A coragem não foi esquecida — Livro 1: Capítulo 2

Autor: Rodrigo Bino

Rodrigo Bino
Os exilados e o Clube Tangerina
22 min readJul 3, 2022

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— Volta aqui, seu bocudo!

Era o dia seguinte e vemos Daniel que passa correndo, desesperado, fugindo de Luna.

Ravi que vê a cena, se pergunta se era mesmo Daniel e Natanael diz que deve ter sido algo sério. Mas Ravi insistia no fato de Daniel ser calmo, tímido e que dificilmente tiraria alguma garota do sério. Guilherme lembra que estão falando de Luna, que sai do sério facilmente.

Mas o que aconteceu para chegarmos a esta situação? Vamos voltar ao início do recreio da terça-feira.

— Ai que calor hoje! — Comenta Orion para seu amigo Daniel.

— Sim, tá mais calor que ontem… Mas… — Daniel olha ao redor e continua sua fala: — Você não acha estranho esse tanto de menina perto da gente?

— O quê? Eu não sei o que fizemos, mas eu tô tão feliz de ser popular entre as garotas agora!

— Admiro seu otimismo. Mas não é por causa do Armani que está sentado com a gente? — Daniel aponta para o seu lado com o polegar.

Armani, o que arranca suspiros das garotas, embora seja na dele, ele nunca fez esforço para atrair atenção.

Daniel, também é misterioso, porém muito tímido quando falam com ele, principalmente garotas. Muitas garotas acham ele fofo, mas não se aproximam dele como fazem com Armani. Uma vez uma garota foi falar com ele toda descontraída e ao perceber a timidez dele ela ficou tão tímida sem ter conhecimento dessa sensação. Disseram a ela que ela estava apaixonada. Ela acreditou por algum tempo, mas depois resolveu ficar na dela por que estar na presença dele era meio constrangedor, pois o número de reticências na conversa trazia uma ansiedade à conversa.

Enquanto algumas garotas nem ligam para essa timidez, outras acham que ele é metido por ignorá-las. Quando na verdade ele quer até que conversar, mas sua ansiedade social às vezes o impedia causando a clássica confusa entre tímido e metido.

Estar cercados por olhares de garotas sem disfarçar era algo novo para Daniel.
"Então é assim para Armani todo dia?" — Pensava Daniel.

No outro lado do pátio, Clara enciumada pede para sua amiga Raíssa ir lá para ver o que estava acontecendo e se estava tudo bem com Daniel.

Gabriela ao ouvir a conversa de Clara e Raíssa, vai até Luna que estava com outras pessoas ouvindo as histórias de Ravi.

— Luna, acho que precisamos falar com Ariane.

Ariane estava com Denise, quando Gabriela e Luna chegaram.

— Ariane, estão dizendo que no meio daquelas garotas está Daniel e Armani.

— O quê?

— O que Daniel tem a ver? — Pergunta Luna.

— Ariane disse ontem que ele é uma possibilidade dela. Mas eu acho que ali estão garotas que gostam do Armani e do Daniel.

Luna ri não acreditando nisso, mas a Ariane diz que sabe meio desanimada.

— Como assim gente? — Pergunta Luna.

— O Daniel tem fã clube também, mas somos outro tipo de garotas. Os fãs-clube dele são discretos e eu sei que há uma concorrência.

Luna e Denise ficam surpresas.

Gabriela continuou dizendo que descobriu que Clara gosta de Daniel.

“Fã clube do Daniel…?” — Denise pensava seriamente.

— Denise, o Armani também está lá. Você não parece preocupada. — Disse Gabriela.

Luna viu que na hora Denise ficou sem jeito, e como ela se sentiu culpada no dia anterior por fazê-la confessar sem querer, tentou ajudar dizendo que Denise nunca disse que gostava de Armani.

— É? Tem razão, mas é uma possibilidade, não foi o que ela disse? — Pergunta Gabriela.

“Quando foi que eles ficaram amigos?” — Se perguntava Luna em sua mente enquanto pensava em Armani e Daniel.

Denise se levanta e resolve ir lá.

Quando a escola viu que ela estava chegando, outras garotas se sentiram intimidadas. Clara viu o movimento e resolveu ir até lá também, embora já tenha enviado Raíssa na frente.

Enquanto isso, Orion estava extasiado e Daniel estava tentando desenvolver um diálogo com Armani.

— Você nunca comeu sentado com a gente né?

Armani só acenou a cabeça e disse sim com a boca cheia.

— Eu posso perguntar uma coisa? — Disse Daniel.

— Você já perguntou. — Respondeu secamente Armani.

Daniel ficou pensando no que ele disse e pediu desculpas. Quando ele ia perguntar, Orion atravessou e, desesperadamente, pede para que ele o ajude por favor.

— Me ajude a atrair olhares de garotas como você faz?

Armani para de comer estranhando o pedido e, ao olhar ao redor, todas as garotas começaram a disfarçar e não fazer contato visual.

— Bocó. Eu não faço isso e não vejo nenhuma me olhando. — Respondeu Armani colocando mais um pedaço de sanduíche na boca.

“Não é possível… Ele é muito desligado” — Concluía Orion em sua mente.

Raíssa tem dificuldades de entrar, pois várias garotas a encaravam tanto que ela ficou com medo de se aproximar mais. Era como se estivessem protegendo o território.

Daniel pediu desculpas pelo que Orion havia dito, enquanto Denise, Clara e mais outras duas das garotas mais bonitas e populares, começaram a se aproximar deles e desta vez as garotas, digamos, mais comuns, que já estavam perto, ficaram intimidadas; afinal, as populares eram uma espécie de fêmeas alfa.

As quatros já se viram e começaram a trocar faíscas pelos olhos. Os quatro reinos se colidiam. Quanto mais perto elas chegavam, mais Orion suava e ficava com o coração palpitante. Ao chegarem finalmente na mesa se empurrando, elas ouvem a pergunta de Daniel:

— Por que você deu uma tangerina para Luna?

Todos ficaram em silêncio e assustados, enquanto Armani continuava mastigando tranquilamente e, ao engolir, disse:

— Me preocupo com ela. — E Armani voltou a comer.

Todas as garotas ficaram coradas e assustadas. Se fosse possível ter um raio x, seria possível ver vários corações partidos, embora fosse visível em seus rostos. “Armani… Luna?” — Pensavam as garotas.

Denise foi a única que não se incomodou com a frase e prosseguiu dizendo.

— Então você conseguiu trazê-los para o nosso clube, Armani? Por isso está com eles?

Daniel ficou com suas mãos suadas e tentava evitar contato visual com Denise. Armani, tranquilamente olhou para Denise e disse: — Ah, é você.

— Veja como você fala com Denise, seu insolente! — Gritava Orion.

— Há? Desculpa. — Respondeu Armani ainda com a boca cheia.

“Arrependeu rápido demais” — Pensava Orion indignado.

— Não tem problemas, Orion. — Disse Denise com o sorriso mais lindo que Daniel tinha visto. Quando ela olhou para ele, ele desviou novamente o olhar.

— Não chamei eles para o clube. Só a Luna por enquanto.

As garotas começaram a ficar enciumadas e Denise percebendo como isso seria ruim para sua amiga, comentou:

— Dan…

Daniel ficou atento e com muita dificuldade olhou para Denise.

— Sabe, a gente tentou recrutar novamente a Luna para nosso clube, mas ela não quis voltar.

A resposta de Denise ajudou a acalmar os ânimos. Mas ficaram pensando em como Denise e Luna eram sortudas por estar no mesmo clube que Armani. “Espera, Armani está em clube?” — Pensavam e cochichavam as garotas.

Daniel perguntou gaguejando qual era o clube deles.

— Acho melhor falar em particular para vocês, tem muita gente ouvindo.

— De música. — Respondeu Armani, o que deixou Denise inconformada, ao mesmo tempo que acabava com a ansiedade das garotas em volta.

Denise puxou a orelha de Armani e gritando com ele chamou de idiota e que ele ficaria responsável pelo tanto de gente que tentaria entrar no clube por ter feito mais gente descobrir.

— Me desculpa. Mas não tem ninguém prestando atenção em nossa conversa. — Dizia Armani terminando de comer.

Denise ficou mais irritada, pronta para dar um sermão em Armani, quando Clara diz:

— Dan, você pode entrar no meu clube. — Ela disse essa frase seguida de piscadinha de olho, deixando Daniel constrangido.

Denise estranhou e na mesma hora outras garotas começaram a chamar Daniel, ao mesmo tempo, para seus clubes de artes, botânica, esportes, astronomia, ocultismo…

“Ocultismo?” — Pensa Daniel tentando entender o que estava ouvindo.

Ao mesmo tempo algumas garotas ficavam se perguntando se podia entrar no clube de Armani.

— Seu idiota, você é mesmo um lerdo. — Dizia Denise para Armani saindo dali.

Armani se levanta e puxa o braço de Denise pedindo para esperar.

Todos ao redor ficam atentos a cena, afinal, não era comum ver os dois nesta situação de discussão. “Será que são um casal?” É uma pergunta que passou na cabeça da maioria.

Denise para e pensa por uns segundos e resolve continuar andando para encontrar Luna. Armani foi logo atrás. Foi neste momento que…

— O queeeeee? Daniel perguntou o quê? — Dizia Luna inconformada.

— Sim, e eu disse que estava preocupado com você. — Respondeu Armani de braços cruzados.

— É por isso que as meninas estão me olhando de lá para cá de um jeito estranho. Vocês são um bando de lesmas! — Dizia Luna dando uma voadora em Armani, deixando Denise e quem estava perto chocados. Alguns até pensaram que ela estava dando um fora no Armani.

Enquanto isso, do outro lado, Daniel estava roxo de vergonha enquanto Orion bancava seu assessor dizendo calma a todas ali.

— Vou anotar todos os convites dos clubes para ele escolher com calma depois, gente … Calma… Calma…

— Danieeeel Limaaa!

Na mesma hora uma sensação ruim subiu em sua espinha, quando Orion viu e disse que a Luna estava parecendo que iria se transformar num dragão que cospe lava e gelo…

— Lava? — Estranhava Daniel.

— Maluco, é melhor você correr! Corre mano, corre!

Daniel viu Luna acelerando e começando a correr aos poucos. Quando ele percebeu que ela não iria parar, ele saiu correndo da mesa por instinto.

Enquanto isso, as pessoas tentavam entender a cena de Denise brava, Armani correndo atrás dela e levando um chute de Luna. O que há nesse triângulo, pensavam as garotas.

Já Raíssa, chegou para Clara dizendo que Luna deu um fora no Armani e que correr atrás de Daniel assim cheirava briga de marido e mulher. Talvez eles tivessem algo e ninguém sabia, concluía Clara. Por isso Raíssa comentou que deve ser mais complexo, pois envolvia os quatro. Logo começou a missão para descobrir por quem Daniel tinha sentimentos. Achando que seria difícil de descobrir, a engenhosa Raíssa sugeriu ver se o "Senhor Seca" gostava de alguém e que não seria difícil de descobrir, negociando com ele uma ajuda em troca dessa informação.

Aula de História e a concha

Era aula de História, o gentil professor Miguel estava encarando Armani e Daniel que estavam com arranhões. Achou improvável eles terem brigado entre si. Ficou ali matutando em sua cabeça o que poderia ter acontecido.

Mas logo percebeu uma cara de preocupação em Denise e percebeu também Luna de braços cruzados olhando de forma brava para o lado, para a parede.

— Certo. Percebi que o clima tá estranho hoje e por isso vou fazer o seguinte… Só um minuto. Isto! Vocês vão juntar carteiras até 4 pessoas e pegar parte do que aprendemos sobre a História do Brasil antes da Renovação do mundo e construam uma história modificando algo. Usem a criatividade para contarem como seria o país hoje se a mudança que sugeriram fosse real. Podem consultar o livro.

— É por isso que ele é um dos melhores professores. — Dizia Ravi animado em inventar histórias.

— É para hoje? — Perguntava Guilherme, um garoto repetente de 17 anos.

— É claro! Vou dar 15 minutos para fazerem suas sugestões e depois vamos conversar sobre elas.

— Mas não temos muitas informações de antes da Renovação, professor… — Contestava Gabriela.

— Exatamente, vamos usar o pouco que temos de documentação daquela época. Não se preocupem, não estou exigindo que preencham as lacunas que a história deixou. Mas podem tentar preencher com a criatividade de vocês, no entanto…

— Psiu… Guilherme! — Léo o chamava.

— Você vai entrar no clube da Denise e do Armani?

— Não pensei ainda nisso.

— É que os fãs da Denise já estão se movimentando.

Enquanto isso, nas junções das carteiras, Daniel e Orion perguntavam para Armani que se aproximou deles com sua carteira:

— Você quer participar do nosso grupo?

Armani deu de ombros como se tanto faz. Porém, Orion estava animado que ele permitiu e perguntou se um dia iria ensinar ‘aquilo’.

Armani não prestou atenção, porque, no quadro, o professor Miguel estava escrevendo instruções, mas desenhou um nó na lousa.

— Eu preciso apontar o lápis. — Disse Armani para ir até a lixeira que ficava na frente da sala.

— É… tá! — Dizia Orion com estranheza.

Ao voltar para mesa Armani deixou uma concha desenhada de forma modesta num papel na mesa do professor.

Denise e Luna estranharam, mas logo entenderam.

Daniel reparou também na concha e ficou tentando entender aquilo. Neste momento que ele teve uma lembrança meio embaçada de Armani correndo por ele voltando para escola e uma pedra brilhante na mão de Orion.

“Nossa… Um sonho de novo ou uma lembrança?”

Miguel olhou a concha enquanto estava escrevendo no quadro e sorriu. Luna olhou para Denise com um ar de o que está acontecendo e Denise diz com sua boca, sem sair som, que não tem certeza e fica encarando a mesa onde estava Armani, Orion e Daniel de forma pensativa.

Daniel desvia o olhar de Denise e isso fez Armani reparar. Por isso ele olhou para trás e viu Denise olhando para eles e logo ela se assustou e virou rapidamente para Luna, que estava em sua frente.

Armani olha para o teto e diz: — Entendi.

— O quê? Vai nos ajudar a atrair os olhares das garotas. — Disse Orion, deixando Armani irritado.

— Eu já disse que… Espera. Tá certo. Vamos acabar logo com isso. Depois da aula me esperem nos bancos do labirinto.

Banco do labirinto era um local com vários bancos formando um desenho de labirinto quadrado, mas não era bem um labirinto, pois só havia bancos e não muros, por isso nada escondiam sua visão para achar a saída. Aliás era comum os alunos entrarem e saírem por qualquer lugar, menos pela entrada e saída, por causa dos bancos serem baixos. O local tinha cerca de 60 metros quadrados e ficava no meio do pátio, porém do lado de fora e em dias frios era disputado, pois batia sol ali.

Enquanto os alunos faziam o trabalho, Professor Miguel saía da sala e encontrava Aquiles e mais um homem misterioso no corredor. Aquiles diz que ele estava atrasado.

Foram até a biblioteca, onde ficava a eterna tia Mônica. Pelo menos para quem estudou naquela escola desde a infância. Ela era desastrada e prestativa, além de parecer que nunca envelhecia.

— Olá rapazes… Me desculpem, me assustei um pouco com vocês chegando aqui. Perdi noção do tempo. Está tudo como pediram naquela mesa. — Disse Mônica apontando para a mesa.

Agradeceram e foram à mesa falar do ocorrido do dia anterior. Mas, antes de começar, o homem misterioso perguntou sobre o item perdido.

— Armani me falou que está bem protegido, mas que devemos esperar o momento certo. — Disse Professor Miguel.

— Hum, ele deve ter usado aquele truque barato de sonolência. Mas, por quê? — Pergunta Professor Aquiles.

— Bom, Armani poderia ter só me mostrado a concha, mas ele colocou em minha mesa…

— Quer dizer invasão. — Interrompe o homem misterioso.

— Sim. Embora dado o contexto que ele aplicou ao apontar o lápis ao meu lado, deduzi que é alguém da sala dele com possibilidade para lapidar. Parece que podemos interpretar que quem quer que seja que descobriu nosso item, deve ter feito sem querer e nos viu ontem.

— Vamos assumir isso e ficar de olho para que o brasão não desperte quem quer que seja de forma errada.

— Aquiles está certo. Precisamos saber mais da índole dessa pessoa. E Armani pode se aproximar desta pessoa?

— Eu acho que ele já fez isso por conta própria. Mas também acho que ele está esperando o efeito da sonolência dela passar para falar com essa pessoa, quem quer que seja. — Disse Miguel coçando seu queixo.

O Clube da música

Acabando a aula, Daniel e Orion encontraram Armani no ponto combinado e foram para umas das salas que eram usadas para clubes. Ao chegarem perto, havia uma fila grande e do lado de fora era possível ver alguns do clube do terceiro ano e Denise que ao ver Armani, cruzou os braços e o encarou furiosamente.

Chegando ali com Orion e Daniel, Armani cumprimentou as pessoas da porta, mas elas só encaravam Armani seriamente. Ele logo pergunta o que aconteceu. Todos responderam: — Você aconteceu!

— Com licença, mas por que estamos vindo ao clube de música, Armani? -Perguntava Orion.

— Costumava ter pouca gente. Não sei porque está assim. — Ele respondeu enquanto Daniel e Orion não acreditavam no que ouviam. “Que cara desligado!” — Pensavam.

Na fila havia fãs de Armani, de Denise e de Daniel.

Atrás do muro de uma das salas estava Guilherme e Ravi, que estavam seguindo eles. Afinal Ravi gosta de uma boa história e aventura e Guilherme queria entender melhor a história que viu no recreio.

— Daniel, Armani! — Surge Luna gritando e correndo em direção a eles.

— Devemos correr? — Pergunta Daniel.

Armani, sério e sereno, responde simplesmente "sim" e do nada sai correndo fazendo sinal para seguí-lo.

— Mas ela não está atrás de mim, né? — Pergunta Orion.

— SEGURA ELES, Orion! Se você não segurar…Aaargh!

— Eu? Quem sou eu para segurar dois marmanjos? Me espera aí, turma! Me esperem, vou com vocês!

Correndo muito pela escola, Daniel resolveu parar e se virar para Luna, se ajoelhando pedindo desculpas.

Luna não estava esperando e deslizava com os pés no chão para parar de correr e não pisar em Daniel. Ela freia e no galeio final apenas dá um soquinho na cabeça dele e se senta no chão ao lado dele.

— Armani! Perdemos Daniel… E eu não aguento correr mais…

Armani pára de correr e procura ao redor e fica um tempo pensando no que fazer.

Enquanto isso, Luna pergunta a Daniel porque ele fez aquela pergunta a Armani, e ele respondeu que achou que ela estaria rejeitando Armani, mas estranhou uma tangerina.

Luna fica em silêncio pensando e Daniel, constrangido com o silêncio, tenta falar que não sabia o quanto isso poderia magoá-la, mas Luna interrompe perguntando o que é uma laranja.

— Quê? Como assim? Ué, é uma fruta…

— Que tipo de fruta? O que ela tem?

— É… é uma fruta que tem… Hum. Tem bagaço, gomos…

— Sim. Se você estivesse no meio de seus amigos e recebesse uma laranja o que você faria?

— Agradeceria.

— Sim, mas para que serve uma fruta?

— …comer?

— Então, no meio dos seus amigos você comeria?

— Só se alguém tivesse alguma faca, mas eu esperaria para comer em casa.

— Por quê? Por que não dividir?

Daniel, estranhando aquele diálogo, diz ser nojento dividir a mesma laranja com alguém.

— Então a laranja é uma forma de dizer que você não pode comer com seus amigos, apenas sozinho. Mas se quem te deu a laranja estivesse a sós com você e desse uma laranja com uma faca, o que você entende?

— Isso é estranho…

— Sim, pode ser, mas o que isso representa?

Daniel pensou, tentando entender o que ela queria que ele respondesse. Mas refletiu que seriam pessoas íntimas, amigas, talvez.

Luna fica surpresa com a resposta e pergunta:

— Então uma laranja num contexto de duas pessoas a sós com uma faca significam intimidade?

Daniel, confuso com a conversa filosófica, ainda mais vindo de Luna, concorda dizendo que talvez amizade e companheirismo também.

Luna continuou:

— Então, se você encontra uma tangerina em sua mochila, o que ela estaria dizendo neste contexto?

— Acho que entendi. Neste caso eu também posso dividir com meus amigos, como a laranja. Mas neste caso não precisa de faca. Dá para repartir com a mão… Como se ela fosse… feita…para isso…

Daniel respondeu ao mesmo tempo que ia descobrindo.

— Então, o que uma tangerina pode representar sendo dada a mim?

Daniel pensou várias coisas, mas não fazia muito sentido na cabeça dele a cena que via.

— Bom, quem te deu a tangerina esperava que você abrisse e… mesmo assim, é algo de intimidade, porque não teria frescuras de higiene… e… bom… porque todos terão contato com o que tocou primeiro na tangerina… e… Espera! Não faz sentido. Armani queria que você dividisse com ele?

— Não esqueça o contexto. Denise e Armani estavam lá também. Digamos que é uma mensagem secreta que poucos podem construir e entender. A tangerina veio deles. Se você descobrir a mensagem, assim como descobriu da laranja, talvez você possa ser… É melhor parar por aqui.

Daniel ficou mais confuso e Luna se levantou, sem parecer que ainda estava brava mais. Com um sorriso ela disse que aquela conversa deles deveria ser um segredo, porque ela falou demais. Daniel meio que aceita a sugestão de ser um segredo e Luna prossegue:

— Daniel, posso te perguntar uma coisa? Por que Armani está andando com vocês?

— Ah, sobre isso…

Voltando para Armani e Orion, que estavam próximo as escadarias que descia para as quadras da escola, Orion ouvia as perguntas de Armani.

— Você encontrou alguma pedra que brilha?

Orion estranha, mas diz que normalmente ele não participa dos desafios de Ravi.

— Entendi. E você teve algum sonho estranho?

— Não lembro dos meus sonhos… Mas, aí, tem a ver com as dicas que pedi?

Armani ignorou e comentou que não esperava que o efeito fosse tão forte em Orion.

Pedro e Kallíope estão passando ali, na rua interna da escola, e encontram Guilherme e Ravi abaixados espiando Orion e Armani. Então perguntam o que estavam fazendo.

Ambos gritaram de susto e responderam que estavam procurando uma pedra misteriosa. “Típico de Ravi” era o que pensavam.

Porém, um dos pais que ficavam com seus carros esperando seus filhos estava ali, dentro do seu carro e acabou ouvindo aquela conversa.

Pedro perguntou se eles tinham visto a Luna, quando ela chegou no momento da pergunta.

Uma ligação é feita pelo pai misterioso que estava ali dentro do carro dizendo saber em quem ficar de olho e dizia que daria instruções a sua filha.

Daniel passa pela porta da saída do prédio da escola e encontra com Armani entrando de volta. Armani passa direto por Daniel, e de costas logo o chama e fala:

— Se você não for usar a pedra, nos devolva…

E prosseguiu no caminho para dentro da escola até que se ouve o som a frente, Orion caindo no chão e se levantando rapidamente para ficar bem na frente da Kalliíope.

Chegando perto de Daniel de forma lenta, cômica e teatral com um sorriso ele muda drasticamente seu rosto para sério e pergunta:

— O Armani não me deu dica nenhuma. O que ele falou para você?

— Hum. Bom, não entendi bem. Alguma coisa de pedra. Orion, tem algo estranho nessa escola…

— É, ele falou de pedra também…pera aí. Na escola? Não só Armani?

— Sei lá, vamos embora…

Daniel começa a andar olhando para frente e percebe Luna olhando para eles com um ar de desconfiada. Naquele momento Daniel tem um flashback e vê coisas voando em sua direção e Armani tapando-lhe a boca e a de Orion.

— Dan? O que foi?

Era Denise com seu perfume e voz que deixava Daniel desconcertado e com a respiração descontrolada, causando borboletas na barriga.

Na sequência, ela pergunta se ele não viu Armani, porque ela e o pessoal do clube estavam precisando da ajuda dele.

Orion, tentando ajudar como um cupido, resolve dizer que eles ajudariam.

Ela agradece e responde que a não ser que eles fossem do clube, eles poderiam ajudar. Denise volta para dentro e Daniel, desligado e concentrado, observa Denise voltando enquanto Orion comenta:

— Você viu que tentei te ajudar né? E você dizia que não sentia nada por ela mais… Haha.

Mas assim que passa Denise, Daniel vê Armani escondido, esperando Denise passar por ele.

— Vem, Orion, achei Armani.

— Aí, sim, você vai ajudar ela! Isso aí! Meu garoto tá amadurecendo!

— Não, tem algo estranho com Armani.

Daniel começa seguir com cautela e Orion estranha, mas entra na dele ao mesmo tempo que pergunta o que estava acontecendo.

Ao ver onde Armani parou de andar, Daniel teve um novo e rápido flashback, mas agora de Aquiles colocando a mão no chão e levantando um monte de terra.

— Orion, fique de olho em Armani.

Armani olha a sua volta e tirando um dispositivo diferente, coloca em sua boca e simplesmente desaparece.

— Minha mãeeee! O que foi isso?

Daniel, incomodado dos flashbacks não serem apenas sonhos, resolve ir até lá, mas Orion, ao contrário de Daniel, não é tão corajoso.

— Cara, larga disso. Bruxaria… Não vamos mexer com isso… Você viu… Eu vi. A gente vai morrer!

Daniel se lembra da pedra e vira para Orion perguntando da pedra brilhante.

— Ah, não! Até você? Que pedra é essa? O que o Ravi tá inventando agora?

Daniel e Orion chegam perto de onde Armani havia desaparecido. Mas percebem que há uma parede bem sólida ali. Não havia alguma entrada. Foi neste momento que veio a memória a concha deixada na mesa do professor Miguel e a história da Luna sobre laranjas e tangerinas.

— Orion, o que uma concha representa para você?

— Hein? A gente tá com um caso clássico aqui de teletransporte e você vem me falar de concha? Eles fizeram lavagem cerebral em você quando ficou para trás?

— É sério. Eu vi Armani deixando uma concha na mesa do professor Miguel e ontem vimos Luna devolvendo uma tangerina para Armani.

Orion, assustado, para e pensa uns minutos e diz que a tangerina é alguma técnica sedutora para ele atrair Denise.

Daniel fica com vergonha e diz para ele que é sério. E pergunta se ele não lembra do dia anterior, deles terminarem a conversa da tangerina.

— Claro que lem… Pera aí. Eu não consigo lembrar do final da conversa. Daniel! Lendários homens de preto… Só pode!

— Deixa para lá. Não sei porque só eu lembro. Vamos embora…

— … Está protegido. Bem guardado.

— O que você disse, Orion?

— Uma concha. É isso que me representa. Mas às vezes é o mar. É como dizem, você pode ouvir o som do mar em qualquer lugar. Ih… Eu nunca fui ao mar. Acabei de lembrar.

— Orion, Orion, Orion!

— Daniel, Daniel… Daniel?

— Orion! O Armani sabe da pedra brilhante. E será que o professor Miguel está envolvido?

— Mas que pedra é essa, minha gente?

— Se uma concha protege algo valioso, então como ele pode dizer que está protegido?

— Eu não tô entendendo mais nada.

— Olha aí se não é o Senhor Carente da CDF fundo de garrafa!

Lucas e Martim chegam na área e já começam a dar rasteiras em Orion derrubando-o no chão.

— Ah! Qual é, galera? Me deixem em paz hoje.

— O cara acha que pode ter chance com as mina daqui. Você é bolsista. Nunca terá chance com ela ou com qualquer uma, nem aquela mina feia do segundo ano. Esquece a nerdizinha. — Dizia Lucas rindo com Martim.

— É, ela vai casar com outro CDF, pode crer? — Completava Martim enquanto dava chutes em Orion.

Continuaram a discursar o quanto Orion era pobre e aquela cena foi deixando Daniel incomodado e como ele era mais novo que eles e magro, ficava hesitante em fazer algo para impedir.

“Droga, não consigo proteger Orion. E Kallíope não deve ser do tipo que se importa com dinheiro para gostar de alguém. Esses caras… Por que continuam batendo nele?”- Pensava Daniel enquanto cerrava os punhos e os dentes. Cada vez mais ele tentava pensar em algo para falar, pois a sua única arma era o intelecto. Mas pelo visto eles não eram do tipo intelectual.

“É isso! Eles não devem ser inteligentes!”

— A-apo-aposto que vo-vocês não entendem uma palavra do que Kallíope diz. — Dizia Daniel reunindo toda coragem, mas ainda olhando para o chão.

— Como é? — Disse Martim.

— Como vocês podem saber algo sobre ela, ou de quem ela gosta, se não entendem uma simples frase dela? — Continuou Daniel com seu coração disparado e mãos trêmulas.

-Hum, faz sentido…-Disse Martim, porém Lucas dá um soco em Martim para ele não concordar e interrompeu dizendo:

— E quem é esse pirralho? Olha na cara se quiser falar alguma coisa. Não tem coragem? Olha na cara!

Daniel olhou finalmente para eles com uma cara brava e os encarou por alguns segundos.

Depois parou e sorriu dizendo:

— Pensando bem… Vocês vão trabalhar para alguém como nós no futuro. Me lembrarei de não contratá-los.

Martim e Lucas se entreolham admirados com a audácia de Daniel.

— Ah seu merdinha! — Dizia Lucas enfurecido dando uma joelhada na barriga de Daniel, derrubando-o no chão.

O ar sumiu, o corpo repuxou como se houvesse algo que puxava sua cabeça entre as pernas para ficar encurvado, mas ao mesmo tempo a falta de ar o fazia levantar a cabeça para cima e por isso ele tossia, para tentar respirar ao mesmo tempo que o corpo o fazia abaixar a cabeça, deixando-o sem ar novamente.

— Olha lá. Mal aguentou um chutinho. Nem é capaz de proteger alguma mina. Haha!

— A vi-vi….a violência… — Respirava Daniel tentando se levantar. Ao olhar para eles novamente ofegante e meio encurvado, retomou a frase e disse:

— A violência é o argumento de quem já perdeu a razão da discussão! Ou seja, eu venci.

Ficaram parados tentando entender a frase dele, mas Martim foi lá e deu outro chute dizendo para ele dizer o que achava do argumento do pé dele. Acertando sua coxa desta vez, Daniel cai.

Ele tenta se levantar novamente e pergunta de forma ofegante:

— Por que um pobre e alguém desconhecido como eu importa tanto para vocês se incomodarem? Que tipo de ameaça somos para vocês?

Orion com dificuldades e ofegante tenta dizer para Daniel parar, mas Daniel diz:

— Eu só estou aquecendo. Esses são meus golpes. Doem mais do que agressão física… Um dia eles ficarão ouvindo minhas falas toda noite ao deitar…

— Ah, seu nerdezinho da mamãe! — Partia Lucas para cima dele.

Orion reparou algo estranho no ombro de Daniel e teve um vislumbre de ter visto algo parecido em Armani.

Daniel esquivou do chute de Lucas. Martim veio com um chute e um gancho de esquerda na sequência, ao mesmo tempo que Lucas novamente tentava um chute.

Daniel esquivou de todos os golpes e ficou tão admirado quanto Lucas e Martim. Por isso resolveram os dois irem pra cima de Orion e encherem de chutes.

Daniel tenta ir para cima deles, mas ao se jogar Armani surge dando apenas um tapa no peito de Lucas e um outro nas costas de Martim. Ambos caem rapidamente no chão dando várias cambalhotas.

Orion e Daniel se assustaram com a força de Armani apenas com a palma da mão e também não puderam deixar de reparar a luz nas costas, na altura do ombro direito de Armani.

Próximo capítulo:

Créditos

Autor e ilustrador: Rodrigo Bino
Revisão de texto: Damáris Maia e Ana Maia Dias

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