oramon_souza
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3 min readApr 26, 2024

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Photo by Tony Reid on Unsplash

O primeiro capítulo da biografia de Eugene Peterson fala sobre o lugar onde ele passou a infância em Montana, ressaltando a profunda influência que a geografia daquele lugar produziu em sua alma. A paisagem de Montana, amada por Eugene, moldou-o tanto quanto a água de degelo moldou a bacia entre as montanhas. A beleza avassaladora, a imensa solidão e as próprias características físicas do vale formaram em Eugene uma percepção visceral do lugar.

Segundo William Blake, nos tornamos aquilo que contemplamos, e acredito que isso é em grande parte verdadeiro. Sei que é um assunto polêmico, mas há razões para acreditar que a geografia do ambiente em que vivemos molda nosso comportamento. Essa ideia também está ancorada num clássico da literatura brasileira.

Photo by André Magalhães on Unsplash

Quem lê "Os Sertões" de Euclides da Cunha tem a tendência de pular a Parte I, que trata da descrição geográfica da terra. São tantos detalhes do solo, clima e vegetação que às vezes fica cansativo, mas tudo isso tem uma razão de ser. Euclides atribuía a força do sertanejo à convivência numa região inóspita que praticamente obrigava homens, plantas e animais a lutarem pela vida ou se entregarem à morte. Havia uma ligação histórica entre o sertanejo e o ambiente, e o que para eles era alento, para os soldados era tormento, pois entre o homem do sertão e o sertão havia algo que os unia intimamente, uma cumplicidade. As árvores eram velhas companheiras do sertanejo, crescendo juntas através das mesmas dificuldades e lutando com as mesmas agruras.

Para conhecer Eugene, é preciso conhecer um pouco sobre Montana; para entender o homem sertanejo, é necessário conhecer o sertão. E você, já tinha parado para pensar o quanto o seu ambiente geográfico é capaz de te moldar? E o que mais assusta é o fato disso ser feito na maioria das vezes de maneira imperceptível. Por isso, seja intencional com o seu ambiente, e mesmo não morando no lugar mais belo e tranquilo do mundo como Eugene, crie zonas de beleza e tranquilidade, que eu chamo de ilhas de contentamento. Inclua cantos de beleza em sua casa, flores, uma janela onde se contemple uma árvore, um pedaço de céu, ou até mesmo uma fenda onde entre uma fresta de luz. Toda réstia de luz te levará ao sol. Há um lugar e horário onde você tem 1 minuto de silêncio para ouvir o canto de um pássaro? Ou onde passam crianças rindo? Sempre haverá possibilidade de criar essas pequenas ilhas, eu as chamo de ilha de contentamento, e na correria de tanta navegação, é necessário ancorar em algum lugar. Isso tem o poder de te moldar de uma maneira que você nem imagina. E mesmo que você não queira, neste exato momento está sendo moldado; a questão é: quem escolheu o que te molda?

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Um caminhante em busca da simplicidade, refletindo sobre música, literatura e vida com Deus.