De analista financeiro a desenvolvedor: uma transição de carreira

Lucas Nabesima
orangejuicetech
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4 min readMay 2, 2023

O ano era 2020. A pandemia do Covid-19 ainda não tinha atingido seu auge e todos nós estávamos em casa com medo, assistindo a lives no YouTube e fazendo pães sem parar.

Naquela época, eu trabalhava como analista financeiro em uma startup e me entediava sem fim cuidando da contabilidade e das finanças da empresa. Um dia, cansado de fazer o mesmo trabalho novamente, vi um anúncio de um desses eventos de introdução de conceitos básicos de programação, do tipo “Do Zero à Primeira Vaga!”

Algum dessas semanas aí.

Antes que você venha rir de mim por ter caído no conto do “salário de R$ 10 mil em 6 meses!”, já adianto que não foi este o caso. Eu já tinha por certo que isso não aconteceria, mas a ideia de fazer algo útil, que pudesse ser visto ou usado por outras pessoas me atraiu.

Veja bem, eu sempre gostei de construir coisas. Quando era criança um dos meus brinquedos favoritos era um baldão de Legos, que eu usava para montar coisas: casas, prédios, carros… Qualquer coisa.

Em um outro emprego, minha atividade preferida era preparar a planilha de Excel que calculava os resultados semanais das equipes, usando VBA. Então achei que seria um passo natural me aventurar nessa coisa chamada “programação”, que até então achava que era completamente fora do meu alcance.

Pois bem. Finda a semana, consegui entender o básico e percebi que, pra mim, esse negócio de ser desenvolvedor de software poderia ser um daqueles cenários fáceis de aprender, mas difíceis de dominar. Tomado pela coragem que só quem não tem ideia do que está fazendo tem, decidi que “se tem gente que consegue ganhar viver de programação, eu também consigo!”.

Desde então, tenho escutado muito sobre o quê devo estudar. “Estude JavaScript e foque em React, vai conseguir um emprego rapidinho!”, “Python é muito bom pra tudo, pode ir sem medo.”, “PHP está morto, nem adianta perder seu tempo…” etc. E isso me deixou completamente perdido.

Se Python é bom pra tudo, porque eu deveria estudar outra coisa? Mas se ele é bom pra tudo, porque eu deveria focar em React para conseguir um emprego rápido? E se o PHP está morto, porque tem tantas vagas pra ele?

Então ouvi algo que me marcou profundamente: “A principal tarefa do desenvolvedor, seja ele front ou back-end é resolver problemas. A linguagem que ele vai utilizar para isso é somente uma ferramenta.” Ótimo, já me deu um norte dizendo que a escolha de linguagem é meio irrelevante, mas como eu poderia ficar melhor nessa coisa de resolver problemas?

Procurando por ferramentas que me auxiliassem nisso, descobri que existem plataformas exatamente para o propósito que eu estava querendo. Sites como HackerRank, LeetCode e Codewars disponibilizam exercícios para treinar essa habilidade.

Então eu passei a fazer pelo menos um exercício no HackerRank diariamente. No começo, o que o site me propôs foram coisas simples, como criar um programa que execute o FizzBuzz até o número 30.

Aos poucos, a dificuldade foi aumentando e trazendo problemas mais desafiadores. Resolver o problema inteiro parecia impossível. Como assim, eu preciso descobrir qual número se repete um número ímpar de vezes dentro de um array? Ou descobrir quando (ou se) um gato vai alcançar um rato, dado que eles estão em uma linha reta e andam a velocidades constantes?

Bom, talvez eu não saiba como descobrir qual número se repete um número ímpar de vezes, mas talvez eu possa contar quantas vezes cada número se repete. Aí, sim, eu poderia verificar qual deles se repete um número ímpar de vezes e retornar essa informação.

Poderia fazer o mesmo processo para ver se o gato consegue pegar o rato… eu não sei dizer, só de olhar para o problema, se é possível, mas eu consigo identificar as posições deles após 1 movimento de cada… Se eu repetir esse loop 𝑛 vezes, posso verificar se em algum momento eles se encontram!

Esse processo de quebrar um problema grande em vários problemas menores e criar um algoritmo para resolvê-los aprimorou meu pensamento lógico, desenvolveu minha habilidade de resolução de problemas e me estimulou a usar as ferramentas que eu já conhecia de maneiras criativas.

E, bem, é isso; foi assim que eu consegui me encaminhar dentro desse universo que é o desenvolvimento de software.

Por hora é só. Bebam água.

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