Entre a foice e o martelo #35–17/10/2021

Coluna dominical do jornalista Antônio Lima Júnior para o jornal O Poder Popular — Ceará

Nova rodada de eleições no Ceará

Essa semana, o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE) determinou a realização de eleições suplementares nas cidades de Viçosa do Ceará e Barro, no dia 5 de dezembro deste ano, depois que prefeitos e vice-prefeitos de ambas as cidades foram cassados por abuso de poder político e econômico.

Em Viçosa do Ceará, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou recurso do prefeito Zé Firmino (MDB) e seu vice, Dr. Marcelo (MDB) em outubro deste ano, sendo afastados de seus cargos, condenados pelo TRE devido à perfuração de poços profundos, durante a campanha eleitoral, como forma de autopromoção da candidatura a reeleição do prefeito. Já em Barro, o prefeito Dr. Marquinélio (PSD) e seu vice, Vanderval Feitosa (PSD), foram cassados em agosto pela Justiça Eleitoral devido a 250 contratações temporárias e fraudulentas durante a campanha eleitoral.

Na prática, vemos que o modus operandi do TRE tem sido o de cassar as chapas e realizar novas eleições, conforme vimos ainda esse ano e lembrando que em Jaguaruana também haverá realização de eleições complementares em 17 de novembro. Resta saber se vai fazer uma diferença medonha, como diz o popular.

É hora de vigiar os vigilantes

Nesta quinta-feira (14), a Assembleia Legislativa do Ceará aprovou um projeto de indicação do deputado Elmano de Freitas (PT) que propõe a implantação de câmeras em uniformes das polícias do estado. O projeto visa dar mais transparência à ação policial, com o uso das câmeras operacionais portáteis, potencializando assim a confiança da população na polícia.

O projeto prevê a obrigatoriedade no monitoramento e registro das ações individuais dos agentes de segurança pública, sendo estes policiais civis, policiais militares e policiais penais, através de câmeras corporais instaladas em Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) como coletes, capacetes, e escudos, com capacidade de registrar tudo o que o agente vê, ouve, fala e faz. A medida, como se trata de um projeto de indicação, precisa do aval do governador Camilo Santana (PT), estando ainda no aguardo do seu posicionamento.

Com base em experiências de outras cidades, incluindo São Paulo recentemente, onde de maio para junho, apos a instalação das câmeras, a queda nas mortes por intervenção policial foi de 54% nos 134 batalhões paulistas e nenhuma morte foi registrada nos 18 batalhões que estão usando as câmeras. Obviamente, esse projeto não retira o caráter principal do papel da polícia como braço armado do Estado, visando a manutenção da propriedade privada. Entretanto, diante de tantos abusos policiais frequentes no Ceará, é uma iniciativa interessante, visto que o governador Camilo Santana tem feito um investimento no mínimo preocupante da expansão policial em todas as macrorregiões do Ceará.

Uma guinada oportunista de Glêdson

Na última quarta-feira (13), o prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos), faltou ao jantar promovido pelo deputado federal Capitão Wagner (Pros) com seus possíveis aliados na região do Cariri. A movimentação se junta ao fato de, no início desse mês, o prefeito anunciar, em entrevista a uma rádio local, que votará em Camilo Santana para o Senado (PT), em 2022. Vemos assim um distanciamento de Glêdson ao grupo oposicionista no Ceará.

Vale recordar que Glêdson é um aliado do bolsonarismo no estado e em especial na região do Cariri, assumindo o voto em Bolsonaro nas eleições de 2018 e sendo bastante receptivo ao genocida durante suas andanças na região. O fato mostra que Glêdson faz um malabarismo para se manter na gestão, enquanto passa por diversos processos que podem ocasionar no seu afastamento.

Assim, o pragmatismo é o que rege sua política, abrindo canais de diálogo com o governador. Ruim para Wagner, que contava com Glêdson como um aliado regional, pior ainda para os bolsonaristas que fazem a oposição reacionária contra Camilo. Glêdson cria uma contradição para sua base reacionária, precisando assim se explicar. Nessa história toda, eu acho é pouco.