Vênus em virgem, Lua em Sagitário
Não sabia o que era perfeição, mas a procurava onde pudesse existir.
Nos sorrisos, nos lábios.
No bom dia, na boa noite.
Nas paradas de ônibus, nas salas de espera.
Em qualquer situação, onde quer que fosse.
Umas vezes sorria, cumprimentava, fazendo de conta que ia e vinha por acaso.
Ia e vinha… ao acaso.
Noutras fingia um olhar distraído para o lado, na tentativa de alcançá-la num destes desconfortáveis e fortúitos momentos, onde se disfarça e desvia o olhar, logo em seguida ao flagra.
Ensaiava este movimento inúmeras vezes.
Sabia da precisão exigida pela simulação.
Por isso mesmo, para não correr o risco de deixá-la escapar, virava o rosto já com um sorriso engatilhado… BAM! Que saia pela culatra antes mesmo que o giro completasse 90º!
Não a enxergava mais à sua frente.
Estatisticamente, a cada frustração, entendia-se cada vez mais próximo…
Queria encontrá-la, reconhecê-la, ainda que não soubesse com o que parecia.
Na sorte, apenas ver e saber. Simplesmente identificá-la. Chegar e encontrar.
Como se, num saguão de aeroporto, portando uma plaqueta em letras garrafais — EI, VOCÊ! — ela estivesse à sua espera.
Não desistia.
E obstinadamente, era assim que planejava o seu encontro.
Estrategicamente casual.
Perfeito.
(Alieksandr Míchkin — 2002.09.27)