Guia de mapeamento dos resultados dos testes de usabilidade

“O que fazer com esse tanto de anotações…”

Vanessa Almeida Martins
orangejuicetech
7 min readJun 7, 2022

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Durante meus estudos sobre testes de usabilidade, foi quase que natural levantar a seguinte questão: “Como entender e analisar os diferentes testes e mapear os dados colhidos?”
A primeira vista, a resposta para essa questão parece algo óbvio, porém para um jovem padawan¹ nada ainda é tão óbvio assim, e são tantas descobertas que podemos nos perder ao tentar mensurar os dados obtidos.

Mestre Yoda de Star Wars meditando novo ensinamento

Pra quem eu devo documentar?

Um projeto tem início, meio e fim, mas o produto é vivo, ou seja, continua recebendo melhorias — enquanto ainda há uma demanda que justifique o investimento.

Sendo assim é fundamental documentar, organizando e mensurando os dados colhidos durante o teste de usabilidade, registrando a história e os motivos pelos quais influenciaram as decisões tomadas e que levaram a determinada ação.

Com a documentação organizada e catalogada devidamente, todos os integrantes do projeto — novos, antigos, de áreas diferentes ou os stakeholders — podem entender, aprender sobre o contexto do produto e também agregar novos insights de perspectivas diferentes.

Sendo o projeto como um ser vivo, ele está sempre em evolução e quando documentamos podemos gerar insights futuros, embasados nos dados das histórias que já criamos, uma vez que sabemos por onde já passamos.

“Seu trabalho não é definir o produto final, mas sim definir o menor produto possível que alcance seus objetivos.”

— Marty Cagan, Inspired: How to create Products Custumer Love

Elisa Volpato, co-fundadora e CPO do TESTR (Plataforma de teste de usabilidade ágil que ganhou 5 prêmios) cita que existem duas dúvidas recorrentes em seus workshops:
“O que anotar e o que fazer com as descobertas?”
“Depois dos testes, como organizar os resultados?”

Por onde começar?

John Travolta perdido olhando de um lado para outro

O início do processo de análise e mensuração dos dados colhidos, para quem está começando, parece assustador e podemos ficar perdidos com tantos dados, mas durante minhas leituras o denominador comum de “por onde começar?” foi organização e busca por padrões.

A vantagem de se estar começando em um ambiente já “consolidado”, como o UX Research, é que certos caminhos já foram percorridos e tem uma demanda enorme de estudos já realizada para que possamos ter um norte a seguir.

Começando pelo fato de sabermos que existem ferramentas para a coleta de dados e ser imprescindível usarmos uma planilha/tabela para organização dos dados.

Como registrar os dados em templates?

Existem alguns templates disponíveis para consolidar os dados de teste de usabilidade, porém eu separei esse por estar em português e ter as informações mais claras, o que torna mais fácil aprender a tabular os dados e analisar os padrões:

Modelo de Construção de Teste de Usabilidade

Caso se interesse e queira ver o template de consolidação.

Na coluna “ETAPAS ESPERADAS” do processo são basicamente as etapas do Teste de Usabilidade.
A primeira coluna é o espaço pra colocar essas informações pra conhecer o usuário e seu histórico com o serviço.
Cada uma das colunas seguintes representa uma tela com a qual o usuário vai interagir ao realizar o teste de usabilidade.

Nas linhas, os campos foram divididos em 3 categorias:

  • Pontos positivos: que são as hipóteses que validamos conforme o teste.
  • Pontos negativos: que são os pontos de dor que o usuário experimenta durante o processo e que podem ser tanto relativos ao serviço em geral, quanto com o uso do produto.
  • Interação: aqui colocamos os insights que tivemos relativos à interface.

Também é possível registrar as emoções dos usuários na linha “SENTIMENTOS” em uma escala de emoções, sendo 1 zangado e 5 muito feliz.

Uma tabela com emotions chorando, triste, feliz, apaixonado e de óculos com dados ao lado

Um teste de usabilidade com usuários reais pode apontar facilmente as tarefas em que as pessoas têm mais dificuldade, e para sermos mais assertivos no “quão” difícil está sendo uma tarefa, ou não, é possível usar o SUS (Uma de várias escala numéricas de usabilidade que existem).

O ideal é que o teste do SUS seja aplicado ao final do teste de usabilidade, após o usuário tentar realizar um determinado grupo de tarefas usando o produto.

Indico o uso do SUS por ser o método de averiguação do nível de usabilidade de um sistema mais simples e mais fácil de mensurar para quem não tem muita experiência.

Para saber mais sobre escalas numéricas esse post da Marianne Braum explica o que são e como usar escalas como o System Usability Scale.

Extrair números concretos dos dados ajudarão a determinar onde estão os problemas mais comuns e sua gravidade.

As métricas de dados quantitativos para testes de usuários incluem:

  • Taxa de sucesso: a porcentagem de usuários no grupo de teste que finalmente concluíram a tarefa atribuída.
  • Taxa de erro: a porcentagem de usuários que cometeram ou encontraram o mesmo erro.
  • Tempo para concluir a tarefa: o tempo médio que levou para concluir uma determinada tarefa.
  • Rankings de satisfação: uma média da satisfação autorreferida dos usuários medida em uma escala numerada.

Cada ponto de usabilidade gerou uma lista de problemas, e alguns pontos são mais graves que outros, por isso é necessário classificá-los com base no impacto se resolvidos.

Para auxiliar e guiá-lo durante essa jornada por esse universo, Jakob Nielson propôs que a gravidade de um problema é a combinação de três fatores nesse artigo.

É possível classificar os problemas em:

  • Alta: impossível para os usuários completarem tarefas
  • Média: difícil para muitos usuários
  • Baixa: difícil, mas não afasta os usuários

Caso a sua página ou aplicativo tenha vários problemas, se torna necessário classificá-los dessa forma para saber quais serão prioridades para serem resolvidos.

Por que começar padronizar o mapeamento dos testes?

  1. Reduz tempo: usando um template, é possível reduzir o tempo para consolidar as descobertas de Testes de Usabilidade;
  2. Facilita análise: ter uma tabela de informações organizadas por categorias (pontos positivos, negativos, emoções, informação de cada tela) torna mais fácil analisar os dados;
  3. Evidência descobertas: caso já tenha mais experiência, durante o teste você já tem uma visão clara dos padrões;
  4. Documentação clara e organizada: E, como já foi falado anteriormente uma documentação bem-feita faz com que todos os integrantes do projeto entendam a sua história do início ao fim.

Essa planilha serve como documentação, sendo assim você pode colocar apenas os insights na apresentação, mas é interessante deixá-la disponível para quem quiser consultar o arquivo depois.

Realizando um relatório com os dados…

Como eu apresento esse monte de Excel?

Nazaré Tedesco realizando cálculos totalmente confusa

Organize seu relatório apresentando os problemas de maiores prioridades, identificando a área específica, interação ou fluxo que causou o problema. Para isso é possível, ainda, incluir vídeos, capturas de telas, gifs ou transcrição mostrando como seria o fluxo da tarefa que a pessoa realizou (Dependendo da forma como será feito a apresentação do relatório).

“Pesquisa invisível é pesquisa desperdiçada.” — Gregg Bernstein.

Descubra qual a mudança mais eficiente para mudar o comportamento do usuário e apresente soluções para os problemas de maiores prioridades.

Inclua, sempre que possível, qualquer feedback positivo para ajudar a equipe a saber o que está funcionando bem e deixá-los motivados.

Você pode se aprofundar mais nesse assunto e ver dicas nesse artigo da Ania Mastalerz, gerente de pesquisa da Xero.

Uma caixa de texto com palavras escritas com WordArt

Use e abuse dos dotes no Photoshop, no Sketch, Figma, no Canvas ou em alguma outra ferramenta de sua preferência, monte infográficos, tabelas para ficar mais fácil a leitura dos dados, use figuras, seja criativo!

Depois que as mudanças recomendadas foram decididas e implementadas, continue testando, refinando e testando novamente, afinal após a primeira apresentação de relatório no qual você mostrou o valor do teste, o stakeholder irá preferir investir dinheiro com pesquisa do que gastar dinheiro refazendo algo.

Obs. Você deve estar se perguntando sobre quais as ferramentas usar e isso ficará para o próximo artigo, me aguardem.

Esse artigo é feito por uma padawan¹ em início de migração de carreira que está em constante evolução e construção, deixo aqui livre para novas ideias e sugestões.

Então me ajude a mapear, mensurar todas as informações e, como diria Gabriela Flor, colocar ordem no caos!

¹ Significa aprendiz, iniciante, e é um termo utilizado nos filmes Star Wars. São crianças que faziam treinamentos para se tornarem um cavaleiro Jedi, os cavaleiros do lado bom da força.

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