Tender — arte contemporânea inspirada no Tinder

Artistas criaram um trabalho que faz uma crítica à relação de desejo e descarte do famoso aplicativo de paquera

Gabriel Pardal
ORNITORRINCO site
2 min readApr 10, 2016

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O fator mais importante no Tinder é o desejo mútuo entre duas pessoas que não se conhecem e que — inicialmente — não precisam de nenhuma outra informação além da aprovação estética do outro. Quanto menos sabemos, mais desperta está a nossa curiosidade e mais fácil fica para excluir o que já não é mais desejado.

Tudo o que é preciso é olhar uma foto e responder Sim ou Não para a pergunta Você quer essa pessoa?, basicamente como fazemos ao escolher um produto na estante do supermercado.

De acordo com esse pensamento os artistas Cors Brinkman, Jeroen van Oorschot, Marcello Madureira, e Matei Szabo criaram a obra “Tender”.

O pedaço de carne crua gira automaticamente sobre um garfo e fica passando as opções de perfis cadastrados na rede. A polêmica descrição dada pelos criadores é que o usuário não passa de um pedaço de carne à espera de que alguém lhe queira e assim possa curar a sua carência em ser uma pessoa desejável.

Eu nunca tive Tinder então não tenho uma opinião completa sobre o assunto, mas muitos amigos usam ou usaram o aplicativo e me contam histórias de encontros e desencontros pelas noites cariocas. O motivo é: ajudar a encontrar alguém pra trepar. Quer dizer, adiantar algumas partes do processo da conquista, e, quem sabe, passando direto para um sexo delivery em casa. Alguns amigos recomendam e contam que encontraram pessoas bacanas, outros não usam mais porque disseram conhecer só gente estranha e esquisita (e perigosa). Então tem de tudo. Como na praça aqui do lado onde a rapazeada vai pra beber cerveja, se olhar e, com alguma dificuldade, beijar na boca.

Parece que pelo Tinder é mais fácil e mais barato, já que economiza na cerveja e no tempo da troca de olhares. Mas também tira o charme da sedução que acontece quando duas pessoas estranhas se encontram numa noite e sentem que podem, quem sabe sim, quem sabe não, só chegando junto pra ver, fazer rolar.

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Written by Gabriel Pardal

Artista. Escreve sobre processos criativos, inspiração e criatividade nos dias de hoje. https://www.gabrielpardal.com/