Oficina de Leitura: da bóia à terra firme

Francisco Escorsim
Os Náufragos
Published in
3 min readOct 21, 2020

Falava sobre passar mais tempo da minha vida tentando descobrir quem sou e para que sirvo do que aprendendo qualquer outra coisa. De como, nesta odisséia, resgatei a mim mesmo ao resgatar outros náufragos como eu.

Isso fez de mim um professor. Há mais de 10 anos trabalho com educação da imaginação e consequente reforma do imaginário. Desta experiência, posso dizer que o processo de resgate se dá em duas etapas.

Na primeira, o propósito de autoconhecimento é o critério do que ler, assistir, escutar, estudar, formando espelhos da própria alma. Quando isso é de fato (bem) feito, vem a segunda etapa, com o despertar da sede de sentido por “aperfeiçoamento pessoal: fazendo nascer do seu próprio trabalho o desejo e amor por coisas mais belas, boas e verdadeiras.”

Só agora, com a Escola de Navegantes, estou conseguindo ir além nesta segunda etapa para náufragos, criando um programa de Oficina de Leitura cujos livros dispensam apresentação ou justificativa: Ilíada (Homero), Odisseia (Homero), Eneida (Virgilio), A Divina Comédia (Dante), Paraíso Perdido (Milton), Os Lusíadas (Camões), Dom Quixote (Cervantes), A Montanha Mágica (Thomas Mann), Os Invernos da Ilha (Rodrigo Duarte Garcia), e O Senhor dos Anéis (Tolkien).

Caso queira entender melhor o critério de seleção das obras e o programa proposto, deixo os links para os vídeos de “Comece Aqui” que gravei para a Escola de Navegantes e que são abertos:

  1. Escola de Navegantes: não é o que você está pensando;
  2. Quero começar, e agora?;
  3. Os Fundamentos da Formação do Imaginário; e
  4. Do Naufrágio ao Resgate do Imaginário (a ser publicado dia 23/10).

Eu sei, eu sei o que você está pensando! “Ah, não é para mim essas coisas”.

Eu entendo. Desde que comecei este processo comigo mesmo e ajudando outros, sempre me deparei com esta realidade do nosso distanciamento dos “clássicos”. Como se estivéssemos no térreo e eles no décimo andar de um prédio sem escadas ou elevadores.

Daí porque é preciso construir essas escadas, elevadores, pontes, como queiram chamar. O projeto d’Os Náufragos é isso, aliás. E se na Escola de Navegantes nos instalaremos no décimo andar, isso não será feito descuidando dessa realidade dramática da nossa má formação.

Daí porque as Oficinas de Leitura serão acompanhadas de clubes do cinema, clubes do seriado, estudos de caso, dentre outros conteúdos, que muito ajudarão a criar essas pontes com esses clássicos e vice-versa.

Por exemplo, junto com a Oficina de Leitura da Ilíada, que começará agora em novembro de 2020, teremos Clubes do Cinema de Touro Indomável, obra-prima de Martin Scorsese, e de O Último Samurai, blockbuster hollywoodiano com Tom Cruise. Também teremos Clube do Seriado com American Gods, sem contar as referências aos filmes (como aquele filme medonho com o Brad Pitt de Aquiles) e seriados baseados na Ilíada (como Tróia, na Netflix).

O que essas obras têm a ver com a Ilíada? Muito mais do que parece, mas só fazendo a oficina de leitura para descobrir e entender. O máximo que posso fazer num texto breve como este é usar de analogias (a linguagem da imaginação) como esta do prédio ou, se preferir, uma “náutica”, com nossa escola se dando em terra firme para onde levaremos nossos náufragos com as bóias que são as oficinas de leitura.

Estas, por sua vez, gosto de dizer que são como as rodinhas de bicicleta para quem quer aprender a pedalar. Durante um tempo você precisará delas para adquirir equilíbrio, confiança e poder se divertir pedalando, não apenas tentando, e caindo, o tempo todo.

Acredite, essas coisas são para você, sim!

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