Agora é só a gente — Livro 1: Capítulo 6

Rodrigo Bino
Os exilados e o Clube Tangerina
20 min readNov 10, 2022

— Então, Luna… Acho que você anda muito preocupada… Diria até que você quer entrar no clube da música. — Disse Kallíope. — Hã? Não… é o que falei. Não levo jeito para artes. Não tenho algum talento específico musical.

Em seu caminho para ir para casa, estava Luna e seu irmão Pedro e Kallíope. No entanto, no meio daquela conversa, Luna viu que a aluna do terceiro ano passou por eles indo em direção à escola. “Onde eu já a vi?”

— Você viram o que estão falando dessa menina que passou pela gente? — Disse Pedro.

Luna se volta para seu irmão: — Hã? Quem é ela?

— Ah sim, fiquei sabendo. — Disse Kallíope.

— O que aconteceu, gente? — Disse Luna odiando sua curiosidade aumentando.

— Na verdade fiquei sabendo por umas meninas da sala. Porque é um boato correndo entre elas. — Disse Pedro.

Luna pega Pedro no colarinho e sacudindo-o pede para contar logo.

— Nossa, por que você está preocupada assim em saber isso? — Dizia Pedro.

— Eu? Não…na verdade nem ligo. É que… eu acho que conheço ela de algum lugar.

— Pedro, conte logo. — Disse Kallíope.

— Ah, tá. Então, disseram que ela gosta de um cara do primeiro ano…

— Aff… Não precisa me contar mais!

— …do Ravi.

Luna se assusta visivelmente com a bomba e se lembra de ter visto Ísis com Clara e Raíssa perguntando sobre ele.

— Luna, você tá bem? Diria que seu crush é o Ravi pela sua cara surpresa. — Disse Kallíope colocando a mão em seu ombro e rindo enquanto balançava a cabeça de forma negativa.

— Ah… é… não, não é isso. Me lembrei que esqueci algo na escola. Podem ir, eu alcanço vocês… — Disse Luna enquanto se virava e corria em direção à escola.

Kallíope e Pedro se olham e ficam sem entender.

Voltando ao Clube Tangerina, os professores subiram no andar de cima e viram destroços pequenos e muita poeira em cima de Ravi que havia se jogado em cima de Orion, que estava branco de medo.

— Que reflexos, Ravi! Vocês estão bem? — Pergunta professor Miguel ajudando-os a se levantarem.

— Miguel, eles não são despertados, deveríamos tirá-los daqui. Isso só vai nos atrasar. — Disse Aquiles.

— Daniel! Vamos embora daqui! — Gritava Orion ao ver Daniel atrás dos professores.

Natanael lá debaixo grita para trazer os novatos para baixo, assim que descem ele explica resumidamente o mínimo que eles precisariam saber.

— Meninos, não sei o quanto vocês sabem. Mas estamos lidando com algo que há anos não imaginávamos que iríamos lidar. Por isso precisamos de aliados para ajudar a defender nosso esconderijo. Há décadas nossos inimigos querem saber onde estamos. Vocês têm uma pedra, ou melhor, um brasão sonar, certo? Usem-na ela para despertar um de vocês. Há mais duas pedras na cidade. O pessoal de arqueologia ainda não o localizaram. Vocês precisam encontrá-las. Quando despertarem, tudo ficará claro. Despertem para ajudar a proteger nosso Clube e, se possível, sei que é pedir muito, despertem mais pessoas de nosso reino esquecido. Mais pessoas precisam lembrar suas origens e nos ajudar, ou todo o sacrifício que tivemos será em vão. — Natanel se vira olhando para o lado. — Um pedido especial, resgatem Luna. Ela era uma de nós e tem potencial oculto. Sei que vocês têm várias dúvidas ainda, mas peço que confiem em nós e saibam que é o certo a fazer. Agora vão lá. Levem este livro. Ele tem algumas instruções, mas fiquem atentos as páginas brancas. Elas podem ressoar a frequência de uma dessas pedras sonares. Vão para a praça Alberto Chances. Armani disse que Daniel consegue ler a língua de Allumira. Então não terão muito problemas.

Orion e Daniel tentaram dizer ao mesmo tempo com dúvidas enquanto Ravi estava com os olhos brilhando e pensando que agora teria uma aventura de verdade. Enquanto eles tentavam se organizar na pergunta o chão tremeu e todos que estavam nas janelas gritavam:

— Olha isso!

— Como é possível?

— Olhem!

Armani se aproximou de Natanael e disse que eles não estão ali para brincar, pois fizeram uma cratera enorme no campo, próximo ao clube. Perguntou para Natanael como era possível fazerem aquilo.

— Chega de perguntas. Vamos para ações. Depois eu explico melhor, mas agora precisamos agir! Vocês três entenderam a missão? Tomem o livro e sigam para a praça. Ah! Quase me esqueço. Tudo isso é secreto. Tenham urgência, mas não deixem de ir para suas casas nos horários que sempre vão. Temo que isso aqui vá demorar. Não podemos levantar suspeitas neste momento vulnerável. Nossa esperança agora está com vocês!

Os três vão rapidamente para o tapete e são jogados para uma das salas de aula vazia. Enquanto lá no clube Aquiles questiona a decisão de Natanael.

— É tão séria a situação assim para você mandar presas fáceis lá fora?

— Você tem alguma estratégia melhor para lidar com possíveis capangas originários?

— Isso existe? E se existissem, eles não seriam apenas humanos comuns?

— Se fossem só humanos comuns, não justificaria usarem emblemas do clube Morvius, como relata essa caderneta.

Todos ficaram atônitos e suando frio.

— Fiquem tranquilos, aquelas crianças possuem potencial. Elas sobreviveram. Já vimos crianças sobreviverem em situações piores mesmo sem serem despertadas, não é?

— Se refere aquilo na baía do palácio do Reino de Dirks?

— Isso me traz boas lembranças.

— Você nem estava lá. — Resmunga Aquiles.

— Tem razão. — Natanael ri. — Eu estava no carro esperando vocês voltarem daquela missão maluca de vocês de pressionar o rei usando a princesa Amice.

Missões complicadas

Voltando para escola, os três estavam ali, parados, pensando em tudo que aconteceu. E como era estranho estar num lugar a noite, frio e de repente em outro com um dia quente. Até que o silêncio foi interrompido por Ravi.

— Beleza. Vamos atrás das pedras despertadoras! Eu queria estar na batalha, mas vou dar meu melhor na busca!

— O quê? Ravi, você quer mesmo se envolver assim? Daniel…? O que você acha?

— Eu não sei. É tudo tão estranho e confuso. Nossa vida era normal na semana passada. E agora tem muita coisa nova…

— Eu não sei vocês… Isso tudo me deu dor de barriga. Vou no banheiro. — Disse Orion em disparada.

— Eu também vou. Não fui o dia inteiro. Ah, eu amo a adolescência! — Comentou Ravi com um sorriso empolgado.

A conversa continuou no banheiro enquanto Ravi e Daniel estavam nas pias e Orion concentrado em seu trono com sua dor de barriga.

— Então, como disse, é tudo estranho. Por que devemos confiar neles? — Pergunta Daniel.

— Porque eles são os mocinhos, óbvio. — Respondeu Ravi.

— Esperem… Eu também ainda não decidi quem é mocinho ou não. Mas minha mãe me mataria se soubesse que entrei num clube de tangerina… Ela iria achar que a gente planta árvores no começo, mas ela vai descobrir a verdade… Ela sempre descobre. Bizarro!

— É tudo estranho, mas eu tô muito curioso sobre a localização do reino esquecido. Eu sinto que tem algo familiar nisso tudo. — Disse Daniel franzindo a testa se olhando no espelho enquanto puxa uma mecha de seu cabelo.

— Daniel, vamos abrir o livro! — Disse Ravi.

Daniel abriu o livro e pareceu não fazer muito sentido o que estava escrito. Até que perceberam que não conheciam os caracteres. Porém haviam muitos desenhos de elementos da natureza, frutas e plantas.

— Essa não! Como isso pode nos ajudar? — Perguntava Daniel.

— Disseram que você sabia ler. Uai! — Respondeu Ravi.

— Isso é verdade… Eu ouvi isso também. — Completou Orion com sua voz saindo de dentro da seção do banheiro.

— Não, não é que eu sei ler, mas foi a…. Luna?

— O quê?

— Precisamos encontrar a Luna primeiro! — Disse Daniel fechando o livro.

— Ótimo! Viu Orion? Sabia que ele conseguiria ler as instruções naquele livro.

“Ler? Não li, só lembrei que… Ah, tudo bem. Deixa estar. Vai dar trabalho explicar.” — Pensou Daniel.

Orion deu a descarga e disse: — Vamos nessa!

Enquanto isso, Denise estava tentando encontrar Samanta. Então resolveu ligar para o celular dela, foi aí que entendeu o que houve com ela e Ricardo.

Samanta estava no hospital com Ricardo e disse para Denise:

— …e não sei se você viu o jornal local. Nada daquilo é real. Encontramos o invasor de segunda-feira, mas ele teve ajuda que fez um trabalho de mestre para confundir a todos. Avisem os professores, porque a diretora não vai gostar nada disso quando voltar do curso dela lá em Águas Virtuosas. Temos que proteger a reputação da escola e dos alunos.

— Poxa, não sabia, Samanta. É verdade. Eu acredito em você. Mas não sei se vou conseguir falar agora com os professores, porque alguém descobriu a localização do clube…

— Mais um?

— Não, a localização real!

— Impossível. Como?

— Parece que algum clube de outra cidade, ou outro reino, enviou um espião em algum lugar e ele veio até nosso clube procurando refúgio, mas foi seguido. Mas tem mais coisa. Não sei ao certo quantos estão nos atacando. Todos estão lá. menos eu, você e o Ricardo. Pensei na possibilidade de ser alguma distração para atacarem a escola.

— Isso é muito grave, Denise. Ricardo ainda não acordou e me sinto responsável por ele. Os pais dele não conseguem entender, e nem a… bom, o fato é que eu sou a única proteção que ele tem agora. Eu vou ficar de olho daqui. Me mantenha informada, porque posso ir aí correndo.

— Samanta, tudo bem. Acho que… Bom, talvez eu consiga mais alguns aliados para te cobrir.

Disse Denise no instante em que viu Daniel, Orion e Ravi no corredor da escola.

— Nem Aline…? — Sussurra Samanta consigo enquanto desliga o celular olhando para o celular de Ricardo na estante ao lado da cama.

A garota do terceiro ano

Enquanto os três caminhavam, uma garota mais velha tropeça e cai no chão perto deles. Ravi e Orion vão até ela e pergunta se está tudo bem. Ao se virar para eles sem graça, diz estar tudo bem.

Orion ficou constrangido com a beleza da garota. Parecia tão distante de sua realidade por ser mais velha que ele. Mas ele apertou suas bochechas lembrando do foco dele em Kallíope. A garota se vestia de forma descoladas, embora usasse o uniforme da escola. Seu cabelo curto tinha um penteado feito a mão, como se batesse o cabelo. Algumas mechas avermelhadas dava um ar descolado a ela.

A garota tentou levantar e mal conseguiu. Orion disse para levarem na enfermaria.

— Não, não precisa. Não foi nada. Está doendo agora, mas vai passar. Só preciso chegar lá no portão de fora para esperar meu pai me buscar.

— Tudo bem, a gente te leva. Né gente? Ravi me ajuda a levantar ela. — Disse Orion.

Ravi estava reflexivo nessa hora e sem falar muito, só acenou a cabeça e pegou a garota sozinho nas costas.

Ela ficou envergonhada, porque não esperava subir nas costas de alguém.

Eles saem de dentro da escola e no caminho para o portão de fora, eles estavam em silêncio.

— Desculpa… — Disse a garota com a voz baixa.

— Imagina, não é um problema. — Disse Orion enquanto reparava no semblante sério de Ravi e no semblante indeciso e concentrado de Daniel.

— Vocês são do primeiro ano? — Ela pergunta.

Orion queria entender a situação e dessa vez ele não respondeu para deixar um dos dois responderem.

Foi um silêncio curto, mas longo na percepção deles. Então a própria garota quebrou o silêncio dizendo:

— Me desculpem, acho que atrapalhei vocês. Podem me deixar descer. Eu vou devagarzinho.

— É melhor você não se esforçar. Disse Daniel, que carregava a mochila dela também.

— Meninos?

Ao olharem para trás, viram que era Denise. Isso fez Daniel automaticamente soltar a mochila da garota no chão.

— De-denise? — Balbucia Daniel.

A garota nas costas de Ravi observou a situação atentamente, e concluiu que entendeu na hora a relação de Daniel com Denise.

— Dan, preciso falar com você.

Todos ficaram parados ali esperando que ela falasse, mas Ravi deu um sorriso, piscou para Orion e saiu andando dizendo:

— A gente te espera na saída, Daniel.

Orion perdido, olha para os lados e sem entender acelera o passo para acompanhar Ravi.

Daniel fica com suas mãos suando, sentido borboletas na barriga, porém logo se lembra que eles fizeram trabalhos juntos e agora se sentia um pouco mais tranquilo perto de Denise.

Quando eles se afastam dos dois. Denise solta um ar aliviado e diz que vai precisar do número do celular dele.

“Meu número? Isso é muito avançado… Será que…”

— … Pode ser que precisemos de reforço na escola. — Disse Denise quebrando a imaginação de Daniel.

— Ah… Sim…

Daniel para um pouco, pensa e pede desculpas porque não sabe o número dele de cor.

Denise sem acreditar no que vê, dá gargalhadas de maneira contida.

— Tudo bem. Me dê um toque.

Daniel pegou o celular e fez o que ela disse.

Após isso ela mandou uma mensagem com uma carinha piscando o olho.

— Salve meu número. E fique atento.

“Nunca ficarei tão atento na minha vida. É claro que vou ficar!”

— Dan?

— Ah sim. Pode deixar.

— Quem é a garota?

Daniel olha para a mochila que ele deixou no chão com sensação de estar traindo e pensava nos sentimentos confusos.

— Nã-Não sabemos. Mas parece ser do terceiro ano. Ela se machucou perto da gente e resolvemos ajudar a chegar lá na saída.

— Se ela for uma de nós. Fique de olho para despertá-la. Estou com mal pressentimento dessas invasões que têm acontecido. No final vocês não foram despertados então?

Enquanto isso a garota pergunta para Ravi e Orion: — Eles são namorados?

Orion dispara a rir, mas Ravi olha para ele sério e diz: — Eles estão caminhando para algo pelo menos.

Essa resposta fez Orion perceber o quão ele era covarde.

Enquanto isso no clube, uma troca de rajadas sonoras havia começado. Ninguém chegava próximo. Por algum motivo os dois invasores não se aproximavam e os membros do clube não saíam para atacar pessoalmente.

Natanael decide ir com alguns funcionários da escola, como o inspetor Jorge, Miguel e Aquiles para fazer reconhecimento.

Quando os quatro estão no vasto campo de colinas, os dois invasores finalmente aparecem.

Armani fica da janela vendo uma batalha começar em um nível que ele nunca viu. Habilidades que não imaginava ser possível. Aquilo tudo o impressionou. Principalmente o que os inimigos podiam fazer.

— Eles estão alternando o luzonar? — Disse Armani espantado.

Voltando para o portão da escola, Orion diz: — Acho que seu pai não vem. Estamos há um tempo aqui. Ele se esqueceu?

— Talvez… — Disse a garota desanimada.

— Bom, como faremos? Temos coisas a fazer, né Daniel? — Disse Ravi com um sorriso para ele, que ficava olhando para o celular como se fosse novo.

— Ah… Sim. Você tem como ligar para ele? Como você se chama? — Pergunta Daniel.

“Eita. Perguntei o nome de uma garota do nada… Por que estou tão desconcentrado?” — Pensa Daniel olhando para o celular novamente.

— Ah, que falta de educação a minha. Me chamo Ísis. Talvez eu possa ligar, mas ele pode estar em alguma reunião estúpida dele… Ah me desculpem amolar vocês com mais problemas.

Ravi ajuda Ísis a sair de suas costas e diz para tentar ligar para ele. Mas ela, demonstrando-se envergonhada, diz que está sem bateria. Por isso Daniel diz que empresta o celular para ligar. Sem esperar aquela prestatividade toda, ela se surpreende e insiste em não ligar. Mas Daniel entrega o celular na mão dela sem a olhar no rosto.

Então, Isis liga para seu pai. Explica que está no celular de um colega. Responde sim duas vezes, e um o quê no final. No fim ela diz “tá bem” e desliga o celular.

— Ele vai demorar… algumas horas. Obrigada, meninos. Vou andando devagar para casa.

— Mas ele não sabe de sua situação no pé? Você nem falou para ele. — Disse Ravi.

Ela botou a mão na cabeça de como esqueceu de falar sobre aquele detalhe, mas disse que não adiantaria, porque o pai dela entendia dessas coisas de dores no corpo e iria dizer que era frescura.

— Desculpe perguntar, mas onde você mora? — Perguntou Ravi.

— Não, não precisam me levar.

— Eu te levo, afinal sou o único que aguenta seu peso aqui. — Concluía Ravi.

Isis ficou vermelha de vergonha e raiva, mas respondeu de maneira branda e de cabeça baixa:

— Eu sou tão pesada assim?

Ravi ficou sem graça e tentou consertar dizendo que não era isso, mas que ele é maior e mais forte que Daniel e Orion.

— Orion, a gente se encontra em sua casa.

— Mas a gente tem que ir na praça Alberto Chances primeiro. — Disse Orion.

— Ah é! Me esqueci. Então a gente se encontra lá.

— Com licença… Eu posso ficar nessa praça? Meu pai vai passar por lá depois da reunião e eu posso comer algo na lanchonete que tem em frente.

Ambos concordaram e foram para lá.

Atrás dos postes e dos muros Orion poderia dizer que estavam sendo observados. Mas ele guardou para si.

Chegaram na praça e se sentaram perto de um busto de pedra representando o Alberto Chances. A praça tinha uma pedra grande no centro e dois leões alados de pedras, dois caminhos saíam da grande pedra, um para esquerda de encontro com o leão da esquerda e outro a direita de encontro com o leão da direita. Ambos leões ficavam de frente para a pedra grande. Os leões estavam em posição deitada no chão, mas com suas bocas e asas abertas.

Ravi colocou a garota no banco da praça e se ofereceu para comprar algo.

Mas ela disse que tentaria ir lá sozinha. Porém Ravi não deixou e foi lá comprar algo para ela.

— O que você gosta? Posso pegar uma coxinha com guaraná?

— Ravi não seja insensível. Elas comem coisas saudáveis. — Repreendia Orion.

— Ah… Não, tudo bem … tá bom. Pode ser isso. Eu não ligo. — Ria sem graça.

Enquanto isso Daniel encarava a estátua tentando encontrar alguma pista.

Ele retira o livro do bolso e folheia sem rumo. Ravi sai em busca da comida e Orion pergunta para Daniel o que ele acha.

— A gente precisa da Luna…

— Você não sabe ler?

— Não sei se eu sei. Faz sentido quando a Luna me explica. Mas por mim mesmo é difícil entender.

— Precisamos da pedra…

Isis ouviu isso e ficou mais atenta a conversa dos dois.

— É, talvez ajude. Acho que não tem muito o que fazermos aqui sem Luna.

Orion desconfia dos arbustos da praça e comenta:

— Cara, você não acha que poderíamos ser seguidos por um desses invasores, como eles chamam?

Daniel tem um estalo e fica preocupado.

— É verdade, Orion. É bem possível.

— … é, me desculpem ouvir a conversa de vocês, mas acho que posso ajudar. — Disse Isis com sorriso no rosto dizendo que era o mínimo que ela poderia fazer para retribuir.

Daniel, com sua vergonha de falar com desconhecidos, gagueja e pergunta como ela poderia ajudar.

— Bom, vocês estão com um livro sonar de alguém. Deve ter anotações. Mas é bem difícil de ler, porque eles, embora tenham informações gerais, de acordo com quem porta, ele decodifica uma página específica para alguém específico, ou seja o dono. Além de poder ajudar a encontrar as pedras que vocês mencionaram.

Ravi chegou nessa hora e estranhou a conversa e perguntou: — Pedras?

Orion pergunta se ela acredita nessa história de exilados e Ravi diz que a missão deles era a discrição.

Daniel disse que talvez ela poderia ajudar. Relutante, Ravi vê que não há muito o que fazer e disse que o Sr. Natanael sugeriu que fossem despertados o mais rápido possível.

— Vocês não foram despertados ainda? — Pergunta Isis.

Ravi pergunta se ela era do clube de música.

— Não sou, na verdade não sou de nenhum clube.

— Por que você não entra no nosso? — Pergunta Orion deixando ela admirada com a recepção.

— E você é despertada? — Pergunta Ravi.

Ísis ficou cabisbaixa pensando e disse que sim sem muita vontade na voz.

— Acendeu uma luz aqui no livro! — Gritou Daniel.

Todos vão ver, mas não conseguem entender o que ela significa. Ísis diz que pode ajudar a entender.

Eles vão até ela e mostra. Ísis admira aquela página como se fosse uma jóia rara.

— Hum. Essa luz aqui em forma rabiscada é uma seta, mostra onde está o norte. A outra luz é a pedra mais próxima. Em tese você anda para ver ela se mexendo, mas parece que elas estão se movimentando para cá… Que incomum.

Orion puxa Daniel e diz que Lucas e Martim estão atravessando a rua para chegarem na praça. Daniel olha o livro e vê que se mexem coincidindo com a localidade dos dois.

A vingança de arruaceiros nunca é plena

— Pessoal, temos um problema. As pedras estão com os dois valentões do segundo ano … — Disse Daniel, quando Orion interrompeu dizendo:

— … e eles estão querendo se vingar da gente há dias. Precisamos nos esconder, Daniel.

— Ô seus dois marmanjo! Venham aqui! — Gritou Ravi.

Ísis reconhecem eles e diz: — Ah, isso não é nada bom! Eles se contêm na escola, mas fora são verdadeiros marginais…

Orion vira com medo e pergunta: — Eles se contêm? Ravi…Ravi… Disfarça, disfarça! A gente vai morrer!

— Tarde demais galera, já chamei eles. — Disse Ravi coçando a cabeça com um sorriso no rosto.

— Ora, ora! O que temos aqui? — Disse Martim.

Lucas tira de sua cintura um pé de cabra comentando que terão a vingança saciada.

— Hei, eu estou aqui! — Disse Ravi.

— É verdade, Martim. O Ravi não é mirradinho como os dois moleques e aquela moça.

— Então vamos começar pelo mais forte! — Sugere Lucas.

— Calma aí, galera eu só queria as pedras bonitas que vocês acharam. — Disse Ravi com um sorriso.

— O quê? Como eles sabem? — Pergunta Martim.

Ambos sacaram seus pés de cabra, em pleno horário de almoço, e avançaram em direção a Ravi que segurou com as mãos os dois pés de cabras.

Todos ficam assustados. Os dois dão chutes na costela e no joelho de Ravi, fazendo-o cair no chão.

Martim acerta uma de suas coxas com o pé de cabra. Ravi gritou de tanta dor que ficou até vermelho.

— Mano, essa garota deve ser rica, vamos ver o que ela tem na carteira. — Disse Lucas rindo.

Orion, que já estava refletindo sobre sua covardia, estava pensando como ele poderia ser menos covarde. Os dois valentões jogam Ísis no chão, fazendo Daniel e Orion ficarem sem saber o que fazer.

Daniel fica irritado e quando ele pensa em dizer algo para eles, Orion se põe na frente de Ísis e diz para poupar a garota e descontar nele, pois ele havia começado tudo isso.

Ísis admira a coragem e se sente incomodada pensando no que ela poderia fazer também.

“Orion? No fim você não é tão covarde.” — Daniel admirava a ousadia dele.

— Olha lá, mano! As perninhas dele tremendo. — Dizia Lucas a Martim e davam gargalhadas.

Lucas levanta o pé de cabra e Orion pensa: “Não vou fugir! Não vou fechar os olhos!”

— Você é covarde! — Gritou Orion carregando todo o ódio que eles causaram em toda sua vida na escola em sua voz.

Lucas e Martim param diante do grito.

— Vocês não suportam um bolsita? Por que a minha vida vale o suor de vocês? É por que sou magro? Não, porque sou pobre. Vocês têm dinheiro e não estudam. Os pais de vocês têm grana e vocês roubam deles. O que vocês têm na cabeça? Nem a melhor das melhores escolas poderiam dar um cérebro para vocês. Vocês os jogaram fora porque confundiram com as fezes de vocês!

— Argh seu…! — Dizia Martim irritado com o pé de cabra em direção ao queixo de Orion.

— Hã?

Orion estava parado e o pé de cabra encostado em seu rosto como se nada tivesse acontecido.

Lucas veio com tudo do outro lado e o ferro bateu na cabeça de Orion, apesar do impacto o fazer se mexer por ser empurrado pelo pé de cabra, nada aconteceu com ele. Era como se fosse um pequeno empurrão.

Ravi, do chão viu a cena, e disse:

— Uuuuh. Seja lá o que for que está fazendo, continue. Aí Daniel era essa luz que eles falavam?

Daniel olhou no ombro direito de Orion e viu o símbolo que formava. Rapidamente procurou no livro e encontrou palavras que não entendia na página que falava daquele símbolo.

Orion, assustado, resolve dar um soco no rosto de Martim que acerta em cheio.

Assustados eles recuam e Lucas pergunta se está tudo bem com Martim.

— Acho que sim. Foi um soco de garota. Levei um susto.

Orion estranhou, pois aguentou um pé de cabra. Naturalmente pensou que ele pudesse ter força.

Tentaram novamente acertar Orion, mas ele não sentiu nada, nem balançou.

— Vocês são o quê? Aberrações!

— A gente sempre bateu nele e ele caía…o que é isso agora?

De repente, eles escutam 5 notas sendo tocadas uma após outra, mas se sustentando, formando um acorde estranho. Era como o som de uma nota diminuta com mais outras notas.

Daniel reparou que Ísis tinha uma daquelas caixas que Armani tinha também, porém levemente diferente. Do chão Ísis fez mais outro acorde que ficou ressoando o ar um tempo.

— Chamado subvelocern 70%! — Diz Ísis com os olhos fechados escrevendo no ar com seu dedo indicador colado ao dedo médio.

Os pés de cabra e outras coisas de metais em Lucas e Martim começaram a esquentar. Queimando suas mãos, eles jogam longe os pés de cabra. Seus bolsos esquentaram também, pois tinham moedas. Mal conseguiram tirar as moedas dos bolsos, então eles saíram correndo de forma engraçada chamando-os de aberrações e que aquilo não ficaria assim.

Orion ajuda Ísis a se levantar e Daniel levanta Ravi.

— Então você também é uma exilada. — Disse Orion.

— Por que você não está ajudando o clube? Ísis ignorou e coincidentemente viu seu pai passando de carro perto da praça. Ela gritou por ele e ele parou na hora. Não deu para ver quem era o pai dela, mas ela prontamente pegou suas coisas, agradeceu a ajuda a todos eles e foi andando normalmente até o carro.

— Sua perna? — Perguntou Ravi.

— Ah… é verdade… Já melhorou. Olha, nem percebi. — Respondeu Ísis com a mão na cabeça. Ela entrou no carro e os meninos se reagruparam pensando no que fazer a seguir.

— Aquilo foi sinistro. — Comenta Ravi.

— Sim! — Concorda Daniel.

— Chamamos muita atenção aqui. Tem pessoas olhando para cá. — Comentou Orion.

— O pior é que não pegamos as pedras. — Disse Daniel.

— Seria esta aqui? — Ravi levanta a mão mostrando uma pedra.

— Você conseguiu? — Pergunta Daniel surpreso.

— Bom, uma pelo menos eu peguei quando caí no chão. Temos que ver no livro onde está a próxima.

— Verdade, eu deixei no banco com as mochi…las…

— O que foi Daniel? — Perguntou Orion.

O livro do Sr. Natanael havia sumido.

Próximo capítulo

Professores matam aula? — Livro 1: capítulo 7

Créditos

Autor e ilustrador: Rodrigo Bino
Revisão de texto: Ana Maria Maia Dias

TANGERINOPÉDIA

Luzonares

Há algumas habilidades que são usadas naturalmente, com fala e escrita e com ajuda de algum dispositivos (que possuem diversas combinações).

Além disso, é comum pessoas consideradas sonares usarem o termo "Usuário de dhymil", "Usuário de velocern" e "Usuário de resispatia". Cada um faz um tipo de coisa e com o empenho certo e disciplina novas coisas podem ser descobertas dentro de cada uma dessas habilidades.

Ou seja, para cada uma dessas três você pode ativá-las de maneira natural, com fala, escrita ou com algum dispositivo.

Em breve revelarei mais sobre isso.

Agora preciso terminar de comer a coxinha e o guaraná. Até a próxima!

Por hoje é só.
Obrigado por ler até aqui!

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