Fazer rir como forma de engajamento político?

Melissa Setubal
oqueaprendihoje
Published in
3 min readJul 25, 2018

Comédia política. Talvez seja uma das poucas formas que ando consumindo notícias sobre nossa desastrosa realidade.
Aqui no Brasil, temos o Greg News, com o Gregório Duduvier traduzindo para os hipsters a confa de Brasília e no Brasil, e alimentando os discursos da esquerda-caviar.
Trevor Noah é o grande queridinho atual dessa tribo nos EUA. E não é pra menos. Ele, há alguns anos, senta na cadeira criada pelo maior expoente da área (o aposentado John Stewart), e foi escolhido a dedo para tal.
Por mais jovem que pareça, sua experiência de vida e autoconfiança ultrapassam a idade, e trazem um frescor formidável pra esse formato que hoje é reproduzido por vários outros programas, a maioria encabeçados por pessoas que também passaram pelo Daily Show.
Samantha Bee, John Oliver, Michelle Wolf (e Hasan Minhaj, que ainda vai estrear o seu) são alguns deles. Sem contar com o finado programa de Chelsea Handler no Netflix.

Os discursos são ótimos, principalmente pra gente que se identifica com uma agenda mais progressista. Fico sabendo de assuntos que eu nem sabia que eram críticos, de uma forma digerida e que me engajam tempo suficiente para dar aquele “feel good” de eu-sei-o-que-importa-neste-mundo-e-estou-do-lado-certo.
Calma, não to aqui desmerecendo o trabalho deles. Acredito sim que a crítica, ainda mais em forma de comédia, é importante e necessária como medidor de liberdade de expressão em um país, ainda mais em tempos de governo limítrofes no autoritarismo.
Trevor Noah mesmo apontou isso em uma das entrevistas que deu, lembrando que durante o Apartheid, era proibido fazer piada com o governo sul-africano (seu país de origem).

Um exemplo dessa liberdade de expressão foi a escolha de Michelle Wolf para fazer o monólogo de comédia no tradicional jantar de correspondentes da Casa Branca, neste ano, que saiu distribuindo críticas para a direita e para esquerda, para o presidente (não presente, em mais uma edição) e para muitos políticos e veículos de notícias presentes, não importando muito se republicano ou democrata ou neutro.
Estou fazendo uma crítica a mim mesma: o que realmente estou fazendo diante de toda essa informação dada entre risadas? Isso realmente contribui para ampliação da minha consciência, e mais ainda, para minha ação no mundo?
A partir disso, eu consigo colaborar mais e melhor para beneficiar os seres, ou eu só fico internalizando a tristeza e a raiva e/ou distribuindo as piadinhas e os trocadilhos em forma de memes?
Será que estou buscando mérito pra me dar um selo de pessoa-de-bem porque consumo e distribuo esses conteúdos, ou esse acúmulo de conteúdos efetivamente me transforma e ao meu comportamento?
Parei para pensar nisso quando outro dia estava assistindo a Michelle Wolf fazer justamente uma crítica ao formato comum dos programa de comédia política, tirando sarro da fórmula usada por todos esses programas e comediantes-jornalísticos, incluindo ela mesma e sua equipe.

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