Boogarins — Ondas psicodélicas de Goiânia

Não consigo fazer a conexão entre a voz que entra em meus ouvidos e esses rapazes, interferências, muitos agudos, naves espaciais, imagens sonoras, que maluquice, lucifernandis, tô aprendendo uma parada, nunca mais volta, viu?

Lucca Pollini
Tá Fora do Tempo…
4 min readJan 31, 2018

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Já ouviu BOOGARINS? Não? Então ouve, ouve. BOOGARINS. É o nome. BOOGARINS. Guardou? Boog. BOOGARINS. Como que escreve? BOOGARINS.

Não consigo fazer a conexão entre a voz que entra em meus ouvidos e esses rapazes, interferências, muitos agudos, naves espaciais, imagens sonoras, que maluquice, lucifernandis, tô aprendendo uma parada, nunca mais volta, viu?

Lá em Goiânia quando o BOOGARINS começou, alguém deve ter falado que o som deles era difícil de compreender, que nada fazia sentido, que não daria certo de tão maluco que parece — suponho. Aquele lenga lenga que músicos costumam ouvir quando se arriscam.

A real é que o som dos caras é mesmo difícil de compreender e talvez nada faça muito sentido mesmo. Mas precisa? Música precisa fazer sentido?

Uma coisa é certa, BOOGARINS funciona e faz sentido pra muita gente.

Formada em 2012, a banda de Dinho Almeida (vocal/guitarra), Benke Ferraz (Guitarra), Raphael Vaz Costa (baixo e sintetizadores) e Ynaiã Benthroldo (bateria) já passou por inúmeros festivais no Brasil e em outros países, como o Coachella e o Lollapalooza. É uma banda de nicho que está se expandindo com qualidade musical, amadurecendo álbum a álbum.

O mesmo BOOGARINS que funcionou muito bem na Casa Natura Musical, primeiro show do ano, mais um palco por onde a banda apresentou seu repertório de rock psicodélico, como nas músicas “Foi Mal, “Doce” e “Benzin”.

A Casa Natura Musical estava cheia, público jovem, energia positiva, conversei com o Jackson sobre a expectativa dele para o show:

“Vim de Diadema pra assistir o show dos BOOGARINS, tamo aqui perto da Faria Lima, vou falar que os moleques subiram o nível demais mano, meu deus, velho, o disco que eles lançaram ano passado, o ‘Lá Vem A Morte”, subiu eles de categoria.

Eu já colei no show deles no SESC Belenzinho, foi ano passado, aí a gente chapo demais, foi a melhor coisa da vida que a gente já fez, mó conexão, tá ligado? A gente nem tava louco, a gente tava só curtindo o show. Você vai ver, você vai assistir o show e você vai brisar no baterista, tá ligado? Nossa, o baterista, na hora que ele dá uma porrada assim ó — PLAUW — é muito louco”.

Começou o show com uma jam, pra entrar na onda certa. Baixo ficou solo por um tempão, fazendo a base, mesma nota repetitiva, entra na mente, depois chegou o batera a milhão — PLAUW — dando uma cacetada naquelas caixas, depois todos entrando juntos na sua cabeça. O BOOGARINS chegou.

“Elogio à Instituição do Cinismo”, olha esse guitarra, a brisa do vocal cantando com a parte de trás da garganta. Se fosse um clipe seria em slow. Batera é destaque como sempre, bateristas merecem respeito, não existem muitos. Faltou um telão gigante nos fundos, para ampliar a consciência e as ideias de quem tá assistindo, esse tipo de música pede imagens, luzes.

alt tab — Imagino se estivéssemos em um lugar mais sussa, em um festival, campão aberto, sol do entardecer, já tava todo mundo fumado, doidasso de ácido, o vocal parou de fazer a guitarra, deixou no chão, focou no mic e começou a cantar, tá feliz tá bem, também tá dando risada, quer cantar, fazer outros ficarem loucos com o seu som — alt tab

Em “Lá Vem a Morte pt. 1” e “Lá Vem a Morte pt. 2”, os sintetizadores de Raphael Vaz Costa chamam a atenção, são muitos efeitos sonoros que criam uma atmosfera nova, envolvem, fazem uma ponte para os outros integrantes, para a voz aguda de Dinho e para a bateria de Ynaiã.

Os riffs de guitarra do Dinho são dançantes, ele toca dançando, baita sorriso no rosto, dando risada, ele toca curtindo o que está fazendo, flui, balança a guitarra de um lado pro outro, se diverte, depois chega a banda,Ynaiã, Benke e Raphael, entram no tempo certinho da fritação. Eles gostam desse jogo, cada um na sua onda individual, e em sequência uma entrada coletiva na próxima parte da música, como um time executando a jogadinha ensaiada e marcando um golaço de cabeça.

Que deus perdoes essas pessoas ruins” — estampado na camiseta de Dinho Almeida.

Amanhã é feriado em São Paulo.

BOOGARINS expande.

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SET LIST — @ Boogarins @ Casa Natura Musical — São Paulo/SP (18/01/2018)

  1. Intro Jam
  2. Tempo
  3. Elogio à Instituição do Cinismo
  4. Foi Mal
  5. Benzin
  6. San Lorenzo
  7. Cuerdo
  8. Corredor Polonês
  9. Lá Vem a Morte pt2.
  10. Lá Vem a Morte pt1
  11. Onda Negra
  12. 6000 dias (Ou Mantra dos 20 anos)
  13. Doce
  14. Auchma

*publicado originalmente em Imprensa do Rock.

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