Johnny Hooker — A polimusicalidade de um artista contemporâneo

Não é apenas rock, guitarras, distorção, tem violão, samba, poesia, frevo, trompetes, tem calmaria e caos, performance artística, ativismo, protesto.

Lucca Pollini
Tá Fora do Tempo…
3 min readJan 21, 2018

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Créditos: Felipe Giubilei

Entrei por um corredor meio subterrâneo. Silêncio. Era cedo. Todas os atendentes quietos. Calmaria. Que curioso. Um show pré-carnaval e essa calmaria. Em São Paulo a gente tá acostumado com multidão, caos, desordem, que é até estranho chegar em um local e as coisas estarem tranquilas, na paz. A Casa Natura Musical é uma das casas de shows mais bonitas da cidade, a iluminação é o diferencial, luz laranja em contraste com o paredão verde de plantas verticais. Quem chega no local já se sente bem recebido, acolhido. Tem abajour e sofá. Aromas. Nada como um bom jogo de iluminação para transformar um ambiente e parecer que estamos na sala de casa.

O público presente estava feliz, estavam em casa. JOHNNY HOOKER puxa essa felicidade, por mais que suas músicas tenham temáticas mais tristes, quem veio aqui veio pra ser feliz. Pra esse desbunde geral pré carnaval.

Firme e forte feito touro, JOHNNY HOOKER estava com o pé quebrado e levou o show inteiro sentado em seu trono cor de rosa, sem perder a classe em momento algum. O que não o impediu de interagir e fazer o público cantar junto seus hits como “Flutua” e “Alma Sebosa“.

Ao lado de uma equipe de músicos que se destacam por si só, como a baixista Joana Cid e o guitarrista Felipe Rodrigues, HOOKER comanda o espetáculo principalmente através de seu timbre e potência vocal. Muitas de suas músicas lembram o Cazuza, dá pra sentir a influência na modulação da voz em músicas como “Amor Marginal“.

Créditos; Felipe Giubilei
Créditos; Felipe Giubilei

A variação de estilos também é destaque, em um momento estamos ouvindo “Chega de Lágrimas“, bem mais rock, quase um skazinho, bateria frenética, e na sequência somos impactados por “Escandalizar“, frevo carnavalesco que dá vontade de sair dançando e tirar férias, ir pra Recife. Essa mistura bem brasileira também é refletida em seus dois álbuns de estúdio, o primeiro bem mais rock & roll, “Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!” e o mais recente, com composições mais pops e carnavalescas, “Coração”.

Não é fácil ter um repertório com essas características.

HOOKER não para por aí, não faz apenas uma apresentação, faz um espetáculo completo com influências atípicas. Toca com o pé quebrado. Não se limita a um estilo musical, não é apenas rock, guitarras, distorção, tem violão, tem samba, poesia, frevo, trompetes, tem calmaria e caos, performance artística, ativismo, protesto. HOOKER ressalta a importância de amar a si mesmo. Fala abertamente sobre relacionamentos abusivos e inspira. É o representante e voz de muita gente neste país. É bonito ver isso em um artista. É contraste.

E ainda faz graça, tem humor, diz que faria aquele clichê de sair do palco na última música pra depois voltar, pra pedirem o tradicional Bis, mas como não consegue caminhar prefere ser sincero e dizer que é a última música. Foi mesmo. É isso. Sinceridade no palco, na alma.

Texto publicado originalmente em Imprensa do Rock

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