Entre a foice e o martelo #31–12/09/2021

O Poder Popular Ceará
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3 min readSep 12, 2021

Coluna dominical do jornalista Antonio Lima Júnior para o jornal O Poder Popular — Ceará

Grito dos Excluídos x Circo dos Horrores no 7 de Setembro

A semana girou em torno dos atos realizados no 7 de setembro em todo país, divididos entre as manifestações fascistas orquestradas por Bolsonaro e o tradicional Grito dos Excluídos, promovido pelos movimentos sociais contra o governo genocida, também em resposta aos atos dos apoiadores. Tradicionalmente, o Grito dos Excluídos é realizado em comunidades periféricas e em Fortaleza a marcha foi realizada na Serrinha, no entorno do campus da UECE.

O Grito dos Excluídos em Fortaleza mostrou o peso dos movimentos sociais, que construíram o ato e trouxeram a pauta das lutas sociais do povo cearense, com cartazes e palavras de ordem que denunciavam o papel do governo no aumento do custo de vida. Bem diferente da manifestação dos bolsonaristas, que realizaram uma carreata com início no Castelão, encerrando na Praça Portugal, palco constante das cenas lamentáveis realizadas pelos seguidores do Bolsonaro.

Uma dessas cenas lamentáveis foi a presença do Capitão Wagner na praça, realizando um verdadeiro pronunciamento sobre sua pré-candidatura ao governo do Estado, declarando sua missão de derrotar a dinastia Ferreira Gomes. Boa sorte para o candidato, que abriu as portas do inferno nesse sete de setembro e que pelo visto continuarão escancaradas até as eleições do ano que vem, para o seu interesse.

MBL e seu protesto pra inglês ver

Nesse domingo ocorrem novas manifestações contra o governo Bolsonaro, entretanto mobilizadas por ninguém menos que o MBL, o mesmo movimento que foi cúmplice da ascensão de Bolsonaro, que apoia os projetos armamentistas do governo e que seus parlamentares aprovam medidas contra os direitos da classe trabalhadora. Basta lembrar do Fernando Holiday (DEM) rindo da janela enquanto professores apanhavam da polícia em protesto ou do projeto de lei de Kim Kataguiri (DEM) para, em resposta ao aumento do combustível, criar postos de gasolina automáticos, demitindo centenas de milhares de frentistas.

A corja do MBL surge querendo protagonizar o movimento pelo impeachment de Bolsonaro, ignorando todo um calendário de lutas construído desde o 29 de março por várias organizações da classe trabalhadora. Objetivamente, esse protagonismo fake é uma tentativa de construir alternativas políticas da tal ‘terceira via’ para as eleições do ano que vem, aproveitando uma possível rifagem de Bolsonaro, caso impedido de disputar.

O que nos deixa mais impressionado é a adesão imediata de algumas centrais sindicais e partidos políticos aos atos de hoje, mostrando claramente suas posturas vacilantes em sinalizar um diálogo com o MBL, um movimento que em nada se diferencia da corja bolsonarista. Que o fracasso dos atos de hoje, obviamente maquiados pela imprensa liberal, seja cobrado mais na frente pelos reais protagonistas da luta pelo Fora Bolsonaro, sendo estes a classe trabalhadora.

Em cartaz, as novas presepadas de José Sarto

Enquanto a conjuntura política brasileira entra em combustão, pra jogar mais gasolina nisso tudo surgiu a lei, sancionada pelo prefeito José Sarto (PDT), que institui em Fortaleza a “Semana pela Vida”. Figurando agora no calendário oficial de eventos do Munícipio entre os dias 1º a 7 de outubro, a semana deve realizar “campanhas publicitárias e informativas contra a prática do aborto, mediante o convênio com organizações que ofereçam suporte psicológico, social e médico a gestantes, bem como orientações dos malefícios do aborto à mulher, sem qualquer promoção da prática ou de seus supostos benefícios”.

A Semana pela Vida também promoverá “campanhas de informação a respeito dos malefícios médicos e psicológicos da utilização de anticoncepcionais” e “o reconhecimento público de entidades que atuem na luta contra o aborto e em defesa da vida em todos os seus estágios, desde a fecundação até o seu ocaso natural”. Um verdadeiro absurdo medieval, de autoria do vereador Jorge Pinheiro (PSDB).

Segundo Sarto, a aprovação da lei não determina a obrigatoriedade da realização do evento por parte da prefeitura. Resta saber porque então aprovar algo que não será realizado. Simples: agradar a bancada evangélica da Câmara Municipal, trazendo pra perto da situação. Pra isso, vale até aprovar lei que fere os direitos da mulher, dialogando com o setor mais retrógrado da política brasileira, setor esse que pede o braço depois que se entrega os dedos.

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Página da sucursal do jornal O Poder Popular no Ceará, um jornal a serviço das lutas populares e do socialismo.