#137 — Menstruação é assunto de todo mundo com Mariana Betioli
Vamos começar a falando básico pra introduzir o assunto: a maioria do público desse podcast são mulheres cis e nós sabemos que a nossa luta diária começa pelo nosso corpo. Já que somos marteladas diariamente com a falta de informações e pesquisas sobre ele e com muitas vezes vemos o descaso e diminuição da nossa existência simplesmente por não funcionarmos da mesma forma que um homem cis funciona.
Ainda existe muito tabu quando o assunto é o útero, a fertilidade e a menstruação. Por isso, convidamos a Mariana Betioli, obstetriz especialista em saúde íntima e CEO da Inciclo pra conversar conosco sobre esse tabu e outros relacionados ao assunto.
Uma das principais questões pra gente é que sabemos que os estudos da medicina sobre o corpo feminino são recentes na humanidade. O patriarcado nos privou, inclusive, de sabermos mais sobre o nosso próprio corpo. Juntamente com a religião e o capitalismo, o corpo fminino foi sendo instrumentalizado, capitalizado, imoralizado (acho acabei de inventar essa palavra) e, com isso, perdemos a noção do que é ou o que não é normal durante um ciclo.
Diagnósticos de endometriose, adenomiose, ovário policístico e outras oses acabam ficando difíceis, pois muitos médicos só acham que “é assim mesmo” e “menstruar dói”, mas não deveria ser assim.
Por outro lado, vemos em vários movimentos feministas e/ou femininos uma sacralização da menstruação, como algo totalmente sagrado e inerente ao corpo da mulher e que, por ser sagrado (aí dentro de uma concepção bem cristã e fatalista), deveríamos aceitar todas as dores que fardos que ter esse corpo traz.
São tantas desinformações, tantos sentimentos, tanta culpa por carregar esse útero, que ficamos muitas vezes perdidas. Precisamos entender nosso corpo pra poder cuidar dele bem e, por isso, conversar sobre isso com todos, todas e todes é essencial.
“Se homens cis menstruassem/engravidassem, esse problema já estaria resolvido.”
Ouça o episódio aqui
Um grande problema que as pessoas que menstruam sofrem é exatamente com o ritmo capitalista de trabalho de 40h semanais com pouco tempo de respiro e espaço pra cuidar do nosso corpo. E o que acontece, na prática, é um aumento da desigualdade de gênero no mercado de trabalho, já que já existe um preconceito com a menstruação e isso afeta não só o nosso rendimento comparativamente, quanto a expectativa dos empregadores com relação à nossa capacidade de trabalhar.
O que a gente vê no mercado é um incentivo pra que, pricipalmente, mulheres cis se igualem aos homens cis, então vemos exemplos de recomendações de tomar hormônios para não menstruar ou incentivo pra que as mulheres congelem seus óvulos e adiem a maternidade (olha a contradição!).
Não seria o caso de invertemos a lógica toda e todo mundo desacelerar? Alguns projetos como o de licença menstrual aprovado na Espanha, talvez sejam o caminho. Mas precisamos ir mais longe! Reduzir a jornada de trabalho e aumentar nosso convívio social em comunidade é essencial.
“Em 2016, 1 milhão e 600 mil mulheres não tinham banheiro em casa; 15 milhões não recebiam água tratada e 26,9 milhões vivam em lugares que não tem coleta de esgoto.” — Intercept
“O Projeto Novo Ciclo aponta que 32% das entrevistadas já passaram por situação de falta de dinheiro para comprar absorvente. A impossibilidade de compra do item básico de higiene íntima já fez com que 20% faltassem à escola e 11% não comparecessem ao trabalho.” Acesse o projeto aqui.
Falando ainda de mercado, tem uma coisa básica que nem todo mundo sabe, mas é que absorventes são tributados como cosméticos e não como itens de saúde, então o preço que pagamos por eles é muito mais caro do que deveria ser. E, com isso, o que acontece é que muitas pessoas que menstruam não conseguem comprar absorventes e acabam se virando ali com pedaços de pano, papel, jornal, miolo de pão, o que tiver pra conseguir passar pela menstruação e acabando tendo vários problemas de infecção grave.
Fala um pouco pra gente sobre políticas públicas que podem ser feitas pra diminuir essa desigualdade menstrual que vão pra além da individualização do problema.
*mulheres presas
Considerem apoiar esse trabalho, produzir conteúdo independente no Brasil de 2022 é tarefa árdua e pouco valorizada. Sabemos que a situação de geral está mega complicada, então, se isso for possível, mesmo com valores pequenos, não deixe de nos apoiar.
A partir de 5 reais mensais vocês podem apoiar através da Orelo, que remunera melhor seus produtores com uma porcentagem maior dos apoios e por play. Com esse apoio, vocês tem o acesso a um episódio exclusivo por mês, tudo pelo app!
Para valores maiores ou menores que os disponíveis na Orelo, vocês podem apoiar através do Apoia-se, todo mês enviamos nossa newsletter especial no seu email e fazemos um sorteio para apoiadores do apoia-se e da Orelo!
Se quiser fazer uma contribuição pontual pra gente pode mandar um pix para: outrasmamas@gmail.com
E se não conseguir agora contribuir financeiramente, ouvir (pela Orelo), compartilhar nas suas redes, comentar nos posts do Instagram, seguir a gente nas outras redes (twitter, tiktok). Tudo isso, já ajuda demais!
Obrigada e até o próximo episódio!
Beijos,
Babi ❤
