Bom humor como parte da consciência social

Melissa Setubal
oqueaprendihoje
Published in
3 min readJul 19, 2018

Pense em machismo, racismo, homofobia, xenofobia, etarismo, violência. Assuntos densos, né? Não para o humor de Michael Schur (dos excelentes Parks and Recreation, e The Good Place), Dan Goor, e o elenco, todos brilhantes na série de TV Brooklyn Nine-nine.

Essa é uma das minhas séries favoritas, desde sua primeira temporada. Por um milhão de motivos. Um belo exemplo de mulheres e homens buscando fazer o mundo melhor com integridade, autenticidade, e muito bom humor.
Volta e meia me pego pensando sobre de que formas posso dar algum tipo de contribuição para a diminuição do sofrimento dos seres humanos.

E o mais comum é ou fazer algo na base da raiva e da revolta, ou paralisar diante da grandiosa e impossível tarefa, pensar que qualquer movimento é pouco demais, ou ainda ficar no pequenininho e sutil porque é o que dá. Nada parece muito efetivo, sei lá…

Mas, normalmente, o que é comum em todas essas formas é que eu levo mega a sério. E acaba que chega uma hora que fica pesado demais, ou pro corpo ou mentalmente, e me desmantelo.

Como continuar? Como persistir contribuindo, apoiando, e me recompor das tristezas, lambadas, rasteiras, e bombas?

Trazendo leveza e bom humor. Até o Dalai Lama fala sobre isso (e olha que o cara tem todos os motivos do mundo pra ser serião e mega triste, e ele é o maior brincalhão com todos). E é o que fazem em Brooklyn Nine-nine, e seus personagens com histórias de vida diversas e pouco privilegiadas.

Quatro das seis personagens principais não são homens brancos héteros cis (e só o Capitão negro gay parece ter uma vida economicamente privilegiada). Ou seja, definitivamente eles viveram ou vivem desafios constantes só por ser quem são na sociedade em que estão inseridos.

E não é o caso do humor ser (apenas) fazer hora com a própria cara ou com a cara dos outros, por isso seria tentar amenizar ou mascarar o problema sem olhar pra ele de fato.

É ser sério na hora que o assunto precisa de seriedade, é ser leve na hora que precisa de leveza pra gente respirar. Com um grau certeiro de bobeiras e de questões importantes, essa é uma série inteligente e acessível como poucas (em tempo: os homens brancos héteros cis são constantemente os mais bobos e “cagados” das histórias, e o que parecem levar mais lições de vida).

Isso é pra mim realmente um atestado de gente provocando consciência em um mundo polarizado, em que poucos se ouvem, e que o humor pode ser um elemento poderoso de acesso entre opiniões extremas.

Eu aprendo todo episódio com eles. E uso séries como essa para inspirar como eu posso ser mais leve, continuando a ser séria e profunda, nas ações que tenho perante as sombras manifestadas nesse mundo.

Porque os problemas não acabam. A minha bateria pra lidar com elas sim. Então tenho que recarregá-las de algumas formas, não é mesmo? Encontrar quem mistura humor e leveza com responsabilidade e ativismo tem sido um bálsamo para tanto sofrimento que estamos criando para a gente mesma, para a própria raça humana.

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