Kadima, Bnei Akiva?

Nessa onda toda de movimento juvenis, não falei de minha experiência pessoal. Chegou o momento de falar sobre isso.

Michel Gherman
Oriente à esquerda
3 min readSep 25, 2016

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Pra quem não sabe, cresci no interior de um movimento sionista e religioso, o Bnei Akiva. Entrei aos 7 anos e saí aos 23, depois de ter chegado a todos os postos possíveis.

Hoje, quem lê o que escrevo imagina que eu não tenha nenhum vínculo com a ideologia do movimento. Estão errados. Aliás, acabei de voltar das eleições da Fierj, e uma velha conhecida do movimento, a quem não via há muito tempo, me fez exatamente essa pergunta: “como alguém com sua formação pode escrever o que escreve?”

Bom que perguntou, assim dá pra explicar. O Bnei Akiva me deu régua e compasso para entender o mundo.

Foi o Bnei Akiva que ofereceu essa gramática ideológica para eu analisar judaísmo, Israel, o conflito etc. Estou completamente aderido de Bnei Akiva, de um jeito tão radical que acho que o que aprendi na tnua influencia tudo o que penso até hoje.

Na minha época, o movimento era super pluralista (não sei como é hoje) e sempre me identifiquei (sendo muito respeitado) com a ala mais esquerda da tnua. Fiz o programa do Bnei em Israel durante o ano de 1994, e dentro de meu movimento vi manifestações, discursos de ódio, acusações ao primeiro ministro de Israel.

Não me surpreendeu quando um judeu ortodoxo, ligado ao movimento, matou Yitzhak Rabin. Sabia que era possível que isso acontecesse. Escutei o que se falava na época e calculei que o assassinato era uma das opções.

Não saí do Bnei Akiva por isso, ao contrário, entrei mais. Conheci as melhores pessoas durante a tentativa de resgate da tnua. Relemos juntos Rav Kuk, conversamos com o Rabino Linchestein, com o Rabino Amital.

Passei a frequentar o instituto Hartman, comecei a ler os livros de Shalom Hartman, entrei no Meimad — partido de esquerda religiosa. Entrei fundo em tudo o que tinha a ver com sionismo religioso, apenas meu viés era outro, outro desde dentro.

De volta ao Rio de Janeiro, percebi que o Meimad não havia chegado por aqui. Fui excluído da tnua, lutei pra voltar. Pedi para que pessoas do Bnei Akiva de Israel explicassem. Eles explicaram. Voltei à tnua e terminei minha experiência como membro da diretoria do movimento.

Todos os autores que citei (judeus ortodoxos) me influenciaram enormemente. Hoje, devo a eles minha identidade profundamente múltipla e judaica.

Continuo vinculado a perspectivas deste flanco do Bnei Akiva, hoje me emociono com discursos do Rabino Melchior e me entusiasmo com textos do Beni Lau. Continuo procurando a ala religiosa nos jogos do Hapoel e ainda não consigo rezar em uma sinagoga reformista

Assim, gostaria de responder a minha antiga colega de tnua que eu não entendo o que ela quis dizer com “ter virado o que virei com minha formação”. Foi exatamente a formação que recebi na tnua que me fez virar o que virei.

Talvez ela não tenha ouvido falar em nenhum dos autores e rabinos que citei. O que seria uma pena, porque eu tive que escutar os nomes de outros que, a mim, eram “anti Bnei Akiva”.

Não consigo conectar, por exemplo, nome de Meir Kahane com minha experiência tnuati. Mas ouvi falar dele. Será que essas pessoas não tinham que escutar de Michael Melchior, antes de perguntar de minha formação?

Enfim, kadima Bnei Akiva.

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