Empobrecendo o ensino, tornando miserável a educação
Uma das mais elevadas tarefas da educação é fomentar nos indivíduos um profundo senso de responsabilidade não apenas particular como social. Para tanto é necessário constituir seres humanos e cidadãos capazes de refletir sobre as contradições da sociedade e de si mesmos. Trata-se de fim imenso que, no entanto, não se encontra afastado de atividades mais ordinárias.
Hannah Arendt observou que educar não era possível sem ensino, já que desta forma se cairia na trilha vazia da retórica moral. Ao mesmo tempo destacou que ensinar facilmente poderia se desconectar da educação.
Nesse sentido, tanto no tocante ao simples ensino como tomando as missões mais abrangentes de educar, os projetos do governo golpista e de sua base de apoio são claros atestados de que o compromisso com as jovens gerações é mais miserável que se poderia imaginar.
Como polpa da lógica irracional e destrutiva tome-se o medonho projeto “escola sem partido”. A propósito de combater supostas doutrinações, pretende que o debate político, eixo de toda sociedade que se quer intitular democrática, seja interditado aos jovens.
No fundo, o projeto busca impedir interpretações críticas sobre a realidade das estruturas autoritárias que mantêm o país no pântano. Estruturas, aliás, que têm em certas correntes partidárias fiéis defensores.
Já a reforma na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, apresentada cretinamente via medida provisória, quer (entre outros pontos) enfraquecer o ensino de disciplinas com vigorosa interseção nas tarefas da educação como são filosofia e sociologia.
Evidentemente não se pode deixar de falar da bomba relógio da Proposta de Emenda a Constituição 241 (PEC 241). Para quem não está a par, a PEC 241 é uma proposta que a título de assegurar recursos para o pagamento de juros dos títulos da dívida — cujos os detentores não passam de um punhado de rentistas e especuladores — faz como que a União imponha a si mesmo um limite nas despesas e investimentos nos serviços públicos como educação e saúde pelos próximos 20 anos.
Se aprovada a PEC 241 irá desmantelar a oferta de ensino público num país que segue necessitando promover um gigantesco esforço de resgate social. Com profundas desigualdades não enfrentadas, o desmonte da educação pública é o golpe de misericórdia em qualquer pretensão de que o país se desenvolva de modo robusto e enfrentando seus abismos sociais.
Como o próprio ensino se enfraquecerá com estas medidas, é de se esperar que faltem aqui os meios de se formar inclusive mão de obra. Não faz muito tempo, aliás, a falta da dita mão de obra qualificada era colocada no conjunto dos “gargalos” que travavam o crescimento do país.
Assim, o Brasil do governo golpista quer se preparar para assumir, talvez com muito orgulho, uma posição subalterna e pobre no contexto da concorrência mundial. Aqui será um espaço privilegiado para a exploração de matérias primas e pilhagem de recursos naturais. De imediato teremos a “drenagem de cérebros”; no futuro, a ocupação de ofícios mais complexos por estrangeiros.
Contudo e felizmente há sinais de esperança do Brasil das ruas. O repúdio ao conjunto destas proposições já fez germinar fortes movimentos emancipadores. As ocupações dos secundaristas e dos universitários país adentro demonstra que os brasileiros não renunciarão ao desejo pelas grandiosas tarefas da educação.