DJs se unem para combater o machismo

Natália Perezin
oprisma
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3 min readNov 18, 2019

O espaço de atuação das mulheres sempre foi delimitado de acordo com o dos homens. Ainda hoje, muitas profissões são vistas como de características masculinas. A Dj Simmone Lasdenas, que atua na área desde 2000, afirma que existem muitas mulheres na mixagem, porém a visibilidade é pequena. Ela sente que em muitas festas há uma “cota” de mulheres no line. “A impressão que me dá é que se não colocarem ao menos uma mulher, vão se queimar”, escreve. Apesar da sensação, muitas vezes os lines são compostos apenas de homens.

Ela também destaca as barreiras que a maioria das mulheres enfrenta ao tentar seguir a carreira: a sociedade machista que acredita que o lugar da mulher é a casa, cuidando do marido e dos filhos; equipamentos caros que são mais acessíveis ao homem, já que o salário da mulher é proporcionalmente menor; tempo para realizar todas as atividades porque a música exige treino, ensaio e também o fato dos DJs as enxergarem como concorrentes, pessoas que vão roubar seus espaços.

Um dos objetivos do TPM é preparar as mulheres para o mercado profissional Foto: Natália Perezin

A DJ Miria Alves, de São Paulo, foi uma das pessoas que percebeu a falta de protagonismo das mulheres na mixagem. Com dez anos de carreira, há apenas quatro trabalha exclusivamente como DJ. Já trabalhou e fez turnê com grandes artistas brasileiros, como Tássia Reis e Gaby Amarantos.

Com a intenção inicial de ensinar mulheres sobre a técnica que já dominava, Miria começou, em 2017, o projeto TPM — Todas Podem Mixar. Esse ano foi a terceira vez que a DJ veio para Londrina com esse objetivo. Para Miria, o começo desse projeto foi como um momento de empoderamento e ela acredita que isso chega para cada mulher no momento certo. A oficina reúne grupos pequenos de até dez mulheres e hoje elas não aprendem só a técnica: “a gente tá numa fase que é muito mais que isso. É elas aprenderem a capacidade de trabalhar com música, trabalhar com arte, tendo isso como empreendedorismo”, diz.

A 3ª edição da oficina do projeto TPM ocorreu em Londrina nos dias 2 e 3 de outubro / Foto: Natalia Cavalcante
Miria acredita que as aulas vão além do ensinamento da mixagem: se tornam encontros / Foto: Natalia Cavalcante

O TPM já passou por diversas cidades, como Curitiba, Brasília, Rio Claro e Sorocaba. Com mais de 20 edições e 300 mulheres formadas, a oficina sempre estabelece parcerias em cada cidade, seja com centros culturais ou festas. Em Londrina, a parceria é feita com a festa Funk Me, no Bar Valentino a cada duas sextas-feiras. Além de ensinar mulheres uma nova técnica, a oficina também estimula a economia criativa de cada cidade, porque há contratações locais, como fotógrafa e aluguel de equipamentos.

Miria lembra de algumas mulheres que estavam na oficina do projeto dois anos atrás e também em 2019, em Londrina: as DJs Nate Mônaco, Luciana Telles e a dupla do coletivo Consciência Feminina, composto por Thaís dos Reis e Adrielle Amantea. Elas são algumas que representam a cena da mixagem feminina londrinense. Segundo Miria, “cada uma foi encontrando seu caminho e as portas estão abrindo conforme elas se unem e se colocam na frente, protagonizando a música”.

É unânime a sensação de união e compartilhamento entre elas. Por meio do trabalho que desempenham conseguem provar, dia após dia, que o espaço que estão ocupando não é mais um favor e sim um direito. “Infelizmente em minha época não existia mulheres para me inspirar”, lamenta Lasdenas. Por conta disso, ela acredita que ainda não houve um momento marcado pela ascensão das mulheres na área. Se essa hora ainda não chegou, com certeza está próxima.

Texto: Natália Perezin

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