Oriente à esquerda

Oriente à esquerda
Oriente à esquerda
2 min readFeb 26, 2016

Oriente (sub. masc.)
o lado direito de um mapa ou de uma carta geográfica

Esquerda (sub. fem.)
conjunto de membros de uma assembleia parlamentar que lutam por ideias avançadas, em oposição aos conservadores

Houaiss, 2017

Yehuda HaLevy era poeta e filósofo judeu, que desenvolve sua obra na península ibérica islâmica, no século XI. Levy aproveitava o ambiente de tolerância entre as populações árabe e judaica para cantar suas saudades de Jerusalém. A Jerusalém de Levy, entretanto, não é citada pelo nome. Ele a chama, simplesmente, de “oriente”.

Em um de seus poemas mais famosos, Levy diz estar “no final do ocidente, apesar de seu coração estar no oriente”. Jerusalém, para além de qualquer dimensão particularista ou nacional, é vista a partir de uma perspectiva mais geral, mais universalista.

Um homem como Yehuda HaLevy pode ser entendido a partir de uma lógica profundamente judaica e, ao mesmo tempo, profundamente oriental. Essas dimensões, lado a lado, desconstroem percepções presentes em muitas das análises contemporâneas sobre o oriente médio, principalmente aquelas que se detém sobre o conflito israelo-palestino. Em tais análises, oriente e ocidente parecem ter se separado. Parecem ter sido separados.

Nelas, judeus, Israel e sionismo são ocidente, enquanto islã, árabes e nacionalismo palestino são oriente. Nesta perspectiva, profundamente linear e organizada, o fortalecimento de um lado levaria ao enfraquecimento de outro; a vitória de um lado determinaria a derrota do outro; e a colaboração entre lados distintos seria sinônimo de traição, relação desigual, deslealdade.

Nosso interesse neste espaço é justamente o de “desorganizar” e “deslinearizar” esse debate. Neste espaço, gostaríamos de adotar a perspectiva “anti-orientalista” de Yehuda HaLevi. Buscaremos aqui tratar de quem ousa questionar, de quem tenta estabelecer diálogos que parecem impossíveis. Aqui, buscamos fugir do mainstream e olhar para a periferia.

Nesse sentido, nos chamamos de Oriente à esquerda. Acreditamos que há uma esquerda que pode desafiar perspectivas mais conservadoras. Esta esquerda está longe de referências dogmáticas; esta esquerda busca análises criativas; esta esquerda fala da periferia para o centro; esta esquerda procura caminhos que não reproduzam preconceitos ou lógicas paralisantes.

Por isso, somos o Oriente à esquerda. Por isso, resgatamos Levy. Não desejamos assistir “a glória que passa, com vagões recheados de história”, como escrevia Yehuda Amichai; aqui, queremos entrar nos vagões e — por que não? — mudar a história.

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