Aprendizagem: como otimizar seus estudos em qualquer segmento

Neste artigo irei abordar alguns conceitos gerais, técnicas e dicas valiosas referentes ao processo de aprendizagem

Marcelo Buongermino
orangejuicetech
8 min readNov 15, 2023

--

De uns anos pra cá, desde que terminei a minha segunda graduação (Bacharel em Sistemas de informação), me tornei uma pessoa que busca conhecimento de forma constante. Desde então, venho desconstruindo minha autoimagem de aprendiz e buscando reconstruí-la de uma forma mais otimizada. E digo: é um processo que leva tempo, pois existem muitos fatores e hábitos que se consolidaram desde a infância, culturalmente falando.

Na minha experiência, até a formação no ensino médio (e também no ensino superior), no modelo didático fomos sempre bombardeados com conteúdos pré-selecionados e unidirecionais por outros (os professores, no caso) e acabamos associando aprendizagem com a necessidade de ter sempre um docente nos passando conteúdos, mas em momento algum nos ensinando uma habilidade principal e que julgo essencial que serviria de alicerce para todas as outras: a habilidade de aprender a aprender.

Comecei a me interessar mais por aprendizagem depois que li o livro Lifelong Learners: o poder do aprendizado contínuo, do Conrado Schlochauer, que, além de compreender como funciona mais detalhadamente o processo de aprendizagem, viria a ser um grande aliado para o meu desenvolvimento em minha carreira com tecnologia da informação, área que exige aprendizagem constante.

Posteriormente, buscando novas perspectivas e após pesquisar um pouco, iniciei o curso Aprendendo a aprender: ferramentas mentais poderosas para ajudá-lo a dominar assuntos difíceis, na plataforma Coursera, um curso que surgiu do livro como mesmo tema, escrito por Bárbara Oakley. A combinação deste dois conteúdos foi o que me inspirou a escrever este artigo e também poderá ser de grande valor para o seu processo de aprendizagem, independente do contexto que você queira aplicá-lo.

A seguir trarei alguns conceitos importantes sintetizados a partir tanto do livro citado anteriormente quanto deste curso. Ao final do artigo, deixarei links com o material que usei como referência, e já deixo-os como recomendação para se aprofundar mais no tema.

O que é aprendizagem?

Primeiro precisamos entender que possuímos, segundo a neurociência, duas formas de pensar: o modo difuso e o modo focado.
Geralmente quando estudamos, estamos mais habituados a utilizar o modo focado, que é quando estamos concentrados em algo que tentamos compreender.
Já no modo difuso, uma forma diferente de pensar, somos capazes de projetar nosso pensamento de forma mais ampla e relaxada, facilitando a compreensão de um assunto novo.

Fonte: https://modelthinkers.com/mental-model/focused-and-diffuse-thinking

Nós nunca estamos com os dois modos ativados simultaneamente, ou estamos em um ou em outro. Ativando as duas formas, somos capazes de aprender algo novo e complexo de forma mais eficaz quando transitamos por estes dois modos que, a longo prazo, ajuda a criar uma estrutura neurológica para acomodar o conhecimento que está sendo adquirido. São modos complementares um ao outro.

Na visão de Conrado Schlochauer,

“Aprendizado é a explicitação do conhecimento por meio de uma performance melhorada”

Ou seja, aprender não é apenas colocar conhecimento pra dentro (consumir conteúdo), é colocar conhecimento pra fora (aplicar o que foi aprendido em uma situação real), de formas variadas e em diferentes contextos.

Procrastinação, prática, memória e descanso

Quando estamos aprendendo, é normal sentirmos um certo desconforto quando iniciamos uma sessão de estudos. Isso se dá pois nós ativamos áreas do cérebro que estão associadas a dor ou a um sentimento infeliz e, consequentemente, o cérebro busca uma forma de interromper esses estímulos negativos, desviando a atenção para algo agradável que traga prazer imediato, causando uma felicidade temporária mas que a longo prazo pode se tornar um agravante. No entanto, segundo cientistas, essa sensação passa depois de um determinado tempo após o início de uma atividade de estudo. Uma das formas de driblar esse acontecimento é utilizando a técnica Pomodoro, que consiste períodos de foco de 25 minutos e pausas de 5 minutos, repetindo durante ciclos.
A procrastinação é um mau hábito que influencia muitas áreas importantes da nossa vida. Se aprendermos a melhorar nesse aspecto e ter mais controle sobre isso, muitas outras mudanças positivas começarão gradualmente a se manifestar.

Photo by Marcelo Leal on Unsplash

O cérebro humano tem mais facilidade em aprender assuntos quando associamos a coisas do mundo real. Por essa razão, temas pertinentes às ciências exatas são mais difíceis de compreender, por estarem relacionados com a natureza abstrata das ideias. Portanto, é fundamental praticar ideias e conceitos de forma abundante pois, dessa forma, firmamos as conexões neurais durante o processo de aprendizagem: quanto mais abstrato for o assunto, mais importante é a prática. Em suma, ocorre assim:

  • Quando começamos a aprender algo novo para resolver um problema, surgem padrões neuronais no cérebro, porém de forma tênue
  • Na segunda interação, quando forçamos a resolução do problema sem olhar para a solução, fortalecemos esse padrão (ganha-se mais “corpo”)
  • E finalmente, quando dominamos o assunto de modo a aplicá-lo de forma consciente de ponta a ponta, esse conhecimento se torna fixo

É recomendável que o aprendizado seja de modo espaçado, ou seja, é mais eficiente aprender pouco todos os dias do que muito conteúdo em pouco tempo para não sobrecarregar o cérebro, e é importante também que foquemos também em outros assuntos. Desta forma, o cérebro entra no modo difuso e acomoda o conhecimento adquirido, trabalhando em background na compreensão dos conceitos, formando uma base de conhecimento mais forte.

Em relação a memória, possuímos dois tipos: a memória de trabalho e a memória de longo prazo.
A memória de trabalho tem a ver com o que está sendo processado imediatamente e de forma consciente em nossa mente. Para que algo se aloque na memória de trabalho, é necessário que seja repetido de forma constante.
Já a memória de longo prazo funciona como se fosse um grande armazém capaz de acomodar muitas informações. É nela que armazenamos conceitos e técnicas fundamentais, porém as vezes torna-se custoso recuperar tais informações. Prática e repetição fará com que conteúdos da memória de longo prazo sejam transferidos para a memória de trabalho. A repetição espaçada (distribuição da carga durante dias) é uma técnica que pode ajudar nesse aspecto. Mas é importante ter em mente que é um processo que demanda tempo.

E para se tirar o máximo de proveito do processo, nada mais importante do que dormir bem. Uma noite de sono bem dormida faz com que o cérebro elimine toxinas, se regenere e organize ideias, conceitos e a carga de aprendizagem. Dormir bem auxilia na capacidade de resolvermos problemas complexos, bem como compreender o que estamos aprendendo. Pode ter acontecido com você de alguma vez ter sonhado com o conteúdo que está aprendendo e em muitos casos até ter acordado com alguma solução para um problema que estava tentando resolver. E isso é um bom sinal, pois sonhar com o que estamos estudando pode aumentar substancialmente nossa capacidade de compreensão, consolidando as memórias em blocos mais fáceis de compreender

Photo by Minnie Zhou on Unsplash

Sou da área de desenvolvimento de software e, particularmente, não pertenço ao clube dos que passam a madrugada estudando e escrevendo código fonte, pois priorizo o meu sono. Mas se isso tem funcionado para você, vá em frente, não existe o certo ou errado, apenas o que se encaixa melhor na rotina de cada um! Apenas tenha em mente que a longo prazo pode ser algo que possa trazer algumas consequências. Faça experimentos e organize sua rotina da maneira que melhor se adeque às suas necessidades.

Processo x Produto

No contexto geral da aprendizagem, é comum iniciarmos uma rotina de estudos com alguns sentimento negativos. Se nesses momentos nos flagrarmos evitando certas tarefas que nos façam nos sentir desconfortáveis, há uma forma de contornar essa situação: focando no processo, e não no produto (que também podemos usar o termo resultado) em si. Contextualizando:

  • Processo: fluxo de tempo, hábitos e ações associados com um fluxo temporal, que nos levarão a um resultado
  • Produto: resultado final de uma tarefa

Focar no processo evita de cairmos em ciclos de procrastinação. E uma boa maneira para manter o foco no processo é usando a técnica pomodoro, já citada anteriormente. Focar no processo permite nos manter relaxados durante a atividade ao invés de ser assombrado o tempo inteiro com a preocupação com o resultado.

O que não é considerado aprender?

No capítulo 4 de seu livro, Conrado Schlochauer faz uma abordagem sobre o que não é aprender, onde citarei tais elementos aqui de forma resumida. O que não é aprender?

  • Não necessariamente dependemos de outra pessoa para conduzir o nosso aprendizado. Entretanto, é desta forma que fomos instruídos desde pequenos na escola. Ser um aprendiz autodirigido, que é quando nós mesmos somos capazes de criar as nossas estratégias de aprendizado, é o que quebra esse paradigma.
  • Aprender é algo que pode ser “desconfortável” para alguns, mas não é um mal necessário. Graças ao sistema convencional de ensino baseado em lista de presença, comportamento e desempenho, pressão por passar de ano, criamos esse “trauma” que pode acompanhar o aprendiz adulto, fazendo-o associar aprendizagem a algo negativo, quando na verdade a aprendizagem deve vir acompanhada de descoberta e prazer.
  • Não levamos em consideração a aprendizagem informal, que é a aprendizagem fora de um ambiente especificamente voltado para ensino. É bem provável notar que boa parcela do nosso desenvolvimento aconteceu, acontece ou acontecerá fora do ambiente escolar e saber reconhecer isso é importante
  • Aprender não é somente consumir mais e mais conteúdo de fontes diversificadas. Aprendizado não é sinônimo de aquisição de conteúdo, apesar de que o sistema educacional padrão esteja vinculado a esta ideia

Síntese de elementos fundamentais

Para concluir, gostaria de citar alguns tópicos fundamentais a serem considerados na sua jornada de lifelong learner, citados no capítulo 14 do livro:

  • Aprenda de maneira intencional
  • Defina o que você quer aprender e entenda o seu porquê
  • Separe um momento semanal ou quinzenal para reflexão e planejamento
  • Tenha um tempo pré-definido, ou seja, trate o seu aprendizado como prioridade e reserve um tempo, não se limite a usar apenas períodos de tempo que sobraram

Espero que esse artigo possa agregar bastante valor em sua jornada de aprendiz e que esse panorama geral aumente suas habilidades de aprendizagem. Deixo como recomendação tanto os livros quanto o curso, são recursos que valerão a pena para desenvolver essa habilidade que atualmente é bastante requisitada em um mundo repleto de informações em abundância!

Referências

Livro — Lifelong Learners: o poder do aprendizado contínuo, por Conrado Schlochauer
https://www.amazon.com.br/Lifelong-learners-aprendizado-mantenha-se-relevante/dp/6555441100/ref=sr_1_1?crid=15ZX1KW4VNS2Q&keywords=lifelong+learners&qid=1683330898&s=books&sprefix=lifelong%2Cstripbooks%2C398&sr=1-1

Livro — Aprendendo a aprender: como ter sucesso em matemática, ciências e outras matérias, por Bárbara Oakley
https://www.amazon.com.br/Aprendendo-Aprender-Matem%C3%A1tica-Ci%C3%AAncias-Qualquer/dp/8586622451

Curso (gratuito) — Aprendendo a aprender: ferramentas mentais poderosas para ajudá-lo a dominar assuntos difíceis, por Coursera
https://www.coursera.org/learn/aprender

--

--