Avenoar — Ensaio é assim

Lucca Pollini
Tá Fora do Tempo…
3 min readOct 24, 2017
Avenoar — Gravação de Clipe

“Faz

Você vai entender

Vamo puxa bem pra frentão esse começo

Ee o ee o ee o e ooo

O melhor baterista é aquele que não opera como os outros integrantes. Ninguém precisa dizer nada. Entra no tempo sem precisar que peçam. Faz um som enquanto a banda conversa. “Decidem”. Segue o som. Arregaça sozinho. Quem é esse cara?

Baixista usa um modelo SG. Que raiva! Parece uma guitarra! Rouba os louros do guitarrista, discretamente. Será que ele queria tocar guitarra em vez de baixo? Quem não conhece deve confundir os instrumentos. Cadê o baixo? Tem duas guitarras? É isso que ele quer? O guitarra ou o baixo? Que confusão!

Que vocal é essa? Que vocal é esse? Fazem uma dupla na voz. Funciona.

Pularam de uma maneira bem foda, cantando juntos, empolgados, enquanto o baixista fazia um back vocal ruim. Hoje em dia ninguém faz back vocal de qualidade, todo mundo sempre deixa em último plano, ninguém quer falar sobre isso, como se não fizesse diferença. Tá tudo bem. Ele encaixou no segundo compasso.

A real é que é bem mais importante entrar na vibe, mesmo tocando errado, fazer um som com energia própria. Sincronizar com a prática. Quem vai ousar dizer que tá certo ou errado? Eu? Você? Eles se empolgaram com a música, é isso que vale, puta loucura coletiva, de gente que não tá se importando com mais nada naquele momento. Onze e quarenta da noite, domingo. Era melhor estar em casa. Qualquer um ia preferir ver o Fantástico. Assistir algo no Netflix antes da semana começar. Que nada! Estão presentes aqui no estúdio de ensaio, presentes e cansados, um para o outro. Querem cantar e tocar juntos. Dão um jeito de encontrar tempo.

Você encara um ensaio de domingo à noite, das 23h às 01h?

É uma Doença.

Tocaram a Doença em inglês. Do Matchbox Twenty. O vocalista queria tocar e cantar. E tocaram. Opa. Tão tocando meio mal. Ninguém sabia como tocar a música inteira, mas a banda não parou, não pode parar. Confiaram e seguiram o vocalista, que conduziu e foi marcando as partes, levando a bola para a intermediária, passou para o lateral direito, cruzamento na pequena área. Se foi gol ou não, não importa. Ensaio é assim. Cruzamentos na pequena área que ninguém cabeceia. Não tem torcida para vibrar. Tem só o time repetindo as jogadas ensaiadas. Solitários. E isso é animal, é um tesão. Como eu gosto desses filhos da puta que tocam o bagulho sem saber. São os melhores. Metem o louco. Sentem a música e seguem o fluxo.

Pedi pra eles:

“Tocaí uma música que vocês gostem pra caramba, uma que todo mundo saiba, pra eu ver a pegada. Toca essa porra!"- às vezes eu me sinto um cara bem inconveniente falando assim com pessoas que acabei de conhecer.

Saiu Alanis Morissette.

Nunca imaginaria. Fui pego de surpresa.

Você já ouviu alguém tocar Alanis ao vivo?

Eu ouvi a vocalista do Avenoar mostrando pra todo mundo como é que faz. Assumindo que é uma vocalista foda. Colocou a banda no bolso.

Baterista no próprio tempo.

Vi o guitarrista dando porrada na guitarra de raiva. Mexendo no ampli no meio da música. Quer um som melhor. Quer fazer o som dele. Encontrar o melhor timbre possível.

Give me shelther.

Me dá um consolo, porra.

Tô aqui escrevendo um texto que esse pessoal nem vai ler. O cara tá arregaçando na voz. Tocando violão como gente grande. Do lado contrário. Canhoto. Parece banda de verdade.

Ensaio. Ensaio. Ensaio. Cadê o show?

Quando vai ter show?

Quero ouvir essa galera no Spotify, no YouTube, voltando do trem…

Músicas próprias, em português brasileiro…

Não quero ensaio.

Não parem no meio da música.

“Faz

Você vai entender

Vamo puxa bem pra frentão esse começo

Ee o ee o ee o e ooo”

Gostou desse texto? Fez algum sentido pra você?

Deixa eu saber… Me conta o que achou nos comentários.

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Lucca Pollini
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Frequências Invisíveis tá na área, tá no ar, yeah yeah!