Nossas Origens — Livro 1: Capítulo 4

Rodrigo Bino
Os exilados e o Clube Tangerina
19 min readAug 16, 2022
Professor Miguel (História), Professora Liz (Português) e Professor Aquiles (Matemática)

— Você vai dizer que é piada, né? — Disse Orion, enquanto Daniel refletia seriamente e pergunta:

— Então, o que seríamos?

— Allumirianos. Na verdade, mestiços.

— O quê? Isso seria tipo mutantes? — Pergunta Daniel.

— Pera aí, gente, não dá para acreditar. Como você pode ter certeza? Minha família é humana há séculos neste reino. — Diz Orion inconformado.

— Talvez já ouviram falar em um reino esquecido. Então, eu sou deste reino, mas o chamamos de Allumira.

Daniel começa a sentir que já ouviu esse nome em algum lugar. Armani então continua:

— Bom, vocês não são humanos comuns… Na verdade vocês são metade humanos comuns também. Podem ter vividos eras aqui no Reino de Minas. Ou no Reino de Águas Virtuosas, Reino Lorati, Reino Amazônia. Não importa, pois o fato é que não são humanos, pelo menos completamente. Eu vi o luzonar em seus ombros quando enfrentavam aqueles moleques. Este é o sinal mais evidente de que vocês não são comuns.

Orion riu e disse que ele estava andando muito com Ravi.

Mas Armani estava sério e Daniel seriamente focado.

— Armani, você disse eras? — Perguntou Daniel.

— Ah, sim. Não sabemos se viemos antes dos humanos comuns ou depois. Ou depois da Renovação. Talvez alguém possa saber. Eu não sei.

Há muitos anos atrás a humanidade já havia avançado em tecnologia, mas algo se perdeu na história e não há muitos relatos do que houve quando esse conhecimento desapareceu. Algumas coisas restaram, outras tiveram que serem criadas novamente. Os humanos começaram tudo novamente, renovaram seus conhecimentos e história. Este é o evento conhecido como Renovação.

— Pepepepepera aí! Se tudo isso é verdade. O que obviamente não é, mas… O nosso planeta explodiu, tipo Krypton, ou planeta Vegeta? E nós seríamos tipo, super sayajins? Ou reptilianos?

— Não, não tem nada de alienígena, pelo menos nunca me disseram algo sobre planetas.

— O que seria um luzonar? — Pergunta Daniel.

— Bom, não sei explicar bem, talvez devessem falar com o Sr. Natanael.

— O quê? Ele é alien também? — Diz Orion.

De repente escutaram um grito no quarto do lado, fazendo Orion dar um berro cômico.

— Pietro, é você? — Pergunta Orion.

— Quem? — Perguntou Armani.

— Ah, meu irmão mais novo… Deve estar jogando algum jogo.

— Tá… tá tudo bem, maninho! É que… é que… é só uma luz que … que apareceu no jogo aqui… eu não… — Respondeu Pietro gritando assustado.

— Tá, tá, tá… Depois você me conta. — Grita Orion para ele.

Armani então prosseguiu falando mais baixo:

— Bom, um luzonar é basicamente algo relacionado a um dom que você tem e ao brasão ativo em você. Esse dom chamamos de Ruach. E não somos aliens. Somos apenas descendentes de uma família exilada do Reino Allumira. Este reino está aqui na Terra, em algum lugar.

— Tá, eu sei que não sou bom em geografia, mas esse reino nem existe! — Protesta Orion.

— Bom. Digamos que é um reino que existiu, mas de uma certa forma ele ainda existe, só que de forma oculta. E é bem possível que, futuramente, vocês não se lembrem dessa conversa, enquanto não despertarem.

— Isso é familiar. — Dizia Daniel.

— Interessante. Talvez já te contaram sobre isso antes. Não me admira você ter entendido a comunicação allumiriana entre mim e o professor Miguel. — Disse Armani enquanto se levanta.

— Que comunicação é essa? Mas e a pedra que brilha? Tantas dúvidas. — Pergunta Orion. — É, e o que significa brasão ativo? — Acrescenta Daniel.

— Acho melhor irem ao clube de música amanhã e descobrirem isso juntos. Por hora, só peço que tenham cuidado com o brasão eterno que está com vocês.

Orion o retirou de uma gaveta e viu que ele brilhava novamente, por isso ele perguntou porque ele brilhava. — Ele está pronto para despertar alguém, no entanto, isto foi o motivo do nosso exílio no passado. Na verdade, há um brasão, o Brasão do Imperador, que não é o Brasão Eterno. Este brasão pode se tornar o do imperador se sua motivação por despertar for errada. É como se fosse um feitiço, ou uma lavagem cerebral, fazendo você se despertar de maneira errada. Ao invés de despertar como allumiriano, você despertaria como um humano comum apenas com delírios de allumiriano. Neste caso era melhor que não despertasse, porque há uma fome insaciável de dominar e se colocar acima dos outros. Ao longo do tempo você não passaria de um monstro que quer ser rei de si mesmo com suas regras egoístas. Pelo menos é o que me disseram.

Daniel estava assustado e olhando para baixo tentava entender a lógica, enquanto Orion, morrendo de medo e tremendo, entrega a pedra para Armani e diz: — Eu não quero esse tipo de coisa não. Tome, leve de volta para vocês.

Armani rejeita e diz: — Vocês não entenderam. Nós somos exilados porque já temos em nosso corpo o Brasão do Imperador. Foi passado de geração a geração pelos pais de seus pais. Todo allumiriano tem um brasão imperador nativamente. Por isso vocês têm luzonares. Além disso, essa pedra é muito rara. E nela há um outro tipo de brasão. O desenho é diferente do que vocês já têm.

Daniel e Orion ficam confusos. Se olham, coçam a cabeça e Daniel levanta dizendo:

— O que aconteceu no passado? E por que eu devo tomar cuidado com este brasão me despertar se eu já tenho um brasão em mim?

Armani olhou para os dois e disse que era melhor ele ir embora, mas disse para eles não usarem o brasão ainda, enquanto não forem no clube da música para ouvirem a história toda.

— Mas nem sabemos como despertar esta coisa. — Diz Orion.

— É ela que sabe a hora de te despertar. Não há como fugir. Cedo ou tarde isso vai acontecer. — Diz Armani pegando sua mochila para ir embora.

Armani continuou e disse: — Fiquem tranquilos. Há uma explicação científica complexa por trás, mas eu não sou a pessoa certa para explicar desta forma.

Na porta de casa, mais tarde, Daniel se despedia de Orion que insistia: — Cara, é muito para processar. Por favor, fique com este brasão. Precisamos entender melhor essa coisa toda.

— Hum. Tá bem. — Disse Daniel pegando o brasão.

“Onde será que é esse reino? Por que ninguém o encontrou? E por que é familiar para mim?” — Essa era a dúvida que Daniel guardava em seu coração.

Respostas

No dia seguinte, algumas pessoas estavam conversando naquele local misterioso, conversando como iriam administrar a notícia envolvendo Ricardo e Samanta.

Enquanto isso, Armani não ficou mais colado em Daniel e Orion. As coisas quase que voltaram ao normal. Luna socando alguém, Ravi com suas histórias e desafios, Kallíope com outras pessoas inteligentes conversando, Clara tramando conquistar o coração de Daniel. Só não era tão normal por causa do clube da música superlotado e pelo que Daniel e Orion descobriram naquele dia.

— O que vocês estão falando de pedra que brilha aí? — Era Ravi, que mais uma vez surgia do nada, pois acabou por ouvir a conversa de Daniel e Ravi.

— Ah…é… — Balbuciou Orion, mas Daniel já veio com a desculpa perfeita:

— É um livro que estamos lendo, onde tem uma pedra que brilha num determinado momento. — Disse Daniel rindo sem graça.

Ravi fica super animado e de repente ele para fixo olhando para frente.

— Ravi?

— Gente, isso é uma cena rara! A patricinha do gelo encontrando a nerdezinha! — Disse Ravi com um sorrisão no rosto vendo Denise se aproximando de Kallíope.

Ravi percebe que os dois desviaram os olhares e, ao concluir algo em sua mente, ele diz: — Certo, eu ajudo vocês! Orion conseguirá falar com a Oriona inteligente… — Daniel riu nesta hora.

— … e Daniel vai perder essa vergonha e falar direito com a Daniela.

— Quem? — Pergunta Orion.

— Ele quis dizer Denise. — Respondeu Daniel.

Denise, com sensação de ouvir alguém a chamando, ela olha na direção deles.

Daniel fica roxo de vergonha e comenta: — Eu falei em voz alta?

Ravi abraça os dois, cada um debaixo de seus enormes braços, e diz: — Além disso, vou ajudar vocês a entenderem esta pedra. Venham comigo aqui na biblioteca.

Eles não tinham como resistir, Ravi era forte e os arrastou para lá.

— Pera aí, o recreio acabou de começar. — Grita Orion tentando fugir.

Enquanto isso, Denise estava perguntando se Kallíope realmente não iria entrar no clube de música. Kallíope não responde de cara, mas fica séria como se estivesse tentando interpretar algo mais de Denise. Luna estranha as duas amigas se falando. Elas são amigas de Luna, mas não conversam entre si, pelo menos Kallíope teria motivos de sobra para não querer falar com Denise, motivos que só Luna sabia. Então Luna vai até Denise e diz. — Vocês precisam de ajuda?

— Você vai voltar, Luna? — Pergunta Denise feliz.

— Não, mas depois do que os meninos fizeram ontem…

— Shiiii! Aqui não, vamos para outro lado. — Cochicha Denise puxando Luna.

— O que foi, Denise?

— Não precisamos de mais boatos. Já corre por aí dizendo que você e Armani tinham algo e que terminou com ele por causa dele gostar… de mim. — Denise desvia o olhar.

Luna depois de um tempo em silêncio, dispara a rir deixando Denise envergonhada.

— Eu e Armani? Aquele metido sem expressão? Haha.

— Fale baixo, Luna. Enfim, a questão é que você tem razão.

— Que ele é um robô?

— Não, Luna… Você acha? Ah… não… Me escuta. Há muitos interessados este ano no clube da música e não sabemos o que fazer. Cadastramos todos ontem, mas não temos como gerir um clube tão grande.

— É só fazerem uma prova de capacitação para eliminar candidatos. Simples.

Denise fica pensativa enquanto Luna completa: — Vocês não tem nada a perder. Se fosse um clube implorando por participantes vocês deveriam aceitar qualquer um, mas agora, façam uma prova, já que muitos querem, vocês só terão a ganhar.

Luna é surpreendida com um abraço de Denise e agradece.

— Imagina. Não foi nada, nada. Já fiz o que prometi. Já ajudei vocês. Espero que dê certo. — Diz Luna acenando tchau com a mão para Denise.

Enquanto isso, Raíssa diz para Clara que ainda não conseguiu falar com Orion para fazê-lo descobrir os sentimentos de Daniel. Nisso surge uma garota do terceiro ano. Raramente elas conversavam com as pessoas do primeiro ano. Seu nome era Ísis, a filha do professor de Educação Física, Carlinhos.

— Com licença. Mas você conhecem aquele garoto grande do primeiro ano?

Elas olharam e viram Ravi, Orion e Daniel entrando juntos na biblioteca.

— Sim, o Ravi. Por quê?

— Obrigada, só preciso perguntar algo para ele.

Todas elas ficaram chocadas, pensando o que uma garota do terceiro queria com algum garoto do primeiro. Então elas começaram a criar suas teorias, babados, fofocas.

— Oi, dona Mônica! Preciso daqueles livros de pedras rapidão! — Disse Ravi.

— Oi, Ravi! — Dizia ela calmamente e mudando para a raiva em pessoa num estalar de dedos, gritou: — Eu não sou dona! — E voltando ao seu normal calmo completou: — …Podem entrar. Eles estão no lugar de sempre. E não gritem na biblioteca. — Ué? — Orion estranha a recomendação de Mônica.

Daniel aproveita o momento e pergunta se tem algo sobre reinos antigos extintos. Mônica estranha, mas diz que tem algo sobre este assunto sim e que levaria até eles assim que encontrasse.

Sentados na mesa, já há uns cinco minutos, Ravi vai passando de folha em folha, mostrando pedras diferentes para eles perguntando se era esta, ou esta, ou esta, ou esta.

— Aqui está um livro sobre os reinos antigos, ou como você disse, esquecidos. — Mônica colocava o livro sobre o livro de pedras que Ravi estava usando.

— Hey, o que é isso? — Perguntava Ravi.

— Ah… Eu que pedi. — Disse Daniel.

— Hum. Interessante. O que tem a ver com as pedras?

— Ah… é… é… — Daniel colocava a mão na nuca pensando na desculpa que daria. Pensava em como não expôr aqueles mistérios e sua própria curiosidade sobre o reino esquecido que só crescia.

“Aquele sonho que tive, será que tem a ver com isso?” — Era o que Daniel pensava no seu íntimo.

Orion interrompeu dizendo: — É que esta pedra irá ajudar achar o reino perdido, segundo as lendas que estamos lendo… hehe.

Daniel ficou pensativo tentando entender se o que Orion falou ajudava a disfarçar ou não.

Folheando o livro dos Reinos Esquecidos, uma folha velha cai no colo de Daniel.

Ambos olham e perguntam o que era aquilo.

Estava com alguns escritos estranhos, fórmulas e símbolos, mas uma parte estava escrito “Clube da Tangerina 1936”

Abriram a carta e viram que haviam desenhos estranhos de objetos nunca vistos. E a foto de uma cabana com algumas pessoas na frente dela. Mas estava muito velha e a imagem com a luz estourada.

— Só consigo ler… Clube Tangerina? Que língua é essa? Que ano é esse? — Pergunta Ravi.

— Tem razão, estamos no ano 646 d.r., mas ali só está 1936 d.C., o que será que significa? Deve ser um ano… será que é de antes da Renovação? — Reflete Daniel em voz alta.

— Ufa, já estava achando que era do futuro essa imagem… — Diz Orion.

— Pode ser também… Seria tão divertido! — Comenta Ravi empolgado.

Daniel aponta uma caixa que parecia uma gaita, que era semelhante a algo que Armani estava usando naquela segunda-feira.

— Armani? — Pergunta Ravi.

Orion olhou seriamente para Daniel pela mancada que ele tinha cometido em revelar um segredo.

— Vejam, não é que vocês têm razão? Tem um desenho de uma pedra aqui! Deve ser ela que estão procurando. — Disse Ravi pegando a carta da mão de Daniel e levantando para cima.

Ao ver aquilo, Mônica fica desesperada e chama Sr. Natanael que estava passando pelo lado de fora. Por um acaso Armani havia acabado de entrar para devolver um livro, chamado Documentação da Batalha do Vale de Metal.

Quando Ravi vê Armani ali, logo se levanta, e ao chegar próximo dele diz:

— Eu quero fazer parte do Clube Tangerina!

“O quê?” — Pensavam Daniel e Orion abismados com a firmeza da decisão de Ravi e como ele associou Armani estar envolvido em algo assim.

Orion dá um salto e fica atrás de uma estante de livros e Daniel pega um livro qualquer e esconde seu rosto atrás dele, fingindo que está lendo.

— Como você conhece este clube? — Pergunta Armani.

— Por favor! Eu não me identifiquei com nenhum. O de vocês tem muitos mistérios e eu gosto disso. Foram eles que me disseram. — Apontavam para Daniel e Orion que estavam tentando disfarçar.

— Eu nunca falei disso para eles. — Disse Armani.

Daniel se lembrou que Luna havia comentado algo de tangerina com ele.

— E eu não posso permitir vocês três entrar no clube assim…

— Mas é claro que podem… — Chegou Natanael, deixando Mônica mais aliviada com a situação, mas ficando tensa ao ouvir o final da frase de Natanael: — …podem entrar no Clube Tangerina sim.

— Mas, mestre Natanael… — Interrompia Armani.

— Tudo bem, Armani. Já estávamos de olho em você, Ravi. E queríamos que você encontrasse o brasão eterno, mas foi o garoto que está lendo um livro de cabeça para baixo e o outro que está atrás da estante que encontraram o Brasão Eterno. — Disse Natanael.

Daniel fica sem graça por perceber que seu livro estava ao contrário. Natanael então prosseguiu: — O brasão os escolheu. E você, Ravi, encontrou a toca do coelho e sem demora o seguiu. Venham ao clube da música hoje ao fim da aula. E preciso lembrá-los, que este clube é secreto, ninguém pode saber, tá bem? Hoje temos almoço no clube.

— Senhor Natanael, mas só pode entrar despertados… — Diz Mônica preocupada.

— São outros tempos minha cara e eu acredito nestes meninos. Né Armani?

— Ah… é… sim.

— Até o fim da aula então. O sinal vai bater. Mônica, dê chaves cúbicas para eles entrarem no clube mais tarde. E meninos, é melhor arrumarem esta bagunça hein. Haha. — Dizia Sr. Natanael saindo da biblioteca.

Ravi empolgado diz:

— Vocês viram isto! Nós vamos conhecer o Clube Tan… — Gritava Ravi, mas ao lembrar do segredo, continuou sua frase sussurrando: — …vamos conhecer o clube secreeeeeto! E vamos achar a pedra…. ah vamos conquistar a Oriona e Daniela também! Eu tô tão feliz! Haha.

Daniel olha para Orion com cara de “e agora” e Orion olhando para Ravi diz: — Abrimos a caixa de pandora. Criamos um monstro!

Daniel pensativo, sorri sem graça olhando para o balcão da bibliotecária onde estava o livro que Armani devolveu. “Documentação… Batalha do Vale do Metal? Onde já ouvi falar disso?”

O amor está próximo

A última aula era com a professora Liz, a carrasca, mas que agora por algum motivo sorria para Daniel, o que ele achava estranho.

O dia ficou mais estranho porque a professora Liz resolveu dar uma prova surpresa e todos ficaram bravos. Mas ela disse que seria em duplas. Então, todos ficaram mais aliviados, porém, ela disse que seriam sorteadas as duplas. O que deixou a turma irritada novamente.

— Querem trabalho de casa surpresa também? — Reclamava Liz.

Todos ficaram em silêncio. O estranho foi que professora Liz piscou o olho para Daniel e começou a ler os nomes e onde deveriam sentar.

— Denise e Daniel aqui; Sara e Carlos atrás deles…

Orion viu que Daniel estava tão vermelho que parecia que ele ia passar mal.

— Fica calmo, Dan, ela é só… sei lá… é só uma aluna como você! — Diz Orion.

— Isso não faz sentido… — Cochichava Daniel.

— Ah moleque! Agora sim! Arrebenta! — Era Ravi que cochichava para ele. O que o deixou ainda mais nervoso.

Eles sentaram juntos e Denise o recebeu com um sorriso, o que fazia Daniel pensar que ela era muito mais bonita de perto. Respirando pouco, tentando ter seus movimentos contidos, ele se arruma na mesa.

— Oi. — Diz ela.

— Ah… Oi. — Dizia Daniel sem olhar para ela.

Passado alguns minutos, Daniel estava um pouco mais a vontade, mas nada perto do ideal. Ainda estava bem nervoso. Denise lia os enunciados das perguntas:

Que belezas, Marília, floresceram,
De quem nem sequer temos a memória!
Só podem conservar um nome eterno
Os versos, ou a história.

Ao ouvir a palavra memória, Daniel se lembrava do Livro Os Reinos Esquecidos, lembrava dos exilados, da tangerina e até que tomou coragem e perguntou algo para Denise, interrompendo a leitura dela:

— Vo-Vo-Você… Você também é… — Daniel parou e pensou: “Não, que há de errado comigo. Como perguntar para ela se ela é uma…”

— Exilada?

Daniel em choque acena positivamente com a cabeça e pergunta como ela sabia que ele iria perguntar isso.

Quando Denise viu ele confirmar, ela ficou pensativa, mas tentou manter a cordialidade.

— Bom, não é sempre que você vê uma tangerina pendurada abaixo da comida de beija-flor. Eu liguei os pontos e depois imaginei quem seriam. Mas não imaginei que era você um deles até agora.

Denise viu que Daniel ainda não tinha entendido e completou.

— Me desculpe, eu sei interpretar essa linguagem, talvez você esteja começando ainda. Mas sim, eu sou exilada e não faz muito tempo que descobri isso. É muito confuso no começo, mas depois do brasão, tudo começa a fazer sentido. Você já sabe qual é o seu luzonar?

— Eu… Eu não faço ideia.

Denise coloca o lápis em seu queixo pensativa e depois pergunta.

— Dan, me desculpe, mas posso te fazer uma pergunta pessoal?

“Será que ela vai perguntar se tenho namorada?” — Pensava Daniel com suas mãos suadas de vergonha.

— Você se lembrou de algo mais? Ou melhor… Você já foi despertado completamente?

Daniel, frustrado com a pergunta, diz que não, mas que acordou mais cedo naquele dia. Ambos riram.

“Mas Daniel ficou pensativo na pergunta sobre o que ela queria dizer com se lembrar e despertar.”

Clara, enciumada e olhando para Raíssa, faz sinal para ela, que por uma sorte danada havia sentado com Orion.

— Então, Orion, você gosta de alguém?

Orion se assusta com a pergunta e diz que não é mais o mesmo de antes, que ela poderia ficar tranquila. Ele dizia estar focado e que não daria em cima dela. — Sinta-se grata. — Disse Orion.

— Hã? Quem você acha que é? Espera! Focado? Em quem, posso saber?

— Eu não sei se ela sabe que eu existo. Não é da nossa sala. Talvez você não a conheça.

— Ah, que pena, eu poderia te ajudar a falar com ela, quem sabe…

— É sério?

— Sim, claro!

— Caramba, que dia de sorte a minha!

— Só tenho uma condição. De quem Daniel gosta realmente?

Orion olhou para Daniel e Denise, e vendo-os rindo achou que agora estava tudo certo com eles e respondeu:

— Eu acho que se você gosta dele, deveria falar com ele. Não garanto nada.

— Não, eu não… imagina garoto! É… é… para uma amiga minha. Ela gosta dele e eu queria saber se ele gosta de alguém. Só isso. — Sei, a história do “tenho um amigo”. — Diz Orion rindo.

— Ora seu Seca de uma figa…

— Shiiii! — Berra professora Liz para eles.

Raíssa então cochicha: — Minha oferta está de pé. Posso te ajudar a se aproximar de quem você gosta se me disser de quem Daniel gosta.

Orion fica pensativo.

— … e aí eu deduzi que Armani sabia que tínhamos encontrado o brasão pela concha que ele colocou na mesa. — Fala Daniel.

— Isso é incrível, Dan. Eu não tinha ideia de como fazer isso antes de despertar e você já consegue fazer sem ter despertado.

— Bom, mais ou menos. Ainda não entendo a tangerina completamente e quando você falou de beija-flor, fiquei mais confuso sobre essa linguagem. Talvez eu seja apenas um humano, ou mais humano do que allumiriano.

— Sonar. — Dizia Denise.

— Hã?

— Eu prefiro chamar assim do que esse nome estranho. Nem todos chamam da mesma coisa, mas nos referir como sonares soa menos técnico. Eu gosto.

Daniel viu ela dizendo esta frase com um sorriso e foi como se a visse brilhando mais com flores em volta e no fundo dela.

— Faltam 15 minutos, turma! — Diz professora Liz apavorando todos.

Denise cochicha e diz: — Mais uma pergunta. Não existe um clube de Shakespeare, não é? “Droga! Ela é esperta!” — Pensava Daniel enquanto ela dizia rindo que sabia. Mas ele havia sentido ter avançado mil passos na relação com a Denise comparado aos outros anos. Ele agora sabe como é a voz dela cochichando.

Enquanto eles terminam de escrever, Denise olha para Daniel de canto de olho com um ar de quem estivesse mais aliviado agora.

Porém, um garoto os observava de forma tensa a ponto de quebrar seu lápis.

— Guilherme, seu lápis? — Diz a garota que estava ao lado dele.

— Ah, é… tava velho. — Disse sem graça, mas sem tirar os olhos de Daniel e Denise.

Mais tarde, Ravi andava com uma cara de dor dizendo que foi mal na prova surpresa. Daniel estava nas nuvens e Orion pensativo.

— Ô, tá claro que nenhum de nós três estamos no nosso estado normal. Talvez o caso do Dan, nosso garanhão, seja uma exceção. Haha.

— Cala a boca, Ravi! — Diz Daniel dando um soco em seu ombro.

— Daniel, tem algo que eu preciso te contar … — Disse Orion.

— Vamos, a galera está indo pro clube da música! — Diz Ravi animado!

Luna observava os três enquanto estava indo embora com seu irmão e Kallíope. Logo ela repara, também, na garota do terceiro ano, que também estava observando os três.

— Luna? — Diz Kallíope.

— Hã, sim?

— Por que você não volta para o clube da música? Lembro que você gostava e me chamou tanto para fazer parte. Não é por minha causa, é?

— Não, imagina Kal! Eu só não tenho o talento suficiente para entrar naquele clube. Só isso.

— Eu já estou em um clube, e tem sido muito bom. Acho importante. Por que você não entra no meu?

— Ah, eu? Eu acho que não compreenderia nem as saudações de vocês. Sem ofensa, claro.

— Haha! Não ofendeu! Haha!

— Kal, chega, já tá estranha sua risada.

— Sério? Me desculpe. Mas, seria bom passar mais tempo com você para tentar ser mais… sei lá…

— Normal?

— So… Eu ia dizer sociável, mas talvez essa palavra defina bem.

— Ai, desculpa, Kal. Não queria te ofender.

— Tá tudo bem, Luna. Não me ofende.

— Mas tem meu irmão aí. Porque não chama ele? — Pergunta Luna ainda observando as pessoas do clube de música.

— Eu já chamei o Pedro, mas ele não quis.

Kallíope se vira para Pedro e comenta sussurrando: — Tem alguma coisa preocupando ela naquele clube de música.

— É, eu percebi. Mas não sei o que é. Eu entendo muita coisa, menos minha irmã. Mas ela se preocupa com eles, isso pelo menos percebi.

Surgiram algumas garotas de outras salas e interromperam o caminhar de Luna, Kallíope e Pedro. — Luna, Luna, com licença… queremos te perguntar algo… Você e Armani terminaram?

— O quê? QUEM DISSE UMA COISA DESSAS PARA VOCÊS? — Disse Luna cuspindo fogo.

— Desculpa, calma… Então era com Daniel que estava terminando?

— Ora, suas fofoqueiras!

E elas saíram correndo. Luna se vira para Kallíope e Pedro como se estivesse limpando as mãos e indignada diz:

— Eu não posso chutar qualquer garoto que comete erros que já acham que eu gosto dele?

— Mas você gosta de um deles? Digo, você é bonita então… — Comenta Kallíope.

Luna se transforma em fofa e responde:

— Ah, você me acha bonita? Eu não me arrumo tanto para vir a escola, mas fico muito feliz quando reparam mesmo assim… Mas… Gostar de um deles? Eu nunca gostei de alguém… Luna se lembrou de Denise falando sobre possibilidades dela e acabou comentando lentamente. — Hum…pos-si-bi-li-da-des…?

— O quê? — Dizia Kalliope.

Próximo capítulo

No clube secreto da Tangerina — Livro 1: capítulo 5

Créditos

Autor e ilustrador: Rodrigo Bino

Revisão de texto: Damáris Maia e Ana Maia Dias

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