OPEN SOURCE [na sala dos ‘profes’]:

Cynthia Hansen
OPEN SOURCE [na sala dos profes]
6 min readMar 30, 2019

Ensinando para uma aprendizagem de qualidade na Universidade (BIGGS; TANG, 2011) #02

A forma como você compreende o ensino afeta profundamente o tipo de ambiente de aprendizado que você cria em sua sala de aula. Sabia disso?

Resgatando a noção de Biggs e Tang (2011) que apresentei no texto #01:

Um bom ensino é fazer com que a maioria dos alunos use o nível de processos cognitivos necessário para alcançar os resultados pretendidos que os estudantes mais acadêmicos já usam espontaneamente.

E quando o aluno não aprende, a culpa é de quem???

( ) do aluno, é claro!

( ) do professor, é claro!

( ) do ensino, é claro!

Responda a enquete clicando aqui… Vou adorar saber sua resposta!

Cada uma destas alternativas representa um nível de pensamento sobre o ensino. Em cada nível, tem-se um foco diferente. Quem diz isso não sou eu, são os autores, ok? Então, se quando o aluno não aprende a culpa é …

O nível 1 de ensino, portanto, é totalmente irrefletido. Não ocorre ao professor fazer a pergunta-chave: “O que mais eu poderia fazer para que o aluno aprendesse com mais eficiência?” E, até que ele se pergunte isso, é improvável que seu ensino mude. É triste pensar que ainda haja tantos profes que acreditem nisso…

Já o professor que opera no Nível 2 trabalha na obtenção de um arsenal de habilidades de ensino. O material a ser ‘atravessado’ por ele inclui entendimentos complexos e ele sabe que isso requer muito mais do que giz e conversa.

O que é preciso entender aqui é que uma boa gestão é importante, mas é somente um meio de definir o estágio no qual a boa aprendizagem pode ocorrer e não um fim em si mesmo. Saber o que fazer é importante apenas se você souber por que, quando e como deve fazê-lo. O foco não deve estar na habilidade em si, mas em saber se a sua implantação tem o efeito desejado na aprendizagem do aluno.

Desde que comecei a dar aulas, pouco mais de dez anos atrás, sempre me vi neste lugar de me esforçar para fazer tudo o que eu posso da melhor forma possível (martírios do perfeccionismo!). Só muito recentemente, depois do contato com o universo maravilhoso do pensamento pedagógico finlandês, eu pude entender qual era o ‘passo além’ que faltava e agora, dia após dia, vou experimentando a alegria de olhar para o ensino com olhos de ‘terceiro nível’ de compreensão.

O nível 3 de pensamento sobre o ensino implica uma visão de que este não é apenas sobre fatos, conceitos e princípios a serem cobertos e compreendidos, mas que também exige que sejamos claros sobre:

1. o que os estudantes devem aprender e quais são os resultados pretendidos ou desejáveis de sua aprendizagem;

2. o que significa para os alunos “entender” o conteúdo da maneira estipulada nos resultados pretendidos da aprendizagem;

3. Que tipo de atividades de ensino / aprendizagem são necessárias para atingir os níveis estipulados de compreensão.

As questões inevitáveis que este tipo de raciocínio gera são:

  • Como você define esses níveis de compreensão como declarações de resultado?
  • O que os alunos precisam fazer para atingir o nível especificado?
  • O que você precisa fazer para descobrir se os resultados foram alcançados no nível apropriado ou não?

Aos poucos, no decorrer do livro, os autores vão mostrando, de forma mito didática, como podemos responder estas perguntas ❤

Lembra da definição deles sobre o bom ensino, apresentada no capítulo 1?

Um bom ensino é fazer com que a maioria dos alunos use o nível de processos cognitivos necessário para alcançar os resultados pretendidos que os estudantes mais acadêmicos já usam espontaneamente.

Agora esta noção reaparece, mas de forma mais sintética:

O bom ensino apoia as atividades que levam a uma abordagem profunda do aprendizado e à obtenção dos resultados de aprendizagem desejados.

Mas afinal, o que é uma abordagem profunda e, de outro lado, o que compreende uma abordagem superficial do aprendizado? Nas palavras dos autores:

Atividades de aprendizagem que são de nível muito baixo para o atingimento dos resultados de aprendizagem pretendidos são entendidas como compondo uma abordagem ‘superficial’ à aprendizagem, por exemplo, memorização para dar a impressão de compreensão. As atividades apropriadas para alcançar os resultados pretendidos, por sua vez, são chamadas de abordagem ‘profunda’.

O ‘nível’ de que eles tratam é o nível cognitivo. Creio que todo mundo aqui deva lembrar do nosso colega Benjamin Bloom, que criou a taxonomia que nos ajuda a pensar nestes níveis cognitivos, não? Se você não lembra ou não conhece, clique aqui.

Segundo os autores, fatores que incentivam os alunos a adotar uma abordagem superficial à aprendizagem incluem:

Os fatores estudantis não são inteiramente separados dos fatores docentes. A maioria dos fatores estudantis é afetada pelo ensino. Um passo importante para melhorar o ensino, então, é evitar os fatores que encorajam uma abordagem superficial.

De outro lado, fatores que incentivam os alunos a adotarem uma abordagem profunda de aprendizagem incluem:

Como deu para perceber, o aprendizado desejável do aluno depende tanto dos fatores nele baseados — habilidade, conhecimento prévio apropriado, novos conhecimentos claramente acessíveis — quanto do contexto de ensino, que inclui a responsabilidade do professor, a tomada de decisões informadas e o bom gerenciamento. Como destacam Biggs e Tang (2011), um passo importante para melhorar o ensino é se concentrar nos fatores que incentivam uma abordagem profunda do aprendizado ;)

Uma lógica até bem simples de compreender, não? Mas o segredo está em COMO fazer esta lógica funcionar no dia-a-dia da docência, o que demanda uma nova postura do professor frente às suas disciplinas, suas práticas e seus alunos. E é disso que o restante do livro vai tratar (e que eu vou trazer aos poucos aqui nesta série especial!).

E aí, o que você achou??? Entre que níveis do pensamento sobre ensino você tem transitado? Em que fatores que incentivam os alunos a adotarem uma abordagem superficial de aprendizagem você anda escorregando? E quais dos fatores que incentivam os alunos a adotarem uma abordagem profunda de aprendizagem você já adota no seu dia-a-dia em sala?

Escreve pra mim: komonolearning@gmail.com! Eu vou adorar poder conversar com você aqui nesta #SaladosProfes ;)

Ah! Se você gostou da minha ideia de falar sobre estes assuntos e ficou com vontade de acompanhar minha coluna, clica aqui, responde o form e eu vou te avisando na medida em que publicar novos textos ;)

P.S.: OpenSource, nome que dei para a minha coluna sobre docência aqui no Medium, quer dizer código aberto, pois a ideia é que colegas possam usar os erros e acertos que virem por aqui para refletir sobre suas próprias práticas, além de compartilhar suas histórias também, se tiverem vontade. Lá escrevo também sobre outras questões relacionadas à docência no Ensino Superior.

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Cynthia Hansen
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Publicitária, professora, apaixonada por aprendizagem, eterna aprendiz, co-idealizadora do Heimo Learning Lab e ligada em 220V! about.me/cynthia.hansen