O estupro, o golpe e a deterioração da confiança

É preciso estar atento e forte. Só a denúncia e o enfrentamento poderão restabelecer a confiança na nossa sociedade / por Júlio Fisherman

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2 min readJun 7, 2016

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O ex-presidente da OAB Marcelo Lavenère, que foi um dos autores do pedido de impeachment de Fernando Collor de Mello em 1992, ainda em fevereiro classificou o im-pi-ti-ma da presidente Dilma Rousseff como um “estupro à Constituição”.

Ora, se o país não consegue condenar sem titubeios o estupro contra suas mulheres, com casos que até porque acontecendo com odiosa e permissiva frequência recebem relativizações argumentativas de profundo mau caratismo, evidentemente que não iria muito menos se contrapor ao atentado contra as leis nele estabelecidas.

Afinal, a Constituição é tomada apenas como um pedaço de papel que permite ser violada de acordo com as conveniências de momento, tal como supostamente a mulher vítima pede para ser atacada por certa marca do comportamento que justifica a possibilidade da violência sexual.

O que este golpe parlamentar, midiático, judicial irá perpetuar acima de tudo, caso não seja vencido, é a desconfiança no convívio da sociedade com as instituições, que não, não estão funcionando nem perto do adequado, além de tornar a mágoa e mesmo o ódio os afetos principais da disputa política.

Uma autofagia incontrolável entrará em curso e que ninguém espere ou acredite que as vítimas da falência nacional devam se calar ou se conformar. É imperioso que haja disposição para briga.

Não será com silêncio e passividade em nenhum dos casos que a situação vai se estabelecer em civilizado terreno, pelo contrário só a denúncia contumaz e o enfrentamento dessas posturas até a vitória é que pode (re)estabelecer a confiança necessária ao tecido social. A presidenta Dilma nesse sentido cumpre mesmo um papel pedagógico em nossa história ao não abdicar de seu posto e se manter firme na defesa de seu mandato mesmo com toda a hostilidade que busca lhe culpar quando é vítima de um processo fraudulento.

Júlio Fisherman é escritor, jornalista e colaborador do ORNITORRINCO.

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