Temos que falar sobre a CST

Ou: um chamado a meus amigos da esquerda

Michel Gherman
Oriente à esquerda
3 min readOct 19, 2016

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Precisamos entender os objetivos do autor de um texto como aquele publicado pela CST, onde se comemora a morte do presidente israelense, Shimon Peres.

Uma busca na internet nos faz entender que Miguel Lamas se considera um “especialista” em sionismo. Grande parte de sua publicação é sobre palestinos e sobre o conflito palestino-israelense. De fato, alguns de seus artigos no jornal “El Socialista” são inteligíveis e escritos com algum cuidado, apesar de ideologicamente comprometidos e de estarem no campo da propaganda política de baixa qualidade. Assim, cabe a pergunta: o que foi aquele texto?

O texto de Lamas foi nojento e desrespeitoso, mas foi mais que isso: ele foi um texto desconexo, mentiroso e sem sentido. Peres é confundido (a meu ver, propositadamente) com Yitzhak Rabin e com Ariel Sharon (nas referências ao Haganá e à Guerra do Líbano). O Haganá é tratado como Lechi. Ademais, uma semana depois do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Abu Mazen, ir ao enterro do líder israelense, Lamas convoca palestinos a “comemorarem” (!!!) sua morte.

Pode parecer o samba (ou o tango) do trotskista maluco, mas não é. Lamas confunde, ataca, mente e é usado como “especialista” para falar o que os dirigentes da CST não gostariam de fazer em vésperas de eleições.

Nos diversos os artigos que Lamas escreve, são incontáveis as vezes em que defende o Hamas; são diversas as vezes em que ataca a Fatah; são inúmeros os textos em que chama Israel de “Estado tampão”, “imperialista”, “genocida”.

Lamas brinca de anti-imperialista, de pró-palestino, de anti-sionista, mas é pró-Hamas. Hamas é um grupo islamista, criminoso e que mantém a faixa de Gaza sob domínio do medo e da ditadura. Lamas somente critica o Hamas quando este (pretensamente) quer chegar a acordos com Israel.

Ainda tem mais, Lamas não cita contradições internas palestinas e israelenses. O maravilhoso mundo de Lamas (e da CST) é simplório, é infantil: sionistas contra palestinos, Hamas contra sionistas, apoio à guerra do Hamas, tudo claro e certinho… como a boa propaganda deve ser.

Não dá pra não ver, Miguel Lamas funciona como um intelectual orgânico do Hamas. Ele não é apenas anti-sionista, como orgulhosamente se apresenta, ele é anti-palestino.

Por isso o texto absurdo contra Peres. Um propagandista deve ser claro, mesmo que para isso tenha que ser vulgar e grosseiro.

Importante notar que Lamas, funcionário do Hamas, evita fazer declarações antissemitas. Chega até bem próximo delas, mas recua. Acusá-lo de antissemita, assim, não é producente, apesar de haver sinais de um antissemitismo latente em seus escritos.

E a CST com isso? A CST é parte do jogo. A CST é membro da mesma organização que Lamas, e utiliza seus textos de maneira acrítica. A CST promove discursos de ódio e faz, em seus materiais, propaganda do Hamas. A CST é cúmplice de uma estrutura que envolve fundamentalismo islâmico, ódio e preconceito. A CST, sim, pode ser acusada de promover antissemitismo (em uma disputa municipal!) no Rio de Janeiro.

Agora, a CST é fanática (e comprometida com sua agenda), não me escuta. Lamas é fanático (e funcionário de propaganda), não me escuta. Escrevo aqui para gente de esquerda que não é fanática. Escrevo aqui para você que tem simpatia pela esquerda, que vota na esquerda, mas foge do fanatismo e do sectarismo. Não dá mais para ficar calado. Não pega mais dizer que a culpa é dos “sionistas”, da “direita” ou do Malafaia. Percebam, há fogo amigo nas suas fileiras. Tem gente reproduzindo discursos fundamentalistas e usando seu nome. A CST joga a alternativa progressista para a cidade “nas lamas”.

Estamos do mesmo lado. Judeus progressistas e a esquerda não sectária devem caminhar juntos. Mas é importante que vocês gritem, como Jean Wyllys fez: “não em nosso nome!”.

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Agradeço a Bruno Bimbi pelo material passado.

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