“HUM — uma abordagem ao mantra” Chögyam Trungpa (Tradução)

Tradução de “HUM — an approach to mantra”. Texto em inglês copiado de “The Collected Works of Chögyam Trungpa — Volume 5”, pags 317–320.

zhiOmn Ormando
Ormando zhiOmn
10 min readOct 15, 2018

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HUM

Homenagem ao guru, yidams, e dakinis!
Homage to the guru, yidams, and dakinis!

Quando eu ouço a profunda música de HUM
Ela inspira a dança da visão direta do insight.
Ao mesmo tempo meu guru apresenta a arma
que corta a vida do ego,
Exatamente igual a performance de um milagre.
Eu presto homenagem à aquele que é incomparável!

When I hear the profound music of HUM
It inspires the dance of direct vision of insight.
At the same time my guru presents the weapon
which cuts the life of ego,
Just like the performance of a miracle.
I pay homage to the Incomparable One!

Uma pessoa precisa entender o uso básico do mantra nos ensinamentos do Buda. Seja na forma de mantra, dharani, ou uma única sílaba, não é de forma alguma um feitiço mágico usado para ganhar poderes psíquicos para propósitos egoístas, como a acumulação de riqueza, poder sobre os outros, e destruição de inimigos. De acordo com o tantra Budista, todos os mantras e outras práticas, como visualizações, hatha yoga, ou qualquer outra prática yogue, deve ser baseada no ensinamento fundamental do Buda, que é o entendimento das quatro marcas da existência: impermanência (anitya), sofrimento (duhkha), vazio (shunyata), e ausência de ego (anatman).
One must understand the basic usage of mantra in the teachings of Buddha. Whether it is in the form of mantra, dharani, or a single syllable, it is not at all a magical spell used in order to gain psychic powers for selfish purposes, such as accumulation of wealth, power over others, and destruction of enemies. According to the Buddhist tantra, all mantras and other practices, such as visualizations, hatha yoga, or any other yogic practices, must be based on the fundamental teaching of Buddha, which is the understanding of the four marks of existence: impermanence (anitya), suffering (duhkha), void (shunyata), and egolessness (anatman).

Nesta conexão, deveria ser apontado que em contraste com o tantra Hindu, o tantra Budista é baseado em shunyata e anata. O conceito de shunyata é bem fácil de relacionar com o conteúdo completo do tantra, como na experiência de mahamudra, e o conceito de anata é muitíssimo essencial. Alguns estudiosos Ocidentais erroneamente identificam a preparação de mandalas e as incontáveis divindades com a tradição Hindu, como se ela fosse um guarda-chuva sob o qual todas as outras religiões Indianas pudessem ser encontradas. Apesar de que alguns místicos do Vedanta possam afirmar que as experiências deles são a mesma do mahamudra, existe uma diferença essencial, pois os herukas e todas as outras divindades no Budismo não são externas. Em outras palavras, elas são aspectos do estado desperto da mente, assim como Avalokiteshvara representando o aspecto compassivo da natureza de buda.
In this connection, it should be pointed out that in contrast to Hindu tantra, Buddhist tantra is based on shunyata and anata. The concept of shunyata is quite easy to relate to the whole content of tantra, as in mahamudra experience, and that of anata is most essential. Some Western scholars mistakenly identify the preparation of mandalas and the countless divinities with the Hindu tradition, as if it were and umbrella under which all other Indian religions might be found. Although some Vedantic mystics might claim their experiences to be the same as mahamudra, there is an essential difference, for the herukas and all the other divinities in Buddhism are not external. In other words, they are aspects of the awakened state of mind, such as Avalokiteshvara representing the compassionate aspect of buddha nature.

HUM — Fonte: https://www.himalayanart.org/items/53251362

Existem vários mantras conectados com estes(as) bodisatvas e herukas que ajudam a alcançar, por exemplo, a essência da compaixão, sabedoria, ou energia. Neste ensaio nós estamos discutindo a única sílaba HUM. HUM é o som conectado com a energia, e é muitíssimo profundo e penetrante. Este mantra foi usado por Guru Padmasambhava em seu aspecto irado para subjugar a força do ambiente negativo criado por mentes envenenadas pela paixão, agressão, e ignorância. HUM é frequentemente o encerramento de certos mantras usados para estimular a energia vital.
There are various mantras connected with these bodhisattvas and herukas which help to achieve, for example, the essence of compassion, wisdom, or energy. In this essay we are discussing the single syllable HUM. HUM is the sound connected with energy, and is most profound and penetrating. This mantra was used by Guru Padmasambhava in his wrathful aspect in order to subdue the force of the negative environment created by minds poisoned with passion, aggression, and ignorance. HUM is often the ending of certain mantras used to arouse the life energy.

Antes de entoar a música sagrada de HUM, é necessário considerar o relacionamento entre professor e aluno. Deve haver transmissão oral. O aluno não deveria escolher o professor aleatoriamente, pois a não ser que o professor pertença a uma linhagem espiritual, ele pode ser capaz de dar o mantra, mas ele não será capaz de transmitir o poder do mantra. Com uma ligação kármica forte entre professor e aluno, o aluno deveria ficar inspirado com uma convicção inabalável de confiança na qualidade espiritual do professor. Quaisquer dificuldades que o aluno possa continuamente ter que ultrapassar ou quaisquer sacrifícios que ele possa ter que fazer, sua devoção deve permanecer constante até que ele seja capaz de fazer seu ego render-se. Se ele falhar em fazer isto, ele não será capaz de experienciar a sagrada música do HUM, ele não vai ser capaz de desenvolver entendimento de seu profundo significado, e ele não vai ser capaz de desenvolver o sidi transcendental.
Before chanting the sacred music of HUM, it is necessary to consider the relationship of teacher and pupil. There must be oral transmission. The pupil should not choose a teacher at random, for unless the teacher belongs to a spiritual lineage, he may be able to give a mantra but he will not be able to transmit its power. With a strong karmic bond between teacher and pupil, the pupil should be inspired with and unwavering conviction of trust in the teacher’s spiritual quality. Whatever difficulties the pupil might continually have to undergo and whatever sacrifices he might have to make, his devotion must remain constant until he is able to surrender his ego. If he fails to do this, he will not be able to experience the sacred music of HUM, he will not be able to develop understanding of its profound meaning, and he will not be able to develop the transcendental siddhi.

Quando um iniciante entoa a sagrada música do HUM, ele pode encontrar alguns benefícios temporários; por exemplo, sua mente pode se tornar quieta e pensamentos irritantes podem ser amenizados. Isto é porque HUM é composto de HA,
When a beginner chants the sacred music of HUM, he might find some temporary benefits; for example, his mind might become quiet and irritating thoughts might be eased. This is because HUM is composed of HA,

HA

, U,

U

, e M.

M

HA expele o ar impuro dos pulmões, U libera os pensamento mais irritantes através da boca, e M limpa os pensamentos remanescentes através do nariz.
HA expels the impure air from the lungs, U releases the most irritating thoughts through from the mouth, and M clears the remaining thoughts through the nose.

Como mencionado em textos yoguicos, prana (respiração) é como um cavalo, os nadis (canais) são como estradas, e a mente é como o cavaleiro. Deste jeito, usando prana, tensão é liberada e qualquer distúrbio psicológico pode ser aliviado, mas apenas como uma medida temporária.
As mentioned in yogic texts, prana (breath) is like a horse, the nadis (channels) are like roads, and the mind is the rider. In this way, using prana, tension is released and any psychological disturbance may be relieved, but only as a temporary measure.

Para meditantes avançados, a sílaba HUM é um meio de desenvolver as cinco sabedorias. H é a sabedoria como o espelho, clara e contínua.
For advanced meditators, the syllable HUM is a means of developing the five wisdoms. H is the mirrorlike wisdom, clear and continuous.

H

A é a sabedoria da equanimidade, consciência panorâmica.
A is the wisdom of equanimity, panoramic awareness.

A

U é a sabedoria da consciência discriminativa, consciência dos detalhes.
U is the wisdom of discriminating awareness, awareness of details.

U

M é a sabedoria que tudo realiza, realização sem esforço de todas as ações.
M is all-accomplishing wisdom, effortless accomplishment of all actions.

M

A é a sabedoria do espaço todo compassivo (dharmadhatu), a base de onde todas as coisas se originam e para onde elas retornam.
A is the wisdom of all-encompassing space (dharmadhatu), the ground from which all things originate and to which they return.

A

O meditador não vai encontrar estas sabedorias em uma fonte externa mas, mais propriamente, como a fagulha que explode em chama quando soprada pelo vento, ele descobre elas dentro de si mesmo.
The meditator will not find these wisdoms in an external source but, rather like the spark which bursts into flame when fanned by the wind, he discovers them within himself.

HUM é referido, em muitos textos, como o sonoro som do silêncio. HUM representa o estado de meditação quando a consciência sai pra fora dos limites do ego. Foi pela força de HUM que a fortaleza de Rudra foi reduzida a poeira. HUM pode ser considerado como a expressão destemida de um guerreiro atirando sua flecha no campo de batalha. HUM as vezes é referido como o mantra da Mandala de Vajrakilaya na escola superior do tantra. Primeiro, ele é a adaga de além-do-pensamento, que apunhala com precisão mortal dentro do coração dos pensamentos dualistas. Segundo, ele é a adaga do insight luminoso transcendental, que perfura o coração da confusão sombria. Terceiro, ele é a adaga do estado da não-meditação, que perfura o coração da meditação formada-por-pensamentos, para que o meditador seja entregue da matéria do sujeito *(revisar tradução desta frase)*. Quarto, ele é a adaga da completa devoção para com o guru todo-pervasivo, que apunhala no coração das esperanças e medos para que o professor e o aluno se tornem inseparáveis. Estas quatro penetrações de HUM são descritas no texto do anuyogatantra.
HUM is referred to in many texts as the sonorous sound of silence. HUM represents that state of meditation when awareness breaks out of the limits of ego. It was by that force of HUM that the fortress of Rudra was reduced to dust. HUM may be regarded as the fearless utterance of a warrior shooting his arrow in the battlefield. HUM is sometimes referred to as the mantra of the Vajrakilaya Mandala of the high tantra school. First, it is the dagger of beyond-thought, which stabs with deadly accuracy into the heart of dualistic thoughts. Second, it is the dagger of luminous transcendental insight, which pierces the heart of confused darkness. Third, it is the dagger of the state of nonmeditation, which pierces the heart of thought-formed meditation, so that the meditator is delivered from subject matter. Fourth, it is the dagger of complete devotion to the all-pervading guru, which stabs to the heart of hopes and fears so that the teacher and pupil become inseparable. These four penetrations of HUM are described in the text of the anuyogatantra.

Chögyam Trungpa Rinpoche

Guru Padmasambhava disse que quando você canta a música crescendo de HUM e deixa todos seus pensamentos irem embora, as experiência últimas de meditação são um eco desta música. HUM é referido como a concentração de todas as bênçãos e energia. Etimologicamente falando, a palavra Sânscrita HUM significa “reunindo-se”. HUM não é um feitiço mágico para aumentar o poder do ego, mas é poder concentrado vazio de ego. HUM combinado com completa devoção é como um flecha perfurando o coração — ele toma a forma da memória do guru. Também a experiência abrupta de cortar todos os pensamentos é a ação do HUM. Assim sendo, HUM é a energia da força universal que transcende as limitações do ego, ou antes, perfura através do muro do ego.
Guru Padmasambhava said that when you sing the crescendo music of HUM and let go of all thoughts, the ultimate meditation experiences are the echo of this music. Also, HUM is referred to as the concentration of all blessings and energy. Etymologically speaking, the Sanskrit word HUM means “gathering together”. HUM is not a magic spell to increase the power of ego, but it is concentrated power devoid of ego. HUM combined with complete devotion is like an arrow piercing the heart — it takes the form of the memory of the guru. Also the abrupt experience of cutting through all thoughts is the action of HUM. Therefore HUM is the energy of universal force which transcends the limitations of ego, or rather, pierces through the wall of ego.

Eu espero que as pessoas que praticam A Sadana da Corporificação de Todos os Sidas [A Sadana do Mahamudra] irão estudar este ensaio bem de perto. Possamos nós unirmos-nos no crescendo do HUM e liberar todos os seres sencientes na unidade do HUM.
I hope that the people who practice The Sadhana of the Embodiment of All the Siddhas [The Sadhana of Mahamudra] will study this essay very closely. May we unite in the crescendo of HUM and liberate all sentient beings into the oneness of HUM.

Texto em inglês copiado de “The Collected Works of Chögyam Trungpa — Volume 5”, pags 317–320.

Traduzido de inglês para português por Ormando MN (Lagarto Manco)

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