Pra você sentir saudades (daquele grande amor que nunca vivemos)

Leandro Godinho
outras cousas
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3 min readJul 31, 2016

Foi bem ali pelo final, quase no final, onde amor mesmo só havia na forma de tesão porque o tesão sempre houve, mesmo depois do final quando já ninguém se interessava por amor, mas a gente gostava de foder e fodia bem sempre que interessava. Talvez o nosso erro foi confundir o tesão que havia com o amor que as pessoas e nós mesmos esperávamos que houvesse, e depois não perceber que ao contrário de felicidade, só havia toxinas e corpos estranhos onde poderia ter sido diálogo — claro que é fácil dizer isso aqui e agora, sozinho. Um dia acordei antes de você que dormia vestindo somente uma calcinha com a bunda para cima e descoberta, então peguei a minha Canon e fiz a foto em silêncio, depois guardei comigo secretamente, um último despojo da nossa guerra.

Essa foto ia se tornando mais bonita e dolorosa a cada dia que passava depois que nos separamos e saímos os dois daquele apartamento que era grande demais para um de nós morar nele só. Também era inviável começar de novo num lugar velho, subitamente estranho a partir da ausência de um de nós. A cama vazia. A sala vazia. O sofá sobrando. Uma caixa com pertences que não meus. As fotos sem referência. Vendemos o apartamento e cada um alugou outro em bairros diferentes — após a separação, fodemos igual durante dois meses, bêbados e carentes em duas ocasiões, mas em outras cinco estávamos sóbrios e nada sentimentais e em todas foi diferente porque não era mais a nossa casa, e não éramos mais um do outro ao mesmo tempo em que sempre havíamos sido. Aquela foto era a representação de um corpo que eu nunca havia visto em você mesmo sendo seu. Só fui enxergar o quanto eu gostava da sua bunda depois que você se foi, numa foto, tocando uma frustradíssima punheta.

Bem ali, quase no final, tivemos também uma das mais sinceras conversas, uma daquelas que casais que se amam a contento devem vivenciar logo no início de um relacionamento e daí fazer da sinceridade e do diálogo não um ideal, mas um hábito. Nela você disse que não suportava mais a ideia de viver ao lado de um homem que te comia mas não gozava. Porque claro que eu gozava, mas era apenas mecânico, o pênis ejaculava mas o homem não se satisfazia e procurava outras mulheres onde pudesse gozar. Eu sei que você quer comer a Bia e a Elis, Leandro, você disse. Era verdade. Você deve se masturbar pensando nelas, gozar dizendo o nome delas em voz baixa e tudo, como você fazia comigo antes da gente casar. Era verdade. Foi quando eu finalmente disse que era difícil pra mim amar alguém que não queria estar comigo, porque era verdade também e triste pra caralho, qualquer um percebe. Mas a gente tá junto, sabe, perguntei, e tá junto porque a gente deve se gostar e quer ficar junto, porra, não esquece disso, que a gente se gosta e se quer. Era verdade? Não sei. Mas depois dessa conversa a gente fodeu de novo.

Depois que tudo terminou mas não a gente, acabamos sentados numa grande mesa em um aniversário de uma amigo em comum e conseguimos conversar, eu te contei que tinha sido promovido, dividimos o mesmo sanduíche, dividimos a cerveja e pouco antes de percebermos que dali iríamos foder novamente, você me olhou e perguntou onde foi que erramos tanto a ponto de esquecer o amor que um dia havia entre nós.

Eu não soube responder. Talvez a gente apenas não saiba amar. Um dia a gente aprende.

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