O Brasil morreu

Todos nós temos parte nesta tragédia. Mas quem puxou o gatilho simbólico desse crime foi Michel Temer. Perto dele, Voldemort é um ursinho e Darth Vader é um coelhinho.

Gabriel Camões
ORNITORRINCO site
4 min readNov 24, 2016

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(Foto: Lula Marques/AGPT)

O Brasil morreu. E todos nós temos parte nesta tragédia. Mas quem puxou o gatilho simbólico desse crime foi Michel Temer. Perto dele, Voldemort é um ursinho e Darth Vader é um coelhinho. Temer, que já traz no nome esse verbo que sugere medo, carrega por aí esse semblante de “morto-vivo”, essa cara de vampiro, de mordomo moribundo, de zumbi com fome. Um homem sem votos, sem popularidade, sem carisma, que está nos levando para o fundo do poço, não o de petróleo (esse ele vai vender), mas o de lama.

Pode-se dizer, portanto, que com essa cara de múmia, Temer também “morreu” no sentido poético. No sentido patético. O poeta do Jaburu morreu de medo (ainda morre). O pai do milionário-mirim Michelzinho morreu de vergonha (ainda morre). O marido de Marcela, a “bela, recatada e do lar”, morreu de raiva (ainda morre).

Junto com Temer morreu o barulho das panelas nas varandas gourmet dos bairros nobres deste país, morreu o pato amarelo da FIESP e voltou para o fundo da gaveta a camisa da seleção. O Brasil que tinha morrido, depois daquele inesquecível e eterno 7x1 contra a Alemanha, que foi caixão e vela, missa de corpo presente com um Mineirão lotado, mas que agora parece ter ressuscitado ou ao menos dado sinais de que pode reviver nos próximos anos. Será? O tempo irá dizer.

As Olimpíadas vieram e muitas obras e grandes mudanças que haviam sido prometidas, que inclusive elegeram muita gente, também morreram. Crivella foi eleito, Cabral e Garotinho foram presos e a esperança do Rio de Janeiro em reencontrar o caminho para honrar sua condição de “cidade maravilhosa” também morreu. O Rio de Janeiro que um dia sonhamos, desfigurado por tantas obras e intervenções que sugaram rios e dinheiro, matou muita gente e também morreu.

(Foto: Lula Marques/AGPT)

Morreu também a CPI da CARF, responsável por investigar as grandes empresas e que foi enterrada por Eduardo Cun, ops, presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), que integra a base ali(en)ada de Temer. Morreu e ressuscitou o Ministério da Cultura. Mas agora, com Roberto Freire, morreu novamente. Nasceu a PEC 241, que não morreu, cresceu, virou PEC 55 e, graças a ela, estamos vendo a morte da educação, da saúde, da assistência social, um desmonte e uma desidratação completa do estado brasileiro.

Morreu a esperança de fazer a andar de forma digna o projeto de lei que engloba as chamadas “10 medidas de combate à corrupção”, projeto que angariou o apoio de mais de 2 milhões de cidadãos, mas que (depois de muita pressão popular) chegou, enfim, até a Câmara dos Deputados. Eles não conseguiram matar o projeto, mas querem aprovar nele uma emenda que anistiará o Caixa 2 eleitoral praticado nas eleições passadas.

O judiciário brasileiro morreu. O STF morreu. O STJ morreu. A OAB morreu. A polícia militar não morreu. Mas continua matando. E muito. O jornalismo morreu. E continua morrendo todos os dias. Morre a cada escândalo político minimizado ou ignorado pela chamada “grande imprensa”. Quando essa mesma imprensa superdimensiona suspeitas, convertendo-as em fatos, com a clara intenção de destruir a reputação de uma figura pública que age contra seus interesses, ele morre mais um pouco. A música de abertura do Jornal Nacional anuncia o funeral do jornalismo. O Roda Viva morreu, mas não virou estrela, virou propaganda.

A decência e a ética morreram no Congresso Nacional, que segue vivo, mesmo com a “morte” política de Eduardo Cunha. A Câmara segue no mesmo ritmo improdutivo, custando milhões aos cofres públicos, legislando em causa própria, mas bem viva e bem certa de onde quer chegar. A Lava-Jato ainda não morreu, mas está longe de ser a solução para os problemas de corrupção no país. As delações que não interessam, simplesmente morrem. Tudo que é contra o PSDB e seus asseclas, por exemplo, morreu. Enquanto houver Globo e Moro, Tucanos não morrerão nesse país.

Mas o Brasil morreu. E a corrupção segue mais viva do que nunca.

O Brasil morreu. O Brasil acabou.

E 2016 ainda vive. E viverá em nós ainda por muito tempo…

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