Caminhos para a moda sustentável

o prisma
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4 min readNov 18, 2019

A indústria da moda é uma das que mais emprega no mundo — em contrapartida, é uma das mais poluentes, que geram maior impacto ambiental e que mais contaminam o planeta. Além disso, existem empresas do setor que persistem em contratar pessoas para trabalharem em regime análogo à escravidão. A massificação da produção de roupas e acessórios é o principal fator para tudo isso acontecer. Ofast fashion” faz parte da indústria da moda desde a década de 1990 e prioriza lançar coleções de roupa por estações, de baixo preço e, consequentemente, de baixa qualidade. Isso explica a efemeridade dessas roupas e dessas coleções. O debate sobre a sustentabilidade está em diferentes espaços de discussão na esfera pública e a indústria da moda não fica de fora, já que é um dos principais causadores de impacto ambiental.

Suzana Martins, professora do departamento de Design de Moda da Universidade Estadual de Londrina, comenta sobre três aspectos da indústria que devem ser levados em consideração quando o debate é levantado: ambiental, econômico e social. Não há como dissociar a moda desses três elementos. Não basta apenas produzir roupas: é necessário que se importe com o descarte de produtos, consumir de forma efetiva, estimular o comércio local e comprar em empresas que são justas com seus funcionários.

“Comprando localmente, a economia circula localment. Ao comprar produtos importados, não se sabe como foram produzidos, como isso chegou até você.” — Suzana Martins

Hoje em dia, várias estratégias são possíveis a fim de se vestir de maneira mais consciente e sustentável. Comprar de segunda mão, trocar, alugar, reformar e usar as técnicas de gestão de resíduo: “upcycling” — transformação de uma peça que não é utilizada em outra que será útil — e reciclagem de resíduos têxteis. Essas opções podem ser mais econômicas e geram menos impacto, já que nenhuma delas consiste em comprar novas peças.

Outro ponto importante para esse processo de conscientização, de acordo com Martins, é o de dizer não para marcas que usam mão de obra escrava e que afetam negativamente o planeta por meio de seu processo produtivo. Na maioria das vezes, são essas as empresas que se denominam fast fashion”. “Se você compra uma roupa por 10, 20 reais, obviamente tem uma mão de obra escrava, a conta não fecha. Alguém deixou de ganhar por isso lá atrás.”

O slow fashion” é um movimento sustentável dentro do universo da moda que teve seu início em 2008. Ele vai contra o que o fast fashion” defende; não existe a obrigatoriedade de lançar várias coleções e as roupas são feitas com materiais de qualidade. Várias marcas, hoje, se preocupam com a matéria prima e com toda o ciclo de vida da roupa. Consumir dessas marcas também é uma forma de exercitar o consumo consciente já que para elas se denominarem slow fashion”, têm que passar por vários quesitos. Uma marca precisa não só ter um processo mais lento, manual e humanizado, ela também deve estabelecer uma relação justa com seus trabalhadores e uma transparente com os consumidores, propor debates a respeito da sustentabilidade, se atentar a embalagens, pacotes e preços e muito mais.

Justo acredita que comprar em brechó ajuda o planeta / Foto: Natália Perezin

Os brechós estão cada vez mais populares. Tanto para quem vende como para quem compra, usar esse meio para se desfazer ou adquirir roupas é mais sustentável do que descartar inadequadamente ou comprar um produto novo. Afinal, a peça mais sustentável é aquela que já existe. Luciane Justo é proprietária do brechó 5ª Avenida, na região central de Londrina. Ela afirma que esse tipo de compra é de extrema importância para quem pensa no planeta e no bolso.

Bianca Baggio é designer de moda e trabalha com o “upcycling” desde 2002. Ela ressalta a importância não só utilizar essa técnica, mas também de reciclar corretamente tecidos que não terão mais uso para que eles possam se tornar outros produtos no futuro.

Quando não se pode aproveitar a peça no estado em que ela está, ele tem que passar por uma máquina para ser desfibrada para virar fio e depois um tecido novamente. Hoje o que se recicla são fibras 100% algodão. Os resíduos têxteis que não são reciclados ou são descartados num aterro e ficam lá por 300, 400 anos até a decomposição, ou são incinerados.

Baggio sempre recomenda às pessoas para jogarem os tecidos no lixo reciclável. “Limpe as peças e as descarte limpas, em um saco, identificando que são roupas ou tecidos. Na cooperativa de reciclagem, eles têm condição de mandar para lugares que reciclam. As pessoas que trabalham com isso passam nas fábricas, recolhem os resíduos e reciclam. O errado é jogar no aterro ou misturar com outros materiais que se decompõem, como comida ou lixo de banheiro”, diz.

O “upcycling”, portanto, evita que peças de roupa sejam jogadas foras ou fiquem paradas sem utilidade. Baggio, por meio dessa técnica, transformou uma saia que, segundo ela, não cabia bem em seu corpo, em um vestido. A nova peça dá um novo significado ao material que antes não seria mais utilizado.

Detalhes do vestido que Baggio criou a partir de uma saia / Foto: Natália Perezin

Para saber mais:

“The True Cost” (2015)

Fe Cortez x Marina Colerato

TED x Orsola de Castro

Texto: Natália Perezin

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