Antissemitismo e as esquerdas: velhas teses novas roupagens

O fenômeno do antissemitismo nas esquerdas urge ser analisado, discutido e combatido. Não nos cansa de surpreender a sucessão artigos e textos produzidos por grupos de esquerda e que possuem claras perspectivas antissemitas ou, ao menos, preconceituosas com relação a judeus e ao judaísmo.

Partidos, agrupamentos, organizações nas diversas formas de esquerda têm flertado com teses antissemitas que, com novas roupagens ou com um verniz menos agressivo, reinserem perspectivas conhecidas e rechaçadas por aqueles que conhecem e se interessam pelos desenvolvimentos históricos dos últimos 150 anos. Tais teses giram em torno da ideia de “conspiração”.

Tal conspiração judaica seria responsável por revoluções e golpes, crises e tragédias, enfim, por quaisquer situações de ruptura que viessem a acontecer em quaisquer partes do mundo. Essas teses, a-históricas e hiper-conservadoras, responsabilizavam supostos “interesses judaicos”, que seriam capazes de colocar “mãos e dedos” em qualquer situação, em qualquer parte do mundo.

Pois bem, nos deixa profundamente perplexos hoje ver tais referências, constitutivas de movimentos da extrema-direita europeia, sendo reproduzidas em artigos e textos da esquerda. Eventualmente, em textos desses grupos o “judeu imaginário” aparece substituído por um “Israel imaginário”, ou por um “sionismo imaginário”.

Se, nas teses clássicas do antissemitismo de direita, o judeu é o responsável pela conspiração mundial, nas teses dessas esquerdas é Israel e um suposto sionismo que liderariam essa conspiração (desconsiderando, por exemplo, as resistências à Ocupação e aos governos de direita que ocorrem no interior da sociedade israelense).

Com efeito, se os sujeitos são substituídos (judeus por Israel e judaísmo por sionismo), o processo e o fenômeno são os mesmos. O verniz discursivo não esconde a infâmia discriminatória. Os textos de hoje são tão antissemitas quanto os discursos de ontem eram.

Por isso tudo, nós judeus e não judeus abaixo assinados, todos nós vinculados com posições progressistas e de esquerda, repudiamos o antissemitismo presente nas publicações de alguns grupos de esquerda. Exigimos que tais fenômenos sejam denunciados como racistas e preconceituosos. Acreditamos que a contribuição da esquerda para temas contemporâneos fundamentais — a luta contra o racismo, a xenofobia e a intolerância — pode ser muito relevante. Acreditamos, entretanto, que, ao aceitar teses do antissemitismo clássico, tais contribuições perdem o sentido e esses setores da esquerda caminham para posições de conservadorismo e irrelevância, lamentavelmente convergindo com posições das extrema direitas.

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