu vou adorar poder conversar com você na #SaladosProfes :)
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Ah! OpenSource, nome que dei para a minha coluna sobre docência aqui no Medium, quer dizer código aberto, pois a ideia é que colegas possam usar os erros e acertos que virem por aqui para refletir sobre suas próprias práticas, além de compartilhar suas histórias também, se tiverem vontade.