Oriente à esquerda
Oriente (sub. masc.)
— o lado direito de um mapa ou de uma carta geográficaEsquerda (sub. fem.)
— conjunto de membros de uma assembleia parlamentar que lutam por ideias avançadas, em oposição aos conservadoresHouaiss, 2017
Yehuda HaLevy era poeta e filósofo judeu, que desenvolve sua obra na península ibérica islâmica, no século XI. Levy aproveitava o ambiente de tolerância entre as populações árabe e judaica para cantar suas saudades de Jerusalém. A Jerusalém de Levy, entretanto, não é citada pelo nome. Ele a chama, simplesmente, de “oriente”.
Em um de seus poemas mais famosos, Levy diz estar “no final do ocidente, apesar de seu coração estar no oriente”. Jerusalém, para além de qualquer dimensão particularista ou nacional, é vista a partir de uma perspectiva mais geral, mais universalista.
Um homem como Yehuda HaLevy pode ser entendido a partir de uma lógica profundamente judaica e, ao mesmo tempo, profundamente oriental. Essas dimensões, lado a lado, desconstroem percepções presentes em muitas das análises contemporâneas sobre o oriente médio, principalmente aquelas que se detém sobre o conflito israelo-palestino. Em tais análises, oriente e ocidente parecem ter se separado. Parecem ter sido separados.
Nelas, judeus, Israel e sionismo são ocidente, enquanto islã, árabes e nacionalismo palestino são oriente. Nesta perspectiva, profundamente linear e organizada, o fortalecimento de um lado levaria ao enfraquecimento de outro; a vitória de um lado determinaria a derrota do outro; e a colaboração entre lados distintos seria sinônimo de traição, relação desigual, deslealdade.
Nosso interesse neste espaço é justamente o de “desorganizar” e “deslinearizar” esse debate. Neste espaço, gostaríamos de adotar a perspectiva “anti-orientalista” de Yehuda HaLevi. Buscaremos aqui tratar de quem ousa questionar, de quem tenta estabelecer diálogos que parecem impossíveis. Aqui, buscamos fugir do mainstream e olhar para a periferia.
Nesse sentido, nos chamamos de Oriente à esquerda. Acreditamos que há uma esquerda que pode desafiar perspectivas mais conservadoras. Esta esquerda está longe de referências dogmáticas; esta esquerda busca análises criativas; esta esquerda fala da periferia para o centro; esta esquerda procura caminhos que não reproduzam preconceitos ou lógicas paralisantes.
Por isso, somos o Oriente à esquerda. Por isso, resgatamos Levy. Não desejamos assistir “a glória que passa, com vagões recheados de história”, como escrevia Yehuda Amichai; aqui, queremos entrar nos vagões e — por que não? — mudar a história.