Negócios e Open Source: inovação e sucesso

Diandra Martini
O.S. Systems
Published in
7 min readDec 9, 2021

Business Intelligence, OKRs, prospecção, sales engagement… esses termos soam familiar pra você? Ótimo! E será que todas essas metodologias e técnicas também podem ser aplicadas em um negócio que desenvolve soluções de código aberto? Se você quer saber a resposta, fica por aqui que eu vou te mostrar que essa relação tem tudo para ser sucesso.

Software livre & Open Source: uma revolução no mundo business

Bom, pra quem não me conhece, eu atuo na área de negócios em uma empresa especializada em soluções para Linux embarcado, a O.S. Systems, que desde seu início adota o código aberto como princípio e modelo de desenvolvimento. Por isso, com frequência alguém me pergunta como funciona um setor comercial dentro de uma empresa e qual o sentido em investir comercialmente em soluções Open Source?

A grande verdade é que relações comerciais envolvem muito mais do que a simples venda de um produto, e é por isso que investir comercialmente em Open Source é uma ótima estratégia.

O surgimento do software livre e, paralelamente, do movimento Open Source, causaram um impacto gigantesco nos modelos de desenvolvimento, e também no mundo dos negócios. A ideia de criar produtos baseados em código aberto, trouxe uma enorme gama de possibilidades para o universo da tecnologia e para o mercado de trabalho, o que começou a chamar a atenção até mesmo de grandes empresas que, por anos, geravam valor a partir da propriedade do software.

Essa revolução permitiu que muitos novos negócios surgissem desse meio, direcionando seus esforços para projetos Open Source e em alguns casos, até mesmo no software livre. Mas ok, ok, vamos ao que viemos: Como se dá essa relação, de fato, entre comercialização e produtos que têm como princípio a livre reprodução?

Antes de aprofundar aqui, vamos lembrar de um detalhe importante: Definitivamente, Código Aberto e Software Livre não são a mesma coisa.

O que é Software livre e o que é Código Aberto?

À direita o Tux, um pinguim gordinho que representa o Linux, maior projeto de software livre do mundo vs um quase circulo incompleto com sua base aberta que representa a iniciativa Open Source

Antes de se falar em negócios é necessário ter de forma bastante clara essa diferenciação, pois, apesar de similares, não se trata da mesma coisa. A definição de Software Livre está diretamente ligada à liberdade e não preço. Então de maneira bem resumida, para um Software ser considerado livre ele deve obedecer a quatro liberdades essenciais:

  • Liberdade de execução do mesmo para qualquer propósito
  • Liberdade de estudar o programa e adaptá-lo às suas necessidades
  • Liberdade de redistribuir cópias do mesmo, de modo a ajudar demais usuários
  • Liberdade de distribuir cópias das versões modificadas

A partir desses requisitos fica claro que o acesso ao código fonte é essencial, mas mais do que isso, que sendo ele um software livre, ele não tem um proprietário. Aqui, já podemos começar a diferenciá-lo do Código Aberto que, por sua vez, permite que haja um proprietário, desde que o código fonte seja compartilhado e sua distribuição seja livre.

Você pode estar se perguntando:

“Mas manter o código aberto e autorizar a distribuição não é a mesma coisa que ser livre?”

Na verdade não. Isso porque uma das principais diferenças é que a iniciativa Open Source permite que o proprietário do código defina como será feita a distribuição do mesmo, o que não acontece no Software Livre. Por isso, é comum que você veja grandes companhias famosas por investir em software proprietário, investindo atualmente em código aberto, mas mantendo distância do software livre. Isso porque, no segundo caso, eles não têm a opção de decidir como será feita a distribuição do código, ou mesmo o quanto deste produto será aberto (isso aqui é um pouco mais polêmico, então eu vou deixar para outro artigo).

E como ficam os negócios?

Eu sei, agora você está se perguntando:

“Mas então porque tentar vender um programa cujo código deve ser distribuído livremente?”

Ora, por que estamos falando de negócios não é?

Negócios são relacionamentos e tudo, desde que o mundo é mundo, gira em torno de relacionamentos. Mas ok, vamos tentar deixar isso mais explícito. Pense no seguinte: no universo do código aberto não se trata apenas de produto, mas de oportunidades.

Vamos analisar como está organizado esse ecossistema:

O ecossistema Open Source

A figura mostra no topo uma jovem de óculos e blusa amarela trabalhando no notebook representando a mantenedora de um projeto. A sua direita um triangulo amarelo chama atenção para as licenças de uso. Abaixo da jovem mulher o desenho de uma mão segurando um saco de dinheiro com um cifrão desenhado nele representa o mercado e à sua esquerda, a figura de um grupo com 8 bonequinhos iguais representa a comunidade.

Bem, pela figura deu pra perceber que um projeto ou produto de código aberto envolve muito mais do que uma metodologia de desenvolvimento, ou uma filosofia. Desde a decisão de adotar o código aberto como um modelo e um princípio de desenvolvimento até a comercialização do produto final, muitos outros atores são envolvidos no processo, além do autor do projeto.

Vamos ver quais são eles?

Mantenedora

Já falamos que um projeto de código aberto pode ter um proprietário ou mantenedora, que será responsável por manter, tomar as decisões e gerenciar aquele projeto. Não precisa ser necessariamente uma empresa, mas um grupo de pessoas interessadas ou mesmo um indivíduo. Aqui está uma das principais razões de se viabilizar as relações comerciais neste meio.

Licenças

Essa é a parte legal do desenvolvimento. O que quer dizer que para que um projeto cumpra todos os requisitos de uma iniciativa Open Source e também possa ser comercializado, é preciso estar atento sob qual licença está esse projeto. Isso porque:

  • Algumas licenças podem influenciar diretamente as características do projeto,
  • As licenças também influenciam diretamente a distribuição do mesmo,
  • Seja pelas características ou pela distribuição, a licença pode inviabilizar a comercialização de um projeto.

Se você gosta do tema, pode consultar algumas das licenças mais utilizadas aqui. Mas caso esteja desenvolvendo um projeto open source e queira saber mais a respeito, sugiro que busque suporte ou com um time legal especializado, ou com alguma empresa que já tenha algum tempo de experiência no assunto.

Comunidade

Comunidade são todos aqueles profissionais que estão dedicando algum tempo ao projeto em questão, seja reportando bugs, revisando código, propondo alterações, ou até mesmo divulgando o projeto. A comunidade é de suma importância para um projeto Open Source, pois além das contribuições, é ela que vai permitir que os responsáveis pelo projeto vejam que rumo eles precisam tomar.

Mas é preciso lembrar de um detalhe. Por mais que muitas relações comerciais acabem surgindo a partir da comunidade, eles não são os seus clientes!

Nós aqui da O.S. Systems, temos vários clientes que chegaram até nós a partir da nossa atuação em comunidades como a do Yocto Project, por exemplo, Kernel Linux, U-Boot, entre outras... Mas isso não quer dizer que você deve transformar o perfil de pessoas desenvolvedoras da comunidade no seu perfil de cliente ideal. O interesse não é o mesmo. Então, muito cuidado antes de começar a prospectar essa galera aqui!

Mercado

Aqui o termo pode parecer um pouco genérico e algumas pessoas vão até me “hatear” por usar essa denominação, mas o fato é que existe um “mercado” Open Source e ele é bastante amplo.

Não se trata apenas de um mercado interessado em produtos que são de código aberto, mas de um mercado de profissionais, de projetos e investimentos que geram muitas oportunidades. Por isso que lá no início falamos que relações comerciais envolvem muito mais do que compra e venda de produto. Se trata de networking, ideias e oportunidades.

Imagine que você trabalha em uma empresa que desenvolve um projeto baseado em uma linguagem de código aberto e precisa contratar um novo colaborador. As chances de encontrar um profissional com experiência nessa linguagem aumentam consideravelmente. Ou mais, imagine que você tem uma empresa que utiliza uma ferramenta que é open source, mas notou que precisa fazer algumas adequações para atender melhor às suas necessidades? Sendo esta uma ferramenta de código aberto, você mesmo pode dedicar algum tempo fazendo essas alterações ou, caso não queira perder tempo com desenvolvimento, contratar a própria desenvolvedora do projeto para fazer as modificações que você precisa. Agilizaria bastante, não?

Quer saber mais sobre desenvolvimento de carreira no mercado Open Source? Da uma olhada nesse artigo aqui.

Tá bem, mas e as vendas?

Como podemos ver, o ecossistema de Código Aberto envolve uma série de fatores que irão influenciar direta ou indiretamente a forma como as relações comerciais irão se dar. O movimento Open Source retoma um modelo descentralizado de desenvolvimento que é baseado em transparência, cooperação e revisão. E isso, por si só, gera muitas oportunidades, sejam elas venda de serviços ou ofertas de emprego.

Uma fileira de desenhos na seguinte ordem respectivamente: à direita a figura de um monitor mostra um terminal representando o serviço de customização de software. Logo ao seu lado esquerdo, uma mão segura uma engrenagem representando o serviço de suporte. Ao lado esquerdo da engrenagem, um telefone cinza com 3 pessoas ao fundo representa o serviço de atendimento e por fim, também ao lado esquerdo a representação de um terminal Linux, um quadrado cinza com pronto para receber um comando.

As oportunidades comerciais aqui, não são restritas ao desenvolvimento de projetos de código aberto. Uma empresa pode contribuir em determinados projetos e comercializar aplicações que irão somar a ele, gerando mais usuários e aprimorando sua usabilidade. Ou seja, ela oferece o software de código aberto, mas cobra por extensões que podem vir a ser adicionadas a ele, se assim for do interesse do usuário.

Além disso, empresas que desenvolvem ativamente projetos de código aberto, como é o nosso caso, podem também oferecer um serviço de customização das ferramentas. Ou seja, é uma assistencia especializada para aqueles que desejam incluir características um pouco mais personalizadas, mas que não tem o tempo ou as pessoas necessárias para fazer isso. Assim, a empresa pode comercializar ou o serviço ou uma versão do software customizado.

Fora isso, é preciso lembrar que existe um propósito no Open Source. E este propósito ou a razão de ser Open Source, atrai muitas pessoas e até mesmo empresas que buscam parceiro que também compartilham desses valores. Que acreditam que um mundo mais Open, acelera a inovação e contribui para a diversidade de tecnologias.

Muitas relações comerciais podem iniciar, simplesmente, pela identificação com esses princípios, partindo de uma consultoria, um suporte e evoluindo para uma parceira de desenvolvimento. É como falamos anteriormente: Negócios são relacionamentos e tudo gira em torno de relacionamentos.

Um ecossistema tão inovador e com tantas oportunidades de relacionamento, tem como não ser sucesso?

E aí, o que você acha?

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Se você gosta do tema negócios ou se interessa por tecnologias Open Source, te convido a dar uma olhada em alguns dos nossos projetos de código aberto e conhecer um pouco mais do nosso trabalho.

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Diandra Martini
O.S. Systems

Head of Business Ops. at O.S. Systems | Business Development | Sales Strategist | CRO | SEO