Diário do Festival do Rio 2016 — Parte I

Documentários sobre Doisneau e De Palma

Lucas Gutierrez
ORNITORRINCO site
3 min readOct 11, 2016

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Mais uma edição do Festival do Rio e, como de costume, escrevo este diário com anotações e comentários sobre os filmes que tenho assistido por aqui. Os filmes que escolho para ver não obedecem nenhum critério exceto o meu gosto pessoal, assim, portanto, o que escrevo aqui são comentários despretensiosos a cerca do que me toca no cinema e eu espero que ao menos sirva como sugestão do que você pode assistir, caro leitor.

Vamos lá?

Robert Doisneau: Le Révolté Du Merveilleux (2016) / dir.: Clémentine Deroudille

Dirigido por Clémentine Deroudille, neta de Doisneau, este documentário é um generoso — ainda que por demais correto — sobre um dos maiores fotógrafos do século XX.

Apesar de abraçar a obra de Doisneau, apresentando um vasto acervo e percorrendo toda a sua carreira, seus altos e baixos, suas fases e sua relação com amigos e família, o filme se beneficiaria de uma enxugada em algumas entrevistas – ou até entrevistados – talvez em nome de um pouco mais de espaço para o olhar do fotógrafo sobre o seu ofício ou por mais histórias dos dias de cobertura de períodos como a resistência francesa ou mesmo os anos 50, que formaram tanto a identidade de Doisneau.

Separando os assuntos com uma desnecessária vinhetinha, A revolta do maravilhoso (em livre tradução) parece por vezes um especial de televisão, tamanha é a sua falta de ousadia narrativa. Não chega perto de comprometer o resultado final, mas deixa um gosto de que poderia ser melhor.

Ainda que nem o próprio biografado se levasse tão a sério assim.

De Palma (2015) / dir.: Noah Baumbach, Jake Paltrow

Aviso aos desavisados: De Palma é um documentário para fãs de cinema.

Brian De Palma dirigindo Al Pacino em "Scarface"

Projeto dos cineastas Noah Baumbach (Frances Ha, A Lula e a Baleia) e Jake Paltrow (Os mais jovens), sua estrutura é simples e certeira. Uma longa entrevista com um dos grandes diretores americanos dos anos 70 — e dentre eles, talvez o mais rebelde.

Enquanto percorre sua carreira, analisando filme por filme, De Palma oferece uma aula de cinema, dissecando suas referências (Hitchcock a maior delas), seu próprio estilo e suas escolhas de linguagem.

Além de compartilhar, com muito bom humor, histórias impagáveis de Hollywood, dos bastidores de clássicos como Os Intocáveis, Scarface e O Pagamento Final, às provocações de Sean Penn a Michael J Fox no set de Pecados de Guerra (‘Atozinho de tv…’, teria dito Penn, para provocar Fox em uma cena), e o chilique do lendário compositor Bernard Herrmann, que tem um ataque ao ouvir sua trilha de Psicose usada como temporária em Vestida pra matar.

Uma master class no Festival do Rio.

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