Outgo | Como é trabalhar em uma Startup

Monnaliza Medeiros
Outgo
Published in
7 min readOct 29, 2018

Para quem vê de fora, ter uma startup é brincar de empreender. Afinal, é só fazer um programinha simples — que, inclusive, “o meu sobrinho faz mais barato” — e divulgar para os amigos. Não é mesmo? Não!

Tocar um negócio de caráter inovador não é fácil. Não existem receitas, fórmulas, muito menos garantias. Definitivamente não é para quem está em busca de estabilidade financeira — e emocional — a curto e médio prazo; ou para quem tem dificuldades em se adaptar. Se ter uma empresa já é difícil, com diversas responsabilidades (contábeis, tributárias, trabalhistas)… agora imagine desenvolver um negócio com todas essas obrigações e ainda ter o desafio de ser diferente do resto do mundo.

No mercado tradicional há muito espaço para diversas lojas de roupas, alimentação, móveis e etc. coexistirem, fazendo exatamente a mesma coisa, do mesmo jeito. Mas o mundo da inovação e tecnologia não funciona assim.

Para quem não está familiarizado com o meio, aqui vai uma definição simples do que é uma startup:

“Startup é uma empresa jovem com um modelo de negócios repetível e escalável, em um cenário de incertezas e soluções a serem desenvolvidas. Embora não se limite apenas a negócios digitais, uma startup necessita de inovação para não ser considerada uma empresa de modelo tradicional.” Referência: StartSe.

Complementando: é um negócio que consegue atender muitos clientes sem elevar os custos proporcionalmente. Por exemplo: com uma solução de custo X, eu posso atender 100 clientes. Se eu aumentar para 1000 clientes, meu custo será 2X e não 10X.

Minha história nesse mundo começou bem cedo com a jovem Monnaliza Medeiros de 15 anos, aluna do técnico em administração no IFRN Natal Central. Nesse período de ensino médio (2013–2017), minhas primeiras grandes oportunidades começaram a surgir: participei de capacitações, palestras, congressos, cursos pelo Brasil e o meu primeiro estágio. Como estagiaria da incubadora ITNC, pude expandir meus conhecimentos sobre empreendedorismo e startups, ter acesso a conteúdos e oportunidades, me conectar com empreendedores e me inserir no ecossistema local — O Jerimum Valley.

Entre 2016–2017, trabalhei em alguns projetos próprios, fundei minhas primeiras startups. Montei equipe, fiz prototipagem, modelagem de negócios, validação, fui pré-incubada na ITNC, abri CNPJ, tudo isso... Porém, minhas iniciativas não estavam dando certo e eu fui tentar entender o por quê. Nesse momento, percebi que não bastava apenas ler livros sobre Business e me basear nas experiências de terceiros para conseguir tocar um negócio. Eu precisava estar vivendo o mundo corporativo para adquirir essa maturidade, e pelo menos ter trabalhado para um empresário experiente, já que até então minha única experiência profissional era como estagiária de uma iniciativa mantida por uma Instituição Federal, não pelo mercado.

Eu precisava ter um chefe-mentor para aprender com ele e assim economizar nas falhas. A entender como contornar situações difíceis, saber reagir ao mercado, esse feeling que só se adquire na prática — mal sabia eu que o que estava desejando iria se tornar realidade, da maneira mais inesperada e rápida possível.

A partir daí que eu decidi procurar um emprego. Como minha intenção era aprender mais sobre negócios inovadores e o mercado da tecnologia, não fazia sentido procurar emprego em empresas tradicionais. Tinha que ser em uma startup já madura. Uma semana depois, uma grande amiga falou que estava para abrir vaga na empresa que ela trabalha, a Outgo, e eu decidi tentar a entrevista.

O que é a Outgo?

A Outgo é um dos maiores Marketplaces (Shopping Center Virtual) nascidos no Rio Grande do Norte, tendo intermediado mais de 20 milhões de reais em vendas, em apenas 4 anos de atividade. A ideia surgiu da provocativa de um professor da UFRN para os alunos pensarem em “Como podemos empreender na Copa do Mundo de 2014?”.

Inicialmente, a Outgo tinha um aplicativo para divulgar os eventos que estavam acontecendo na cidade, tanto para os moradores locais quanto para os turistas. Porém, os fundadores perceberam que o modelo de negócios somente baseado em publicidade seria muito difícil de se tornar lucrativo. Foi aí que a empresa fez a primeira grande mudança no seu modelo de negócios.

Ao invés de ter um APP próprio de divulgação, a Outgo começou a vender aplicativos personalizados para donos de casas de festas, otimizando os processos de listas, promoters e venda de ingressos desses estabelecimentos. Foi nesse formato que a empresa atendeu mais de 60 clientes, em mais de 14 estados do Brasil, e estava em plena expansão no meio de 2017.

Trabalhando para uma Startup

No dia 30 de julho de 2017, fui contratada pela Outgo como estagiária do setor comercial para ajudar nessa expansão. Hoje, dia 20 de outubro de 2018, pouco mais de um ano depois, sou CLT como analista de marketing digital. Para quem não entende da área, parece que foi um salto pequeno, afinal, do comercial para o marketing é um pulo. Certo? Errado! Existe uma infinidade de tarefas e estratégias separando esses setores.

No setor comercial, fui treinada para trabalhar com Outbound Marketing, uma metodologia de prospecção, qualificação e fechamento de novos clientes de maneira mais ativa. Nesse modelo, eu passava 90% do tempo ligando para leads do Brasil inteiro e os qualificando para que viessem a fechar contrato com a Outgo. Quando não estava ligando, estava estudando formas de melhorar em cada fase do processo comercial e de otimizar meu discurso para que conseguisse passar pelos obstáculos dos gatekeepers. Assim foi o meu trabalho nos dois primeiros meses de Outgo.

Como nada na vida é fácil e o mercado é muito dinâmico, em meados de agosto do ano passado recebemos uma notícia da Apple que poderia ter acabado com a empresa.

“Foi com espanto que recebemos a notícia que a Apple começou a impedir o envio e atualização de aplicativos white-label de desenvolvedores pelo mundo todo, inclusive os nossos. De um dia para o outro, ficamos sem ter como fechar novos clientes e sem poder continuar a melhorar gradativamente os aplicativos dos clientes atuais.” (saiba mais aqui).

Ou seja, nós tínhamos um produto — aplicativos de gestão de eventos para donos de casas de festa — e, da noite pro dia, ficamos impedidos de continuar vendendo esse produto.

Com essa mudança, nossa empresa foi impactada diretamente. Por sorte, e bastante preparação da diretoria, conseguimos contornar a situação rapidamente, sem que pudéssemos sofrer fortes consequências. Mudamos nosso produto e a forma como atuamos, como narrado no texto “Uma Nova Outgo” citado acima.

Houveram giros dentro dos setores para recolocar o pessoal dentro das novas estratégias e, em uma dessas mudanças, fui parar no setor de TI da empresa. “Como assim TI? Você não foi do comercial para o Marketing?” Então, como falei, trabalhar em uma empresa de TI, e startups em geral, requer flexibilidade e adaptação. O meu setor foi o único que deixou de existir com a mudança no negócio, então a única que estava com a posição ameaçada era eu.

O que acontece nas empresas tradicionais, naturalmente, é a demissão dos funcionários nessas situações. Contudo, eu estava trabalhando em uma startup, onde geralmente a diretoria é formada por empreendedores de mente aberta e flexíveis. Eu estava cursando o segundo período de TI na UFRN e ali surgiu uma brecha para poder me desenvolver nessa área. Exigiu bastante cooperação da equipe em compartilhar comigo conhecimentos de 4 semestres de faculdade, em apenas 1 semana. Além de muito estudo da minha parte para conseguir entender tudo sem me perder. Nessa época, era responsável por realizar testes das funcionalidades novas da Outgo no servidor. Os desenvolvedores programavam as mudanças do nosso sistema e eu testava se estavam dando certo antes deles colocarem no ar, aberto ao público.

Em apenas 4 meses de estágio, meu cérebro simplesmente explodiu. De uma maneira positiva. Era muita informação nova chegando, de dois setores totalmente diferentes. Nesse período, consegui vivenciar muito do que tinha visto apenas em palestras e do que veria apenas nos próximos anos de faculdade. Após termos conseguido desafogar as demandas do produto, chegou a hora de voltar com as atividades de vendas e prospecção!

E o que a Outgo faz hoje?

Mesmo com as mudanças, não perdemos a essência do que entregamos em serviços. Agora temos o site www.outgo.com.br para venda online de ingressos e começamos a trabalhar com produtores de todos os tamanhos e tipos de eventos diferentes. Nessa fase, mais do que nunca, precisamos trabalhar a comunicação da Outgo.

Pela gama de clientes ser maior, para algumas pessoas pode passar a falsa impressão de que é mais fácil prospectá-los. Pelo contrário. O fato de não podermos conhecer com precisão quem é essa persona — por ser variante de acordo com o porte, gênero do evento e etc. — exige muito mais esforços e recursos na aquisição de novos clientes.

Agora temos que adotar estratégias que nos façam chegar em produtores “flutuantes”, que muitas vezes são informais, não possuem ponto físico ou empresa-produtora. Nesse ponto, além de ter uma parte das estratégias Outbound, passamos a adotar mais da Inbound na Outgo. Começamos a produzir conteúdo próprio, a interagir nas mídias sociais, produzir campanhas no Adwords, a fazer constantes no Analytics, fechar parcerias com blogueiras, promover sorteios, etc. Estratégias que nos aproximam tanto do público dos eventos quanto dos produtores. E essa está sendo minha missão enquanto responsável do setor de Marketing.

Depois de tantas idas e vindas na empresa, alguém com menos conhecimento técnico e abertura para essas mudanças, teria ficado para trás. Por isso é importante ter uma veia empreendedora e entusiasmo por desafios, para não deixar morrer uma grande oportunidade de crescimento no primeiro problema encontrado. Também é preciso estudar continuamente sobre as tendências do segmento e áreas complementares a sua, pois um bom repertório faz total diferença nesses períodos de crise!

Eu aprendi na prática que não existem fórmulas ou receitas secretas para impedir que você perca seu emprego, seja em uma empresa tradicional ou em uma startup. Assim como não há nada que garanta que você conseguirá entrar na empresa dos sonhos. O mesmo para empresas, nada garante que seguindo X ou Y ela irá conseguir se manter no mercado. Um ponto que o empreendedor e funcionário de startup têm em comum é que ambos precisam em demasia de estudo, resiliência, constância, foco, paciência e visão. São N variáveis envolvidas e, por mais que ter o status de “startupeiro” seja legal, é preciso saber que definitivamente não é uma jornada fácil e exige muito mais de você. É um preço alto, e que nem todo mundo está disposto a pagar. Mas que vale muito a pena quando você olha para trás e vê o quanto cresceu e o quanto o que você construiu impactou positivamente o mercado e a sociedade.

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Monnaliza Medeiros
Outgo
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Especialista em Gestão de Portfólio de Startups, comunidades e ecossistema. 4x Eleita uma das pessoas que mais contribuíram para o ecossistema brasileiro.