As Ordens Internacionais: O mundo do G-Zero

Contemporaneum
Ordens Internacionais
7 min readDec 31, 2014

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Por Roberto Carnier — Artigo Escrito em 2012

Depois da queda da URSS, vivemos em um mundo no qual não existe uma grande potência como grande líder. A Crise de 2008 é a prova de que estamos em um mundo extremamente multipolar e heterogêneo.

Ninguém esperava a queda súbita da URSS como ocorreu no início da década de 90. Alguns espirituosos economistas porém já previam. O Tratado de Maastricht, a semente da União Européia e o Consenso de Washington colocavam ao mundo suas propostas em um cenário no qual o capitalismo e o livre mercado iriam prevalecer. Francis Fukuyama, cientista político, foi ainda além na época e escreveu um artigo polêmico sobre “O Fim da História”, colocando o fim da luta de classes e a vitória do liberalismo econômico .Afinal, que mundo é esse que convivemos de 1991 a 2011?

A configuração do globo hoje possui valores extremamente heterogêneos, ou seja, de propostas econômicas e políticas diferentes, multipolar, no qual os Estados se adaptam a uma nova realidade, de uma economia de escala universal, no qual cada país deve buscar o seu próprio desenvolvimento e sem um grande líder como representante, um mundo do G-Zero.

Compreender o cenário de 1991 a 2011 será o objetivo desse artigo, dentro da Ordem Internacional atual.

A Década de 90: O Novo Mundo pós Guerra Fria.

O Fim de quase 90 anos da primeira união comunista da história. Boris Ieltsin foi um dos principais apoiadores do fim da URSS.

Fim da URSS. A legitimidade do sistema norte americano prevalece. A cortina de ferro cai e os países que estavam sob o domínio soviético iniciam um processo de iniciação de liberdade econômica e política. A partir de 1990, a lógica dos Estados torna-se à lógica econômica, ou seja, o desenvolvimento de suas próprias economias, sem intervenções externas e doutrinas políticas, dentro de uma economia em escala global. O mundo já antevia esse cenário de ponto de vista do econômico já no início da década de 90, na criação de blocos econômicos de cooperação mútua.

Na Europa, o Tratado de Maastricht, cujas primeiras ideias eram discutidas no final do ano de 1990, é assinado em 7 de Fevereiro de 1992, surgindo a União Europeia, símbolo da união entre países com o intuito da cooperação mútua dentro de um mercado comum, através de uma única moeda e de transferências de mercadorias e pessoas sem burocracias tributárias e diplomáticas.

No novo mundo, o NAFTA — North America Free Trade Area — propõe uma área de livre circulação de mercadorias entre EUA, México e Canadá. Uma proposta mais ambiciosa, a ALCA, que previa a integração de todas as américas falhou, surgindo no lugar o Mercosul. Isoladamente, os países da América do Sul não conseguiram sobreviver sem a união e criação de blocos econômicos. Demais acordos demonstram o quão incerto o globo encontra-se em termos de uma “liderança global”

Acordos regionais demonstram uma competição entre diferentes tipos de economias, além do conceito colocado em um artigo por Ian Bremmer( Autor de O fim do Livro Mercado ) e e Nouriel Roubinni ( Professor na NY University Stern School of Business) do mundo G-Zero, no qual as nações, diante de valores tão heterogêneos e uma multipolaridade tão grande, encontram-se pulverizadas em economias locais e não mais representadas por uma zona de influência bi-polar. Além disso, mesmo o capitalismo tendo prevalecido após o fim da Guerra Fria, ele se encontra dividido e diferenciado.

Hoje, existem três tipos de capitalismo

Sistema Capitalista americano de Orientação de Mercado

1) Propósito é beneficiar o consumidor enquanto maximiza a criação de riqueza

2) Não Intervenção do Estado na economia ( laissez-faire )

3) A economia é voltada para o consumo interno

4) Governança Corporativa: Papel dos acionistas, stockholders, na economia — Aparição de agência de classificação de Risco, como a S&P (Standard & Poor’s)

Sistema Capitalista japonês de Desenvolvimento

1) Propósito da economia é subordinada aos objetivos sociais e políticos da sociedade (Neo-Mercantilismo)

2) Forte controle do governo sobre a economia

3) Grupos industriais Integrados, os keiretsu

4) Economia voltada a exportação com grande poupança interna para o investimento

5) Governança Corporativa: Papel importante dos bancos e do e cruzamento de ações emtre empresas

O Japão é hoje uma das sociedades mais igualitárias do mundo, já que o salário é extremamente irrelevante de um CEO para o mais baixo (20% de diferença)

Sistema Capitalista alemão de “Mercado Social”

1) A economia é voltada para a exportação com grande poupança interna para o investimento

2) Grande liberdade de mercado

3) Estado e empresas oferecem um grande sistema de Welfare State

4) Governança Corporativa: Forte setor de médias empresas (mittelstand) com economia oligopolista dominada por alianças entre grandes corporações e grandes bancos.

O sistema que prevaleceu hoje, mesmo estando dividido é o anglo-saxão, americano. O Consenso de Washington (1998), de John WIlliamsom, colocou que o ideal mundial seria o de Estabilizar e controlar a inflação, privatizar e retirar o Estado da economia e Liberalizar, ou seja, desregulamentar a economia, tirar as restrições e regras econômicas. — Apesar de todos os países, hoje, século XXI, incluindo os EUA, não seguirem exatamente a liberalização do mercado sem a intervenção do Estado, essa ideia de comércio global prevalece, sem um modelo único.

No início do século XXI, a Ascenção de países emergentes, a empreitada mundial contra o terrorismo e a crise de 2008 configuraram o mundo de hoje.

O novo milênio

A Crise e o Mundo Multipolar

Os BRICS — PIB Superior aos países desenvolvidos para 2016

Jamais durante a guerra fria as principais potências mundiais pensariam que o cenário econômico atual estaria a favor das nações que eles classificam como “terceiro mundo”. O PIB dos países emergentes, ou em desenvolvimento, conhecido como BRICS (Brasil, Rússia, India, China e África do Sul — Lê-se South Africa), ultrapassará logo os países desenvolvidos. As grandes oportunidades de empreendedorismo, uma balança comercial favorável, o aumento do poder de consumo das classes médias, são fatores que favoreçeram esses países a crescerem e despontarem no cenário mundial, ao contrário das antigas potências que hoje sofrem diante de uma crise global sem escalas, ocasionada pela ganância e ausência de fiscalização ao longo do século XXI, cujo início foi turbulento.

Em 11 de Setembro de 2001 inaugura-se o fator choque do século presente, o ataque as torres gêmeas e o início da empreitada do ocidente contra o terrorismo. Os gastos militares, a partir daí, chegam a aumentar cada vez mais, aumento o déficit público, chegando a cerca de US$ 950 bi de gastos na área. Tal gasto foi um dos fatores contribuintes a crise de 2008, que conhecemos seus efeitos hoje.

De 2003 a 2005, Alan Greenspan, presidente do FED, abaixo o juros e cria uma bolha no mercado de ações, favorecendo o consumo desenfreado e o crédito sem limites. Soma-se a isso as demais fraudes e total ausência de governância corporativa, como os Casos da Enron. As famílias iniciam um processo de gastos excessivos no mercado imobiliário, através do sistemas de hipotecas. Cada um desses fatores foi intoxicando uma economia, gerando uma bolha, onde acreditava o mundo, numa economia no qual os riscos eram quase nulos.

O Crescimento dos déficits de diversas potências mundiais aumentou drasticamente, sem qualquer controle do ponto de vista macroeconômico, visando o presente, esquecendo o futuro e não aprendendo com os erros do passado.

A partir daí inicia-se uma ideia de novas áreas de influências econômicas, na qual cada Estado protege a sua zona e área econômica, similar ao que ocorreu na década de 30. A partir daí, surge a ideia da guerra cambial, país começa a desvalorizar artificialmente a sua moeda para ganhar competitividade, sendo através da desvalorização por leio do mercado ora desvalorização desleal, exemplo da China.

Aqui cabe ressaltar a ideia de Ian Bremmer quanto ao fim da economia de livre mercado. Os estados procurando cada vez mais uma certa “independência” e preservação de um “espaço vital” econômico, e favorecendo o Capitalismo de Estado, ante os países que buscam a economia de livre mercado. Uma economia de capitalismo de Estado é caracterizada através de quatro pontos, sendo elas:

Fundo Soberano

Empresas Campeãs nacionais — Subsidiadass pelo governo para competir contra outras internacionais

Empresas Petrolíferas de Grande Porte

Empresas Estatais de grande importância e geração do PIB.

Ian Bremmer ressalta em seu livro O fim do Livre Mercado que os principais países desse estilo de capitalismo são, entre as democracias Índia e Brasil e Semi-Democracias China, Rússia e Países Árabes.

Aqui cabe a pergunta: Qual é a legitimidade da ordem internacional atual?

Para que o mundo possa continuar estável, independente de sua visão e doutrina, a cooperação dos estados em escala global deverão focar na Regulamentação Financeira imediata, para evitar um caos econômico como ocorrerá em 2008, um Sistema Comercial com regras internacionais, e não independentes, uma preocupação quanto ao aquecimento global e principalmente da segurança internacional, referente a proliferação nuclear

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Um Blog sobre História e Geopolítica — A blog about History and Geopolitcs — Editor Roberto Carnier