As Ordens Internacionais: 1815–1991

Do Congresso de Viena a queda do muro de Berlim

Contemporaneum
Ordens Internacionais

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Escrito Por Roberto Carnier

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A história deve ser analisada através de diversos pontos,como a cultura, economia, política de uma sociedade e principalmente a noção de Estado. A criação do Estado Moderno, por exemplo, após a Paz de Westphalia de 1648, deu início ao sistema internacional, pelo qual a soberania dos estados — dada através de relações externas, agora não dependente mais de um governo central, da supremacia papal — era reconhecido entre as nações. Desse sistema, surgiu o conceito de Ordem Internacional.

Esse conceito nada mais é do que um concenso entre diferentes nações na busca de um objetivo comum. A partir da queda de Napoleão até a queda da União Soviética, a humanidade presenciou cerca de três ordens internacionais. Em todas elas, havia um objetivo comum entre as grandes potênciais, na tentativa de uma estabilidade de interesses , através de leis internacionais e acordos.

Nesse artigo, retratarei sobre três ordens internacionais, começando a partir do Congresso de Viena de 1815, um de seus produtos, que configurou a ordem mundial do século XIX até a primeira guerra mundial; A segunda Ordem, do período entre guerras e da criação da Liga das Nações e finalmente a terceira, o período da guerra Fria, da ONU e o conselho de segurança congelado.

A Primeira Ordem:

Do Congresso de Viena à Primeira Guerra Mundial 1815–1914

Bandeiras das diversas neo colonias inglesas conquistadas ao longo do século XIX. Um retrato do Imperialismo da época

O Congresso de Viena, realizado durante o fim da era napoleônica, é reconhecido como a primeira ocasião na história, em uma escala continental, na qual pessoas se uniram para assinar um tratado, ao invés do costumeiro meio de entrega de mensageiros que iam de país a país. O estabelecimento de tal congresso, formou o cenário das políticas internacionais européias até o início da primeira guerra mundial.

Após a queda de Napoleão Bonaparte, as cinco principais potências contrárias ao avanço francês, Prússia, Rússia, Áustria e Inglaterra — e os monarquistas franceses — estabeleceram uma ordem internacional para que, no futuro, nenhuma grande potência detivesse maiores poderes do que as outras, principalmente em território europeu, ocasionando um desequilíbrio dentro dessa nova ordem. Ainda, fora estabelecido de que haveria o Livre comércio entre tais estados europeus e a disputa-territorial extra-européia dada pelo Imperialismo. Configurava-se a Europa do Século XIX,

Nesse período, A Europa viveu um grande período de paz, sem guerras em larga escala, na qual o avanço da tecnologia e a revolução industrial marcaram presença. O Imperalismo era a política dominante, na qual nações buscavam novas matérias primas de fácil obtenção e mão de obra barata, para aumentar ainda mais a sua produção interna. Além de diversificar a produção e escoar o excesso da população de suas metrópoles para os novos territórios explorados.

Excluindo-se a Guerra da Criméia, os únicos contra-tempos dessa época foram as revoluções nacionalistas e socialistas de 1848 e 1860–70, tendo maior impacto em países onde a soberania territorial ainda não estava consolidada, como no caso da Itália e Alemanha.

Em 1848, conhecida como a primavera dos povos, os países ainda não tão industrailizados, cujo setor primário ainda era destaque, e que ainda não tendo um proletariado forte e que estava crescendo, não tendo força para realizar reivindicações próprias, apenas apoiava as propostas da burguesia: reconhecimento de soberania e governo constitucional. As revoluções que se alastraram nesses países foram impedidas pelas potências que as governavam, mas trouxeram a fagulha necessária para as guerras de unificação.

A Itália era dividida em vários estados independentes. No Congresso de Viena, estabeleceu-se que diversas potências ficariam com uma parte da Itália.(ler mais sobre Unificação da Itália e seu cenário aqui). Apenas em 1870 o país iria se unificar após as demais revoluções nacionalistas.

Guerras Franco-Prussianas de 1870

Já a Alemanha, reconhecida e estabelecida pelo mesmo congresso de 1815, fora reorganizada em 38 estados , dominados por estados independentes e pela intervenção da Áustria, na reconhecida Confederação Germânica.Com a criação do Zollverein,união aduaneira dos Estados alemães, liderado pela Prússia, houve um grande crescimento econômico e industrial principalmente na Prússia. A plena expansão do capitalismo na região, que era impedida por estados alemães cujo setor primário ainda prevalecia, só seria possível através da unificação de todos os estados. A Unificação ocorreu apenas após a Guerra Franco-Prussiana em 1870.

Atrasados na corrida Imperialista, mas ambiciosos por progredirem, a Itália e a Alemanha iniciaram um processo de grande Industrialização e expansão extra-territorial. O último país em questão teve maior sucesso. Após a sua unificação, a Alemanha teve uma expansão industrial extremamente forte, chegando a competir com o Reino Unido. Sua entrada tardia na corrida imperialista, aliada a tal avanço econômico, ameaçava a expansão britânica em suas neo-colônias. Nesse cenário, um grande paradoxo surgia.

O surgimento do Império Alemão destruiu o equilíbrio de poder que havia sido criado no Congresso de Viena, em um mundo Multipolar e hegemônico, do ponto de vista econômico do liberalismo.

No prazo de algumas décadas, após 1870, a Alemanha iria se transformar na primeira potência econômica e militar da Europa. A partir de sua unificação, um dos principais objetivos da política exterior da Alemanha foi promover o isolamento da França na Europa e evitar possíveis consequencias do revanchismo francês.

Em 1882, criou-se a Tríplice Aliança, onde Itália e Austria aliaram-se militarmente à Alemanha. Buscando tambem um posicionamento,a França aliou-se a Grã Bretanha e a Russia, países contrários a expansão russa e a favor da preservação da ordem internacional — Embora a Rússia estava mais interessada na contra expansão do Império Otomano e dominar suas terras.

Estava configurado o cenário do barril de pólvora, que culminou no início da Primeira Guerra Mundial, cujo estopim fora o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria em Sarajevo.

A Segunda Ordem

A Liga das Nações

1919–1939

Após a primeira guerra mundial e os diversos tratados de paz assinados, como o tratado de Versalhes, surgira a Liga das Nações, o primeiro órgão internacional cujo objetivo em comum era o estabelecimento do fim de conflitos internacionais, através do tratado de Brian-Kellog em 1928. Para impedir tal feito, sanções econômicas pesadas seriam impostas a países que ousassem iniciar conflitos

Um dos grandes defeitos da Liga das nações era que ela não possuia nenhum exército central, estando as principais potênciais como órgãos reguladores de descompromissos com as leis internacionais. As potências, diante de situações de conflitos internos e internacionais, relutantemente agiam para impedir, evitando crises diplomáticas. SOma-se a isso a não presença norte americana, o surgimento dos movimentos fascistas na Europa e a tentativa de criarem suas próprias zonas de influência e a política de apaziguamento contra a expansão de Hitler na Europa e de Mussolini no mediterrâneo.

Praticamente, a Liga das nações falhou ao tentar conter o que ela própria tinha tentado criar, um mundo de paz e homogêneo, do ponto de vista econômico e político. Com a criação do Eixo e de seus estados aliados, a Ordem Mundial, mais uma vez, encontrava-se dividida. Iniciava-se a Segunda Guerra Mundial.

Charge de Belmonte. Chamberlain e Hitler: O primeiro tentando preservar a Ordem Internacional mas com medo de impedir o segundo de destruí-la

Charge de Belmonte. Chamberlain e Hitler. O primeiro tentando preservar a Ordem Internacional mas com medo de impedir o segundo de destruí-la.

A Terceira Ordem

A ONU e o Mundo Bi-Polar- 1945- ???

O Muro de Berlim: O retrato de um mundo dividido

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo estava dividido em duas zonas de influênica: uma capitalista e outra socialista, lideradas pelos EUA e URSS respectivamente. A expansão soviética ao oeste, após as sucessivas derrotas nazistas em Stalingrado, Leningrado e na batalha de Kursk, e a falha tentativa de ajuda da Itália enviando tropas alpinas para lutarem com a Wehrmacht, fez com que o exército vermelho dominasse grande parte do leste europeu, incluindo a totalidade da Alemanha Oriental.

A criação da ONU veio como uma medida de garantir a paz e segurança internacionais, através de um conselho de segurança, formado por cinco grandes potências: EUA, URSS, China, França e Inglaterra, membros permanentes e demais membros permanentes com representatividade de diversos continentes ao redor do globo.

Um mundo multipolar, como o princípio inicial propunha, não se consolidou. Países aliados da URSS e dos EUA “enfrentavam-se” em blocos, objetivos e interesses diferentes. Cada lado nunca chegou a se enfrentar diretamente, mas sim indiretamente.

A Guerra Fria demarcou-se por diversas crises e conflitos internacionais localizados, como a Crise dos Mísseis, a independência de diversas colônias africanas, ora adotando o socialismo e capitalismo, as guerras na Indochina, e os conflitos no Oriente Médio. Assim sendo, o papel do conselho de segurnaça não funcionou, pois os valores do mundo bi-polar não eram homogêneos e sim heterogêneos.

o fim da década de 90, a abertura econômica e política no bloco soviético, através de políticas como a Perestroika e Glasnost do premiê Gorbachev , desencadeou um processo de crises internas a favor de liberdade política de diversos estados satélites da URSS. Em 1991, a URSS, em uma crise política internta, é dissolvida. A cortina de ferro cai e dá-se o ínicio a ordem mundial atual.

Roberto M.S. Carnier

Bibliografia

Mello e Costa — 2001 — História Moderna e Contemporânea

Eric Hobsbawm — A Era dos Impérios — Ed. Terra

Aulas de ciência política ministradas pelo professor Gunther Rudzit-

Henry Kissinger — A World Restored; Metternich, Castlereagh and the Problems of Peace — 1812–22

Michael Mann — Fascismos

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Um Blog sobre História e Geopolítica — A blog about History and Geopolitcs — Editor Roberto Carnier