A manifestação que o jornal não vê: existe e não vai desaparecer

Os maiores veículos de comunicação tratam as manifestações a favor da democracia como se não existissem

Gabriel Pardal
ORNITORRINCO site
3 min readApr 13, 2016

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A foto acima é da multidão no Ato da Cultura Pela Democracia, que aconteceu na segunda-feira 11/04 no Rio de Janeiro. O encontro contou com a adesão de milhares de pessoas e com a participação de artistas e intelectuais como Chico Buarque, Beth Carvalho, Zé Celso, Aderbal Freire Filho, Wagner Moura, Gregorio Duvivier, Tico Santa Cruz, Flavio Renegado, Eric Nepomuceno, Leonardo Boff, Juca Ferreira, Sônia Guajajara, Teresa Seiblitz, Nelson Sargento, Otto, Lucas Santanna, Jards Macalé, a lista é imensa e repleta de figuras populares. Além deles, o ex-presidente Lula compareceu no primeiro encontro realizado na Fundição Progresso e em seguida discursou nos Arcos da Lapa para uma multidão de pessoas que o ouviu em silêncio esplêndido.

Se fosse uma manifestação a favor do impeachment, a Globonews faria uma cobertura completa, com comentaristas analisando a quantidade de manifestantes e legitimando sua indignação.

A Folha e o Estadão colocariam a foto na capa, analisando o vazamento do discurso do Michel Temer sem ao menos questionar a sua ética e moral.

A Veja montaria para o domingo mais um mockumentary sobre uma nova empresa onde Lula lavava dinheiro –– a Veja está se especializando em ficção, o pessoal do site Sensacionalistas deveria contratar seus redatores ou vice-versa, ou melhor não, eu não desejo nem para o meu pior inimigo esse emprego na Veja.

O Jornal Nacional faria uma edição recheada, com imagens de dentro da passeata — vocês já perceberam que eles só têm imagens de dentro das manifestações contra a Dilma e nas outras são apenas imagens aéreas? William Bonner passaria um bloco inteiro dizendo que o Brasil está insatisfeito e que quer que a presidente desocupe o cargo. Bonner novamente nem tocaria no fato de que Cunha é réu e que Temer age como um conspirador. Mais uma vez a palavra Golpe não seria dita naquela bancada azul.

Mas bem… Como foi um ato contra o impeachment, contra o golpe e a favor da democracia, não apareceu em nenhum desses veículos.

As grandes corporações midiáticas do Brasil estão empenhadas no curso do projeto golpista, intensificando seus procedimentos de manipulação como um mecanismo de agitação e propaganda. Como são as maiores, usam de sua popularidade na tentativa de fazer com que protestos contra o governo se tornem grandes movimentos civis. Enquanto isso tratam as manifestações a favor da democracia como se não fossem expressivas ou como se não tivessem acontecido.

Neste momento a função da grande mídia é entregar uma representação da realidade, manipulando a narrativa para que apenas o ponto de vista do interesse destas empresas seja veiculado. Fazem isso como se estivessem fazendo jornalismo, mas, na prática, funcionam como uma poderosa arma de agitação e propaganda da direita.

É possível fazer um paralelo com as operações da Igreja Católica durante a Idade Média. Não seria um absurdo dizer que a mídia atua como um aparelho ideológico com poder de persuasão, perseguindo, julgando e atacando o que lhe é desfavorável enquanto controla o comportamento de seus espectadores.

A lógica é simples, só viveremos em uma plena democracia se o prestígio dessas mídias também cair. Não é possível acreditar na evolução de um país cuja sociedade é conivente com as atitudes espúrias desses grupos. Muito menos quem diz que a imprensa está do seu lado. A imprensa só está de um lado. O lado do dinheiro. E os corruptos é que estão com o dinheiro. Logo…

Assim como já vimos acontecer, acontecerá novamente. Nossa história não poupará esse grupos e quem não se posicionar — principalmente os funcionários, por supostamente pactuar com seus empregadores— vai afundar junto.

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Gabriel Pardal
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Artista. Escreve sobre processos criativos, inspiração e criatividade nos dias de hoje. https://www.gabrielpardal.com/