As Ordens Internacionais

Os primeiros 15 anos do século XXI e a instabilidade da ordem atual

Contemporaneum
Ordens Internacionais

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Por Roberto Carnier

Música para leitura

1914

Gravilo Princip estava parado perto do café Moritz Schiler quando avistara o carro do arquiduque Francisco Ferdinando entrando na rua, rota não programada da visita de sua alteza em Sarajevo. O motorista do carro começou a dar ré e por uma falha não conseguiu prosseguir, foi ai que Gravilo empunhou uma pistola e com dois tiros matou o arquiduque Franciso Ferdinando e sua esposa, Sofie. Em uma cadeia, blocos de nações entraram em guerra.

2001

Em Nova Iorque, todos acordaram e foram direto aos seus trabalhos. Alguns pegaram trem, ônibus ou taxi. As 08:46, um avião da American Airlines colide com um símbolo máximo dos EUA, a torre norte do World Trade Center. Logo depois, um segundo avião colide com a torre sul. Em uma cadeia, todas as nações da OTAN automaticamente afirmaram o seu apoio contra os responsáveis pelo ataque —e no futuro nações que supostamente “apoiavam iniciativas terroristas”.

1914 e 2001. Em ambas instâncias o mundo vivia a virada de século. No primeiro, a Era dos Imperialismos promovido pela potências europeias, das imposições sociais e econômicas a nações não desenvolvidas e a implementação da indústria para a exploração (roubo) de seus respectivos materiais. No segundo momento, o fim da guerra fria, a vitória do bloco ocidental contra a cortina de ferro da União Soviética e um período de estabilidade e euforia de novas nações aderindo ao desconhecido capitalismo.

De certo modo, a estrutura crua das ordens internacionais, em sua essência, não mudou desde os idos do congresso de Viena, passando pela primeira guerra até os dias de hoje. As noções de Estado, soberania e conceitos de agressão, mudando um ou outro conceito de casus belli, continuam as mesmas. Infelizmente, a guerra ainda é uma continuação da política.

Entretanto, a partir do século XX, nações fracassaram e vem fracassando quanto a previsão de fatores improváveis, ideias e movimentos os quais geram instabilidades às ordem vigentes, tais como o terrorismo internacional, ataques cibernéticos e ideias.

Além de outros fatores complementares que contribuem a instabilidade da ordem internacional atual: potências cada vez menos interferindo em questões internacionais, buscando aproximações isolacionistas; órgãos internacionais tornando-se inexpressivos e novo atores ganhando maior relevância.

Nesse artigo, tentarei dissertar um pouco sobre a realidade mega complexa a qual vivemos e quais soluções possíveis temos para conter tantas incertezas as quais nos cercam e prevenir um caos maior na Ordem Internacional Atual.

Inimigos e Ameaças invisíveis

Tentativa de Assassinato de João Paulo II em 1981

1889 -1945

Adolf Hitler nascera na Áustria em Braunau am Inn. Nascido de um pai o qual o abusava e de uma mãe superprotetora, viveu em uma época de extremo nacionalismo alemão e da ascenção do Darwinismo Social. Nutriu as ideias da época com rancor e ódio. Participara da Grande Guerra como dever moral contra todos os que considerava como inferiores. Ao final do conflito, complementou seus valores e nutriu o ódio culpando a derrota da Tríplice Aliança aos grandes banqueiros, judeus e tudo o que representava o inimigo. Cultivara tudo isso através da política.Virou chanceler em 1933 e colocou o mundo em uma segunda guerra mundial em 1939. Suicidou-se em 1945.

1968–2001

Mohamed Atta era apenas um garoto egípcio quando fora transferido pelos seus pais para estudar na Alemanha. Pais conservadores e religiosos, Atta vivera uma vida reclusa socialmente e de intensos estudos. Sempre cultivara ódio pelo Ocidente pelo seu expansionismo e destruição dos valores e culturas do Oriente Médio. O seu ódio e rancor o fizeram conhecer segmentos da Al-Qaeda na Alemanha. Conheceu Osama Bin Laden e jurou lealdade incondicional para aniquilar o ocidente. Em 2001 se matou ao jogar um avião contra o World Trade Center.

O expansionismo do radicalismo islâmico no Oriente Médio vai muito além do conceito Westphaliano de Ordem Mundial. Muitos políticos ocidentais não perceberam que tais movimentos representam uma ameaça a qual vem a desestabilizar o conceito de soberania das nações. Grupos como o Estado Islâmico procuram um certo passado de glória (assim como eram feitos pelos nazi-fascismo ao exaltar a Idade Média como a pura cultura) afim de instaurar governos que remontam o período das cruzadas, onde grandes califados e seus extensos territórios impunham medo ao ocidente. Mas como nações podem inibir que tais grupos continuem se alastrando? Como elas podem impedir a instabilidade da Ordem Vigente?

É nítido que a agressão e a política de intervencionismo em prol de uma determinada ameaça é mero suicídio, e de todas as guerras dessa natureza, praticada pelos EUA pós 2001, todas elas mostraram fracassadas.

Em primeiro lugar, as nações terão que ser duras quando é preciso e usarem a diplomacia a seu favor, Smart Power. No Oriente Médio, os EUA devem incentivar e influenciar estados aliados da região para que eles possam confrontar o terrorismo local , criando uma balança de poder estável e que represente ameaça a tais grupos. Atacar primeiro e procurar soluções depois, através de políticas duvidáveis como realizadas pelo governo W.Bush, são ineficientes e extremamente questionáveis.

Táticas Alemãs de Blitzkrieg: Ataque, Penetração e Cercamento ,provaram-se eficientes e surpreenderam os inimigos, acostumados a táticas da primeira guerra, ao suprimir linhas de abastecimento e a aniquilação de infantarias através de cavalaria pesada.

Em segundo, as nações devem aprimorar seus estudos quanto a prevenção de fenômenos políticos e militares que gerem risco e instabilidade em qualquer âmbito, principalmente Wild Cards. Ataques cibernéticos são um exemplo de como as nações estão despreparadas. No futuro, divisões militares especiais poderão usar do hacking como forma de desestabilizar a energia, comunicação e conexões do inimigo para facilitarem suas invasões — o que parece ser filme já é uma realidade.

Terceiro, estados se aliam a outros em situações em que terceiros apresentam ameaças a sua soberania e que detém, por exemplo, poderes tecnológicos eficientes, certas proximidades geográficas, intenções agressivas e poderes militares fortes. De certo modo, na maioria dos casos, nações aliam-se e equilibram-se através de um bloco para conter tal ameaça. O que é mais paradoxal a essa convenção é que, o Estado Islâmico é praticamente uma ameaça invisível, podendo atacar a qualquer momento e em qualquer lugar. Para derrota-lo é preciso primeiro que as potências ameaçadas assumam que estão despreparadas e desconhecem o inimigo. As mesmas devem investir em contra-inteligência e repensar em estratégias contra milicias e terrorismo. No fim é voltar as teorias básicas de Sun-Tzu e revisitar táticas de guerrilha do Vietnã.

Liga das Nações 2.0

Assinatura do tratado de Versalhes

1918

“We are participants, whether we would or not, in the life of the world…. We are partners with the rest. What affects mankind is inevitably our affair as well as the nations of Europe and Asia” — Woodrow Wilson

1945

“It must be thoroughly understood that the lost land will never be won back by solemn appeals to the God, nor by hopes in any League of Nations, but only by the force of arms.” — Adolf Hitler

O mundo praticamente vive um cenário multipolar e bastante similar ao período do entre guerras (1919–1939). Primeiro estamos sobrevivendo a uma pós-crise econômica mundial; grandes potências questionam blocos geográficos e muitas vezes se distanciam das organizações internacionais e seus maiores problemas; Intolerância, moralismos irracionais, racismo e xenofobia voltam a crescer, dando voz de poder a partidos de extrema direita em nações mais atingidas pela crise econômica (e até mesmo outras que saíram dela mais rapidamente). E finalmente, um certo descrédito pelo sistema das Nações Unidas.

Uma reforma nas nações unidas é cada vez mais urgente, tendo em vista que, nos últimos 15 anos, violações e descrédito às suas medidas foram executadas por várias potências membro. Cada vez mais as nações buscam medidas multilaterais fora de seu âmbito.

As Nações Unidas podem se tornar uma Nova Liga das Nações caso não se adequarem a realidade política do século XXI. A ONU deve concretizar maior representatividade de opinião a aquelas nações que venham a aderir a liberdade de expressão, valores democráticos e valores primários dos direitos do homem e serem mais expressivas contra nações que não seguem tais valores

A ideia central deve ser a representatividade de várias nações, criando um verdadeiro equilíbrio de poderes internacional , impondo ameaças latentes as nações que violem os direitos e princípios universais da instituição.

Atores não se resumem apenas a Estados.

Stalin e Churchill — Afigura do ditador soviético como tomador central de decisões e sua paranóia de que os aliados queriam aliar-se a Hitler, foram fatores primordiais de Stalin no envolvimento da URSS na segunda guerra

Políticos devem aceitar que não existem apenas Estados como principais influenciadores no cenário internacional. Interesses, Ideias, pessoas e principalmente a economia movem o mundo muito antes mesmo da Paz de Westphalia ter sido concretizada.

Todas as nações devem estar atentas principalmente quanto ao intangível e ao improvável. Investimento pesado em análises de risco e em estratégias de mudança devem ocorrer o quanto antes. Quanto mais uma nação segurar os padrões de uma Ordem a qual não tem condições de se adaptar ao novo, maior será a probabilidade dela fracassar e se auto destruir. A história está cheia de exemplos

O Império Romano não sustentou as crises econômicas e o investimento em suas fronteiras devido a ganância de seus governantes; A Igreja Católica viu a perda de sua hegemonia no século XVII pois não adaptou de forma efetiva a sua Ordem vigente e As grandes monarquias absolutistas caíram por não aceitarem novas ideias.

Hoje, além de guerras e inimigos invisíveis, o aquecimento global, a falta de água e recursos básicos e principalmente a não preservação da natureza podem se tornar problemas imensamente maiores do que conflitos armados, e por que não, na catalização do final da humanidade.

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Um Blog sobre História e Geopolítica — A blog about History and Geopolitcs — Editor Roberto Carnier