Cidade Velha, Belém (Foto: mangaruts.xpg.uol.com.br)

Luana

Leandro Godinho
outras cousas

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Luana sorriu, era madrugada e conversávamos na cama do meu apartamento, e confessou que seu nome não era Luana. Nunca havia sido. Então riu, tão luana quanto jamais havia sido para todo o resto das gentes, menos para mim. Serelepe, buscou a identidade dentro de uma bolsa e me mostrou, revelando seu nome registrado oficialmente: Rosicleide Afonso Ribeiro.

“Como você é bobo”, ela caçoava.

Antes de conhecê-la tão de perto, eu lia os classificados à procura de garotas de programa diariamente. Alguns dos chamados me seduziam e aí eu anotava o número do telefone e ligava, marcando o encontro. Outras acabei conhecendo através de um bar que funcionava a noite toda na Praça da República, a céu aberto. A cerveja era gelada e barata, as moças circulavam por ali e arriscavam a sorte dependendo do cliente que chegava; eu parecia estrangeiro o suficiente para elas se insinuarem.

Assim eu ocupava grande parte do meu tempo livre quando ainda jovem mas adulto oficialmente, pois morando sozinho pela primeira vez e longe dos pais e pagando minhas contas através do meu contracheque que apresentava mensalmente quatro polpudos dígitos: com putas.

E assim conheci Luana, em Belém, longe da namorada que logo ia desistir de mim, longe do Rio de Janeiro onde havia me criado e ela vendendo em anúncios de jornal um par de horas junto a seu sexo de mulher tão menina, um sexo que decerto a clientela tratava mal como deviam tratar mal a seus olhos escuros e a seu sorriso de índia cabocla.

Depois de ter guardado a identidade de volta, Rosicleide me deu seu primeiro beijo como a si própria, e não vestindo a mulher que eu pagava por sexo e acabei me apaixonando em 3 semanas. Naquela noite demorei a despir seu corpo e ouvi mais do que falei. Ela pela primeira vez puxou meu braço direito em torno de si e assim dormiu, presa a ele.

O namoro durou um par de meses, um pouco mais. Ela estava terminando o supletivo e saía da aula para meu apartamento, onde passava a noite. Gostava de tomar pilequinhos comigo dentro do meu quarto com ar-condicionado vendo a novela, onde me contava do seu dia e pedia carinho na hora de ir pra cama. Certa vez fez questão de me levar a um randevú famoso local, onde havia dançarinas tirando a roupa e tudo. Teve ciúmes porque eu olhava as moças, as bundas das moças, e bebia feliz. Voltamos pra casa e ela me comeu enfurecida, pôs-se de quatro e pediu a minha versão mais dura possível, foi a quenga que Luana nunca havia sido.

O melhor de acordar com ela na cama era seu corpo quase nu, vestindo apenas a calcinha, a carne morena iluminada pelo dia que sempre começa cedo ali perto do Equador. Penetrar e gozar naquela mulher era tão delicioso quanto ir até a janela e fumar o primeiro cigarro do dia de costas pra rua, velando seu sono. Fodíamos quase em silêncio, era um ritual, um diálogo, íntimo o suficiente pra ser nosso e apenas nosso.

Um dia ela parou de aparecer, parou de atender o telefone, parou de mandar mensagens. Cansou de mim, decerto. Ou cansou de esperar que eu ficasse mais sério, mais adulto, mais viril. Quando voltou a falar comigo, estava em outra. Veio em casa pegar de volta um par de camisolas e outro de calcinhas, tinha começado num emprego de vendedora, estava esperançosa. Conversamos e sorrimos, mas os dois já sabíamos que era uma espécie de adeus.

Quando fechou a porta e foi embora, continuava linda. Só nunca mais seria tão minha.

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