Blocolândia, o bloco de carnaval da Cracolândia

São Paulo, Brasil por Julia Dolce

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A Cracolândia, na zona central de São Paulo (SP), é tida como um dos lugares mais tristes e perigosos da capital. No dia 9 de fevereiro, no entanto, as pessoas que passaram pelo fluxo não tiveram essa impressão. Confete, serpentina e glitter enchiam de cores o mesmo chão onde, minutos antes, havia pedras de crack e cachimbos.

Foi a quarta edição do Blocolândia, o bloco de carnaval da Cracolândia, uma das atividades mais esperadas pelos usuários de drogas.

A usuária Elisângela Eleotéria da Silva foi um dos maiores destaques do bloco. Vestida com um grande enfeite vermelho na cabeça, ela borrifava perfume em todos os foliões.

“Esse é o segundo ano que venho. Eu acho maravilhoso, é a minha família, não é demais? As pessoas param para nós porque somos os melhores”, contou Elisângela.

Os versos da marchinha principal do bloco ressaltam: “Não sou escória / Não sou zumbi / Cidade inglória / Ouve minha história / Não vem tirar meu povo daqui”.

Orgulhosa, a foliã Felipa Drumossi, conta que essa é sua terceira vez no bloco.

“Quando tem esse bloco a gente se sente acolhido. No ano passado e retrasado vim como dependente química, e dessa vez como ex-dependente”, contou, sorridente.

O Blocolândia tem como perspectiva a “Redução de Danos”, um entendimento de que não deve haver uma obrigatória extinção do uso de drogas, mas resoluções práticas para cada usuário.

Segundo Tamara Collier, assistente social de saúde que trabalha na região há 10 anos, o bloco pode ser considerado uma forma importante de redução de danos.

“Eles poderem reviver dentro da cultura deles a perspectiva do carnaval, para eles terem uma outra possibilidade de vivência da cidade que não seja o morar na rua e o uso de drogas”, afirmou.

De acordo Raphael Escobar, da organização Craco Resiste, o objetivo principal do evento é mostrar que na região não existe apenas o uso problemático do crack. “Aqui tem muita vida. A galera não é só zumbi que fica na rua, eles gostam de sambar e sabem tocar muito bem”.

Este ensaio faz parte da edição de 2018 do Otros Carnavales, um projeto de cobertura colaborativa de carnavais na América Latina e no mundo, promovido pela Rede de Fotografia Coletiva. Se você tiver alguma dúvida, escreva para otroscarnavales@gmail.com

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